[Archport] Modelo de gestão do futuro Museu do Côa continua por definir

["Alexandre Monteiro" <no.arame@gmail.com>]

Modelo de gestão do futuro Museu do Côa continua por definir

Público, 16.09.2008, por António Garcias


Com inauguração prevista para 2009, os autarcas da região querem
participação de privados, mas Igespar quer garantias de qualidade e
segurança dos parceiros


Emílio Mesquita, presidente da Câmara de Foz Côa e da Associação de
Municípios do Vale do Côa, diz que se não for alterado o modelo de
gestão do Parque Arqueológico (PAVC) e do futuro museu, a inaugurar em
2009, será "uma desgraça" para a região, pois afirma ser "
inaceitável" que apenas 15 mil visitantes possam anualmente visitar as
gravuras.

"Queremos ter uma palavra a dizer. Pretendemos que mais gente venha
visitar a região." "Não faz sentido ter desistido de fazer uma grande
barragem para defender um valiosíssimo património cultural, e agora
não o podermos partilhar com os milhares de pessoas que o querem
visitar e são impossibilitados de o fazer por manifesta incapacidade
deste modelo de gestão", defende o autarca.
Emílio Mesquita considera que o Estado não tem "vocação" para gerir,
dentro deste modelo, a parte económica. O autarca defende um modelo
que se divida em várias vertentes. Tudo o que tenha a ver com
investigação, aspectos culturais, educativos e formativos (cursos de
arqueologia ou formação de guias e acompanhantes), deverá ser da
responsabilidade do Estado, directa ou indirectamente, através do PAVC
e de parcerias com universidades ou museus. Já no que concerne à
gestão da parte económica e de aproveitamento turístico, Mesquita
frisa que "é crucial e decisivo" que seja entregue a privados com
vocação para rentabilizar os investimentos.

Sem promoção

A directora do PAVC, Alexandra Lima, confirma a "incapacidade" para
satisfazer os pedidos para visitar as gravuras. Aliás, o PAVC deixou
de fazer qualquer tipo de promoção publicitária, visto não ser capaz
de dar resposta às muitas solicitações. "Com apenas dez guias e 11
jipes, dois centros de recepção, um na Muxagata e outro em Castelo
Melhor, além da sede do parque, é impossível levar toda a gente que
quer ver as gravuras", confessa.

Da parte do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico (Igespar), e segundo o seu subdirector, João Pedro
Ribeiro, há uma total abertura para escutar e atender as pretensões
das populações. "Temos que ter com as autoridades locais uma relação
de políticas concertadas, pois estas riquezas culturais e
paisagísticas encontram-se localizadas na área onde habitam e fazem a
sua vida". Defende, pois, um modelo de gestão sustentável e diz que o
Igespar estuda as possibilidades: "Se aparecerem entidades privadas
mais bem preparadas para oferecer programas de visitas, tanto em
termos técnicos, como de segurança na salvaguarda do património
cultural, paisagístico e humano, não teremos qualquer dúvida em apoiar
essa iniciativas".

Obra contemporânea

A inauguração do Museu do Côa, que será o segundo maior museu (em
área) de Portugal a seguir ao Museu Nacional de Arte Antiga, em
Lisboa, está prevista para o início de 2009. O custo total da obra,
iniciada em Janeiro de 2007, ronda os 18 milhões de euros. O projecto
da autoria de dois jovens arquitectos portuenses, Pedro Pimentel e
Camilo Rebelo, foi considerado pelo júri do concurso como uma "solução
arquitectónica extraordinária, carismática e contemporânea", e que
acrescenta uma "mais-valia à paisagem".
A forma assemelha-se a uma enorme pedra de xisto. A técnica usada,
através de moldes de silicone para dar ao betão uma textura e cor
idêntica ao suporte rochoso escolhido no Paleolítico para o registo
das gravuras, foi a mesma já usada pelo PAVC para construir réplicas
arqueológicas.