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[Archport] carta aberta à comunidade arqueológica e de valorização do património.

To :   Archport <archport@ci.uc.pt>, museum@ci.uc.pt
Subject :   [Archport] carta aberta à comunidade arqueológica e de valorização do património.
From :   "Guida Casella" <guidacasella@gmail.com>
Date :   Thu, 2 Oct 2008 14:54:24 +0100

carta aberta à comunidade arqueológica e de valorização do património.

 

Acredito que a matéria prima do meu trabalho é o património móvel português, e a minha missão é fazer chegar ao público o interesse e apreço pela nossa cultura, atravéz de imagens que facilitem a compreensão de complexos conceitos.

Trabalho sobretudo para fins didácticos e informativos, atravéz de imagens apelativas, procurando incessantemente o útile dulci, dos desenhadores cientificos do séc.XIX.

Sou ávida coleccionadora de produtos editoriais ilustrados relacionados com o património, e acredito que este tipo de produtos tem cada vez mais procura por parte de uma população cada vez mais interessada em turismo cultural.

O meu publico alvo em publicações "extra-relatório-de-arqueologia", é um publico literado visualmente, mas não eclético. Quero fazer chegar o património às pessoas, para que encontrem tanto prazer na sua fruição visual como eu a vejo. E para que assim o possam respeitar e valorizar, assim respeitando-se e valorizando-se a eles próprios.

Num momento em que a auto estima nacional se encontra um tanto ou quanto baralhada com a sensação de pertencer a uma sociedade global, mas erráticamente complexada em relação a valorizar o que temos, em virtude de uma reacção aos tempos da ditadura, penso que é a altura propicia para trabalhar esta auto estima.

Estou certa de que qualquer empenho na produção de produtos culturais portugueses,  trará beneficios a médio e longo prazo. Uma população que estime o que tem de bom e que se apoie mutuamente, vai certamente trabalhar todos os dias mais satisfeita e vai fazer o país avançar positivamente. Creio que podemos em conjunto dar um salto qualitativo e quiçá espantar pela positiva os nossos parceiros internacionais.

Não sou pioneira neste movimento. Milhares de blogs, serviços educativos, jornais regionais comprovam que o gosto pelo que temos é generalizado. Apenas há alguma timidez em assumir mais assertivamente esta necessidade imperativa de pôr em prática tantissimos projectos pessoais que todos temos 'na gaveta'.

Creio que tempos brilhantes se avizinham, ao contrário do que se espalha nos media acerca da crise. (Crise era no tempo dos nossos avós, em que dormiam 10 filhos no quarto dos pais, e comiam todos os dias a mesma ementa, e não me vou alongar neste ponto.)

Sempre preferi ser optimista. Se puder contribuir para entusiasmar outros nesta viagem, melhor para ambos.

Frequentemente contactada por ex-alunos, colegas de profissão, e afeiçoados pelo desenho arqueológico, no sentido de saber se tenho possibilidade de contratar ajudantes na minha empresa de Ilustração Arqueológica, lamento não ter estrutura empresarial para o poder fazer.

Trabalho de modo empreendedor, mas ainda não empresarial.

Finalmente, quero deixar uma palavra de incentivo  aos mais jovens membros desta comunidade, um apelo, ou um desafio, a terem em mira o que idealizaram ao escolher arqueologia, e a avançar para aí criativamente e com genica. Não esperarem um lugar certo e sedentário do modelo de antigamente. Os tempos mudam e nós temos de nos adaptar. E nunca subestimar a capacidade de adaptação do ser humano. Temos de ser como a água, que adquire a forma do recipiente no qual se encontra. Quem ficar rígido não encaixará.

Candidaturas espontâneas, projectos de self-publishing e iniciativas locais, realojado-se fora dos grandes centros, pode ser uma via. Há uma carência crassa de publicações generalistas e merchandizing de qualidade nas lojas dos nossos museus (ainda não consegui perceber a razão de tal falta de investimento).Algo que fique entre a monografia de 50€ e o folheto fotocopiado com a planta do museu a 1€. Algo intermédio, que o consumidor não resista a adquirir como souvenir, ou aide-memoire da sua experiencia estética, filosófica, ou histórica do sitio...E não se importe de levar por 3€, 5€, 10€...

No meio é que está a virtude, e há um espaço por preencher. À espera de ser preenchido.

São preciso lugares visitáveis, musealizados ou não, são precisos  conteúdos escritos, e para tal existem milhares de formas de o fazer, diversos estilos. E são precisas imagens. Absolutamente precisas imagens. Uma imagem vale mil palavras. É preciso o produto estar impresso, e acessível em pontos de venda. Existem actualmente possibilidades de print-on-demand (impressão sob encomenda, em que não é necessário fazer edições de milhares de exemplares), de self-publishing (publicação independente, ilustradores independentes fazem-no, exº (http://www.imprensacanalha.blogspot.com/  ou http://www.serrote.com/  ), de impressão digital (ao exemplo dos serviços de empresas como www.lulu.com) , de impressão serigráfica, ou gravura.

O mercado de turismo cultural está de boa saúde e a melhorar. Precisa de ser alimentado.

E de facto fazer coisas. Publicar. Colocá-las na esfera pública a ver se vingam por si ou talvez não.

Para a arqueologia chegar à comunidade é preciso contar histórias.

Não deixemos que nos tratem como alguem que se interessa por coisas velhas que já não interessam a ninguem.  Eu penso que a arqueologia está viva e há de viver nas imagens estampadas que foi onde nós todos tomámos contacto pela primeira vez com estes mundos passados.

Quem não tem uma história para contar? Todos temos.

 

Guida Casella, ilustradora cientifica da vida e cultura portuguesa, tem trabalhado na área da ilustração de arqueologia e divulgação de património.

Nota: Este texto começou por ser um mission statement / instrumento de auto-análise do meu atelier, acabando por me parecer de utilidade como carta aberta para motivar alguns membros da lista que por vezes não veem claro o caminho a percorrer, na área da arqueologia. Pareceu-me que a Listserv Archport e a Museum podia ser um bom sitio para a carta habitar.









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