[Archport] BPN: "Colecção egípcia" que Oliveira e Costa comprou por 5ME "é falsa"
BPN: "Colecção egípcia" que Oliveira e Costa comprou por 5ME "é falsa"
- director Museu Nacional de Arqueologia (notícias sapo.pt)
*** Por Filipe Alves e Nuno Vinha ***
Lisboa, 10 Jan (Lusa) - A colecção de arte 'egípcia' que o BPN comprou
por 5 milhões de euros integra peças falsas e outras de antenticidade
muito duvidosa, disse à Lusa o director do Museu Nacional de
Arqueologia, Luís Raposo.
"O que lhe posso dizer, através dos contactos que fiz e das
fotografias que vi dessa colecção, e sobretudo do relatório da
conservadora do Museu Nacional de Arqueologia que encarreguei de
estudar o assunto, é que tenho a convicção absoluta e noutros casos a
certeza, de que são peças na maior parte falsas, não são autênticas",
afirmou à Lusa Luís Raposo.
A colecção, que foi comprada pelo BPN durante a presidência de
Oliveira e Costa (actualmente detido) e que tem sido descrita na
imprensa como "egípcia", integra os activos classificados como
"extravagantes" pelo actual presidente da SLN, Miguel Cadilhe, sendo
composta por várias dezenas de peças trabalhadas em ouro que
alegadamente remontam à Idade do Cobre (calcolítico) e por estatuetas
em pedra que representam a deusa da fertilidade.
"É o facto de dizerem que foram encontradas em território nacional que
transporta da presunção de falsidade para a certeza absoluta de
falsidade. É totalmente impossível encontrar este tipo de peças em
território nacional", afirmou Luís Raposo, que é arqueólogo
especializado no período pré-histórico.
A intervenção do Museu Nacional de Arqueologia teve lugar em 2005, a
pedido do Instituto Português de Museus (IPM), numa altura em que as
peças já se encontravam na posse do BPN mas em que a venda não estava
ainda concluída.
"Por não haver registo nem memória deste tipo descoberta em Portugal,
a comunidade arqueológica interroga-se sobre a sua proveniência e
nalguns casos mesmo, sobre a sua autenticidade", disse à agência Lusa
o presidente do IPM, Manuel Bairrão Oleiro, que teve conhecimento da
existência da colecção em 2005, por iniciativa de Manuel Castro Nunes,
o arqueólogo que avaliou as peças e intermediou a venda das mesmas ao
BPN.
Fonte policial disse também à Lusa que "existem muitas dúvidas" a
respeito da autenticidade da dita colecção que o BPN comprou a um
coleccionador privado português entre 2004 e 2006.
A mesma fonte assegurou que, apesar das dúvidas, não está a decorrer
qualquer investigação a respeito deste negócio, uma vez que para tal
seria necessária a apresentação de uma queixa formal por parte dos
eventuais lesados (neste caso, o grupo Sociedade Lusa de Negócios/BPN).
"A Polícia Judiciária não pode ir atrás de todas as suspeitas que
ouve", concluiu o responsável.
O próprio BPN manifestou dúvidas a respeito da autenticidade das
peças, um ano depois de as comprar, admitiu à Lusa Manuel Castro
Nunes, o arqueólogo que serviu de avaliador e de intermediário no
negócio.
O especialista, que mostrou à Lusa fotografias da colecção em causa,
atribuiu essas dúvidas a uma manobra de Oliveira e Costa para não
pagar o valor inicialmente acordado pelas peças.
Manuel Castro Nunes garante que a colecção, que tem sido referida na
imprensa como sendo de origem "egípcia", é composta por peças ibéricas
da Idade do Cobre, bem como alguns artefactos de origem fenícia e grega.
Entre as peças encontram-se várias máscaras funerárias trabalhadas em
ouro, que pela sua raridade (nunca foram encontrados exemplares destes
na Península Ibérica) prometem "revolucionar a Arqueologia portuguesa"
e colocar Portugal "à frente na Arqueologia durante os próximos 50
anos", afirmou.
Foi com base no trabalho deste único arqueólogo, que além de mediar o
negócio foi responsável pela certificação, datação e avaliação da
colecção, que o BPN avançou para a compra.
A colecção integra um conjunto de activos que a Sociedade Lusa de
Negócios (proprietária do BPN até à sua recente nacionalização) poderá
alienar no âmbito de um plano de recuperação posto em prática pela
actual administração presidida por Miguel Cadilhe.
O actual presidente da SLN anunciou em Setembro que o valor da
colecção ronda os 5,6 milhões de euros.
Contactada pela Lusa, fonte oficial da SLN confirmou a existência de
uma colecção de antiguidades (que é conhecida no interior do grupo
como "Colecção da Deusa"), garantindo que a mesma, ao contrário do que
foi noticiado, não foi entregue à Caixa Geral de Depósitos como penhor
de um empréstimo contraído antes da nacionalização.
A Lusa tentou ainda obter esclarecimentos de fonte oficial do BPN, que
agora pertence ao Estado, sobre as dúvidas quanto à autenticidade (e
consequentemente quanto ao valor) das peças, mas não obteve resposta.
O antigo presidente do grupo SLN/BPN, José de Oliveira e Costa,
encontra-se detido em prisão preventiva, tendo sido constituído
arguido por suspeitas de burla e branqueamento de capitais, entre
outros crimes.
António Correia
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