[Archport] BPN: Peças "egípcias" não foram vendidas a Joe Berardo porque insistiu em avaliar peças no estrangeiro (expresso online)
BPN: Peças "egípcias" não foram vendidas a Joe Berardo porque insistiu
em avaliar peças no estrangeiro
Lisboa, 09 Jan (Lusa) - A colecção "egípcia" que o BPN comprou chegou
a ser oferecida a Joe Berardo, em 2004, mas o negócio falhou porque o
empresário queria avaliar as peças no estrangeiro e o vendedor nunca
as deixou sair do país.
Lisboa, 09 Jan (Lusa) - A colecção "egípcia" que o BPN comprou chegou
a ser oferecida a Joe Berardo, em 2004, mas o negócio falhou porque o
empresário queria avaliar as peças no estrangeiro e o vendedor nunca
as deixou sair do país.
"O Sr. Berardo queria levar as peças para Paris, para fazer a
avaliação. Mas nós não quisemos que saíssem do país, porque existem
meios em Portugal para fazer o processo de certificação e avaliação",
afirmou à Lusa o arqueólogo Manuel Castro Nunes, que foi incumbido
pelo proprietário da colecção de fazer a avaliação e de mediar a venda
das mesmas.
Para sair do país, qualquer peça arqueológica encontrada em Portugal
necessita de uma autorização temporária concedida pelo Instituto
Português de Museus.
De acordo com o arqueólogo, o negócio com Berardo não se concretizou,
tendo de seguida o Banco Português de Negócios (BPN), então liderado
por José de Oliveira e Costa, manifestado interesse pela colecção, a
qual adquiriu por 5 milhões de euros, entre 2004 e 2006.
Questionado pela agência Lusa, Joe Berardo, que além de empresário, é
um dos maiores coleccionadores de arte portugueses - sendo
proprietário da Colecção Berardo, actualmente exposta no Centro
Cultural de Belém -, confirmou que na altura lhe foi proposta a venda
das peças por parte de um coleccionador nacional.
"Achei as peças interessantes e entrei em contacto com especialistas
franceses para fazerem a avaliação", afirmou à Lusa o empresário
madeirense.
"Mas depois o negócio não foi em frente, porque houve outra proposta",
disse ainda o investidor, acrescentando que desconhece se a colecção é
genuína ou não e que considera que "ninguém em Portugal pode
certificar que as peças são verdadeiras".
"Não tenho conhecimentos para dizer que essa colecção é autêntica ou
não. Até mesmo para a arte contemporânea preciso da ajuda de
especialistas antes de comprar uma obra", acrescentou Joe Berardo.
Segundo Manuel Castro Nunes, antes das negociações com Joe Berardo, as
peças foram apresentadas a João Ernesto Estrada, presidente da
Fundação Ernesto Estrada, que possui uma das maiores colecções de
antiguidades nacionais.
Contactado pela Lusa, João Estrada confirmou os contactos e disse que
apenas não comprou as peças porque o vendedor "pedia mais do que
estava disposto a pagar".
A colecção, que integra o conjunto de activos que foram classificados
como "extravagantes" pelo actual presidente da Sociedade Lusa de
Negócios, Miguel Cadilhe, é composta por várias dezenas de peças
trabalhadas em ouro que alegadamente remontam à Idade do Cobre
(calcolítico) e por estatuetas em pedra que representam a deusa da
fertilidade.
Luís Raposo, director do Museu Nacional de Arqueologia, que analisou
as peças em 2005, disse à Lusa que muitas delas são falsas e outras
levantam as maiores dúvidas quanto à autenticidade. O BPN comprou esta
"colecção de arte 'egípcia'" por cinco milhões de euros, durante a
presidência de José de Oliveira e Costa.
"O que lhe posso dizer, através dos contactos que fiz e das
fotografias que vi dessa colecção, e sobretudo do relatório da
conservadora do Museu Nacional de Arqueologia que encarreguei de
estudar o assunto, é que tenho a convicção absoluta e noutros casos a
certeza, de que são peças na maior parte falsas, não são autênticas",
afirmou Luís Raposo.
Já o arqueólogo Manuel Castro Nunes garante que a colecção, que tem
sido referida na imprensa como sendo de origem "egípcia", é composta
por peças ibéricas da Idade do Cobre, bem como alguns artefactos de
origem fenícia e grega.
Entre as peças encontram-se várias máscaras funerárias trabalhadas em
ouro, que pela sua raridade (nunca foram encontrados exemplares destes
na Península Ibérica) prometem "revolucionar a Arqueologia portuguesa"
e colocar Portugal "à frente na Arqueologia durante os próximos 50
anos", afirmou.
Foi com base no trabalho deste único arqueólogo, que além de mediar o
negócio foi responsável pela certificação, datação e avaliação da
colecção, que o BPN avançou para a compra.
António Correia
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