[Archport] O destino (marca a hora) do Museu Nacional de Arqueologia
"Destino do Museu de Arqueologia em estudo"
O Museu Nacional de Arqueologia (MNA) poderá sair dos Jerónimos e ser instalado na Cordoaria Nacional, em Lisboa. Esta mudança, anunciada ontem pela Rádio Renascença, estaria associada a outra já decidida - a do Museu dos Coches, que passará das velhas cavalariças do Palácio de Belém para um novo edifício na Avenida da Índia, projectado pelo arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha -, e a um acordo de permuta de espaços entre os ministérios da Cultura (MC) e da Defesa. Este trocaria as instalações da Cordoaria pela ala dos Jerónimos que agora acolhe o MNA, para aí poder fazer a ampliação do Museu da Marinha.
Rui Peças, assessor do MC, negou ontem ao PÚBLICO que esteja já decidida qualquer mudança. "Estão a decorrer negociações para se encontrarem as melhores soluções" para as partes envolvidas, adiantou, justificando com a necessidade de reinstalar alguns serviços do Igespar que actualmente ocupam o espaço onde vai ser construído o novo Museu dos Coches.
Luís Raposo, director do MNA - fundado em 1893, instalado nos Jerónimos desde 1906 e o segundo museu mais visitado da rede nacional -, também não confirma a mudança para a Cordoaria. "Foi-me comunicado, em Dezembro, pelo MC, um cenário de alterações, ao qual respondi através de um memorando interno", limitou-se a dizer Luís Raposo, que, no entanto, chamou a atenção para a relevância histórica e patrimonial do museu que dirige. S.C.A. "
(Público 16.01.2009)
Apesar das negas do Ministério, sabemos que é assim que tudo começa... O mal é quando as notícias, mesmo pressurosa ou desenvergonhadamente desmentidas, começam a surgir. É o primeiro passo da velha e totalitária "estratégia da aranha", a que sempre voltam os aprendizes de feiticeiros que pululam à volta do poder.
A cedência pelo Ministério da Cultura à (velha) chantagem da Marinha, sem contrapartidas objectivas, que temos quase a certeza, nemhum Governo estará em condições de garantir nos anos mais próximos, será a machadada final, na política de salvaguarda do património arqueológico, laboriosamente construída ao longo do último quartel do Século XX e cujo (relativo) sucesso, se baseou precisamente numa estratégia cumulativa, de pequenos e sucessivos passos, nunca renegando o passado, em nome de saltos no desconhecido, ou no abismo...
Com a desagregação progressiva das estruturas herdadas do IPA (desmanteladas e há espera de destino incerto numa "Cordoaria" profundamente degradada...) o Museu Nacional de Arqueologia, representa afinal o último "elo" estável, ao nível da Administração Central, com um passado que (c'os diabos!) na nossa disciplina tem de ser uma referência obrigatória. Afinal não curamos nós da "memória", através da preservação dos seus vestígios materiais?
Se quem dicide sobre a necessidade de um novo Museu dos Coches é o Minsitério da Economia! Se, uma insituição mais que centenária, está à mercê dos caprichos herdados de um Almirante corta-fitas de má memória, para quê um Ministério da Cultura, como há tempos perguntava o Presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses?
Venda-se o património que possa dar dinheiro, (a começar pelo Palácio da Ajuda), em hasta pública, a exemplo do que se fez no Século XIX com os bens da Igreja ou ceda-se por "ajuste directo" aos amigos Pestana e companhia (a legislação, pelos vistos já está a ser cozinhada...) e entregue-se o "bric a brac" às autarquias...O que se poupar com o Ministério da Cultura, sempre dará para mais um quilómetro do TGV. Chegará?
A C Silva