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Re: [Archport] M.N.A. e Marinha

To :   filipe castro <fvcastro@hotmail.com>
Subject :   Re: [Archport] M.N.A. e Marinha
From :   Rui Boaventura <boaventura.rui@gmail.com>
Date :   Sat, 17 Jan 2009 13:58:39 +0000

Bom, parece de facto um facto consumado a transferência do MNA para outro sítio. Pelo menos ontem à noite numa entrevista com o ministro da Defesa, este considerou que a ampliação do Museu de Marinha para ala do MNA "será" uma mais valia para aquele. Mas voltámos à ditadura militar? O Ministério da Cultura servirá para alguma coisa neste momento, se não baixar-se à vontade dos Ministérios da Economia e da Defesa?

Na tutela do Ministério da Defesa encontram-se muitos monumentos nacionais. Por experiência profissional, vejo diariamente a forma feudal como o Ministério da Defesa trata o Mosteiro de São Dinis em Odivelas. Quem o quiser visitar tem de marcar com antecedência, esperar que a resposta seja positiva e estar sujeito aos humores da sua Directora no dia da visita, pois esta por vezes é cancelada na hora, e tudo a coberto dos militares. E entretanto, os cidadãos e os munícipes de Odivelas e de Portugal estão reféns destes poderzinhos...  Este é o tal edifício que em DR seria a sede da Direcção Regional de Cultura de Lx e Vale do Tejo - seria, porque parece que já não será...

Com a aproximação das eleições, enquanto socialista convicto, não posso deixar de apelar ao não-voto no PS - a sua governação nacional da Cultura (só para me restringir a um aspecto, entre outros muito maus!) é miserável e incompetente. Mas quando a Educação está na deriva total e se espera para morrer nos corredores dos hospitais, percebe-se o caos mental dos governantes. E não me digam que a culpa é da crise mundial. Em Portugal esta incompetência e desvario mental vem de trás.
 
Rui



2009/1/16 Rui Boaventura <boaventura.rui@gmail.com>
Caro, Filipe

Não vou discutir a questão da transferência, pois não é para mim o busilis da coisa neste momento.
Eu sei que o Texas também está a passar um mau bocado com a crise que grassa.  Por isso poderá imaginar a CRISE neste quintal à beira mar plantado - CRISE FINANCEIRA E DE MASSA CINZENTA. Tem noção dos custos envolvidos numa operação de transferência do acervo do MNA e das obras imensas de adaptação da Cordoaria? Onde também se quer juntar o famigerado IPA e CNANS? E tudo a querer fazer-se para ontem por governantes mentecaptos? Sem querer ofender os nossos primos primatas, Portugal é pior do que uma república das bananas, pois os primatas ainda sabem tirar proveito do fruto. Por cá alguns iluminados esbirros partidários estão a vender Portugal em saldo, e o espirítio salazarento que infelizmente ainda grassa na sociedade portuguesa condiciona os cidadãos a não querer ver e a reclamar nas mesas de café.

Rui

2009/1/16 filipe castro <fvcastro@hotmail.com>
Não faço ideia de como se fizeram as negociações, mas acho a ampliação do Museu de Marinha (que é o museu mais visitado do país) uma ideia formidável, e acho que o MNA devia ter mais espaço e uma exposição permanente.  Se calhar a Cordoaria é um edifício excelente para o MNA.


Como o turismo é uma indústria importantíssima para Portugal, sempre me fez confusão que os nossos museus (e os da América Latina) tendam a ser um bocado silenciosos demais, graves, escuros, sorumbáticos, com guardas a reprimirem as criancinhas que não mostram respeito pelos quadros, anúncios nas paredes com ameaças terríveis a quem tirar uma fotografia, um ambiente seríssimo, os funcionários a olharem-nos de alto a baixo, como dizia o Umberto Eco, certamente a pensarem que se são onze da manhã e nós não estamos a trabalhar é porque devemos ser delinquentes e estamos ali para roubar ou mutilar as obras de arte... 

O Museu de Marinha é uma festa, sempre com miúdos, os funcionários simpáticos e prestáveis, pode-se tirar fotografias.  Quase nunca vou a Portugal sem ir ao Museu de Marinha.  Os meus filhos adoram.  Uma ala nova no Museu de Marinha, com uma parte dedicada à arqueologia naval, parece-me que seria uma coisa fantástica. 

Sobretudo porque acho que a Marinha está cheia de pessoas empenhadas e competentes (a equipa do Museu de Marinha é excelente) e parece-me que era bom para Portugal que volta e meia se baralhassem e dividissem poderes e competências. 

Como dizia Edward Abbey: "Society is like a stew. If you don't keep it stirred up, you get a lot of scum on top."

Estou convencido que um dos problemas da imobilidade e da cultura autoritária dos serviços do Ministério da Cultura de que me queixo, às vezes, aqui, é que com a continuidade pachorrenta do dia a dia se vão formando mandarinatos aqui e ali, e as pessoas, sem serem estimuladas nem controladas, adormecem no serviço, ou desatam a tratar os museus e os serviços (e as bibliotecas) como se fossem deles. 

Estas ideias: mudar museus, dividir competências, etc., podem ser estimulantes e levar os responsáveis a terem de justificar a "situação".  Lembram-se?  Dantes, quem não era da "situação" era do "contra"...

(se calhar devia dar a esta mensagem um título trotskista, estílo "Revolução Permanente!"  :o)

Mas acham mesmo uma ideia assim tão má ampliar o Museu de Marinha?

Filipe Castro
Texas 





Date: Fri, 16 Jan 2009 05:30:13 -0800
From: vgmantas@yahoo.com
To: archport@ci.uc.pt
Subject: [Archport] M.N.A. e Marinha


Caros Archportianos
 
No momento em que se esvaiem rapidamente as ilusões do "poder da Arqueologia", não posso deixar de lamentar a forma como o Dr. António Carlos Silva se refere à Marinha. Julgo que a Archport se deve orientar por uma linha de equilíbrio e de comedida linguagem, o que, infelizmente, não vai sendo o caso. Chantagens e Almirantes corta-fitas são expressões que exigem uma explicação clara, uma vez que se destinam a quem, na maioria dos casos, não conhece bem as situações. Se alguém deve tomar uma posição nesta questão é, antes de todos, o Dr. Luís Raposo, figura que todos respeitamos e que tem justificado plenamente o cargo que desempenha enquanto Director do MNA.
Como o Dr. António Carlos Silva sabe, colocou-se a hipótese da construção de um novo Museu por altura da edificação do CCB, contra o que se levantaram vozes de peso na Museologia e Arqueologia portuguesas da época.
É evidente que a Arqueologia está em crise, o que é natural num País doente como é o nosso, o que se presta a discussões inúteis e a protagonismos dispensáveis. Cordialmente
                                             Vasco Gil Mantas (Academia de Marinha)
 
 



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