[Archport] Necrópole medieval de Tomar das maiores da Europa
Necrópole medieval de Tomar das maiores da Europa
As escavações que decorrem junto à Igreja de Santa Maria do Olival, em
Tomar, deram a conhecer a que será a maior necrópole da Europa, em
número de enterramentos (3.400) e em área, disseram os arqueólogos que
acompanham a obra
Arlete Castanheira, responsável da Geoarque Lda., empresa contratada
pelo consórcio MRG Lena/Abrantina, que ganhou a empreitada da
construção da ponte do Flecheiro e arranjo da zona envolvente, um dos
projectos inseridos no programa Polis de Tomar, disse à agência Lusa
que, apesar de saberem, desde o início, que existia uma necrópole no
local, ninguém «previa que fosse desta dimensão».
Desde o início dos trabalhos, em Novembro de 2007, foram encontrados
cerca de 3.400 enterramentos, sendo que 40 por cento das sepulturas
têm ainda ossários associados, afirmou à Lusa Elizabete Pereira,
directora da escavação.
Pelo espólio encontrado junto às sepulturas - moedas, cerâmica,
alfinetes para atar as mortalhas, pregos, contas, terços e alguns
brincos e anéis -, pensa estar-se perante uma necrópole moderna, com
enterramentos feitos entre os séculos XIII e XVI, disse a arqueóloga,
sublinhando que esta é uma escavação «com grande complexidade», uma
vez que vários enterramentos aparecem sobrepostos.
«Trata-se da maior necrópole da Europa em número de indivíduos e em
área», disse Arlete Castanheira, adiantando que as duas fases da
escavação abrangem uma área total de 6.500 metros quadrados.
Todo o espólio osteológico recolhido está a ser encaminhado para a
Universidade de Évora, que reúne condições para o manter em reserva,
estando o espólio material à guarda do Instituto de Gestão do
Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), adiantou.
A fase actual da escavação está a atingir um nível de vestígios
romanos, tendo sido encontrada cerâmica fina e vidro, bem como algumas
estruturas de divisões de pouca dimensão e fornos que poderiam
destinar-se à cozedura da cerâmica, disse Elizabete Pereira.
«Dá para saber que a área foi usada no período romano e depois como
necrópole na Idade Média», disse.
Nas proximidades da igreja foram encontradas várias sepulturas
estruturadas, que não foi possível associar a um estatuto social pois
não apareceu espólio que sustente essa hipótese, afirmou Sérgio
Pereira, também director de escavação.
Além dos relatórios mensais que vão dando conta do desenrolar dos
trabalhos, a equipa de arqueólogos no terreno produzirá, quando
terminar a intervenção, prevista para o final de Fevereiro, um
relatório final, científico, já com o estudo dos materiais encontrados.
«Só desta segunda fase, iniciada em Março de 2008, temos cerca de
5.000 desenhos», disse Arlete Castanheira, frisando Sérgio Pereira,
que para cada indivíduo encontrado é elaborada uma ficha individual.
O presidente da Câmara Municipal de Tomar, Corvêlo de Sousa, disse à
Lusa que a autarquia está a estudar a possibilidade de publicar os
resultados finais da escavação no seu boletim municipal, bem como a
realização de conferências e de uma exposição temporária com o espólio
material encontrado e as duas sepulturas estruturadas removidas já com
o objectivo de virem a ser expostas noutro local.
Segundo disse, a possibilidade da musealização in situ de alguns dos
achados, em particular de um conjunto de sepulturas estruturadas, não
recebeu parecer favorável do IGESPAR, pelo que, eventualmente, será
colocado no local um painel com informação sobre os trabalhos
realizados.
Supõe-se que a actual igreja de Santa Maria do Olival remonte a meados
do século XIII, tendo sido edificada no local onde teria existido um
convento beneditino, mandado construir por São Frutuoso, arcebispo de
Braga, no século VII.
O templo serviu de panteão à maior parte dos mestres templários e aos
primeiros da Ordem de Cristo, dependendo, no tempo dos Templários,
directamente da Santa Sé, não integrando por isso nenhuma diocese.
Por bula papal de 1455 foi matriz de todas as igrejas dos territórios
descobertos.
Lusa/SOL