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[Archport] Museu Nacional de Arqueologia

To :   archport <archport@ci.uc.pt>, Museum <Museum@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] Museu Nacional de Arqueologia
From :   jarnaud@sapo.pt
Date :   Sat, 14 Feb 2009 00:54:45 +0000


Caros Arqueólogos e Museólogos:

Temos que unir todos os nossos esforços no sentido de evitar mais uma decisão avulsa, que constitui, em meu entender, um grave atentado ao património arqueológico e museológico ! Com efeito, é completamente inaceitável que a pretexto de resolver problemas que o próprio governo criou, à revelia de toda a comunidade arqueológica e museológica, como foi a desastrosa e escandalosa extinção do IPA, criado há apenas uma década por um governo do partido socialista, e o seu desmantelamento para aí criar um novo museu dos coches, que ninguém pediu, o governo se proponha agora, a pretexto de realojar os serviço que extinguiu, por em causa a mais importante e prestigiada instituição de referência da Arqueologia portuguesa , o Museu Nacional de Arqueologia, o 2º mais visitado do país, a seguir ao Museu dos Coches, precisamente no momento em que acaba de comemorar, com uma notável série de iniciativas, os 150 anos do seu fundador, José Leite de Vasconcelos, o mais destacado e produtivo sábio do século XIX e XX, no domínio da Arqueologia, Etnografia, Linguística, e ciências afins.

É evidente que as actuais instalações do MNA não serão as ideais, e continua a não haver espaço suficiente para manter a exposição permanente e as exposições temporárias. Por isso mesmo não se compreende que o projecto de ampliação do MNA tenha sido rejeitado pelo IGESPAR, decerto devido à pressão da Marinha, que pretende, desde os tempos do famigerado almirante Tomás, tomar conta de todo o edifício dos Jerónimos, onde há anos cometeu um grave e impune crime de lesa património, ao construir um edifício de betão, sem qualquer qualidade arquitectónica, mesmo encostado ao claustro, afectando assim gravemente um monumento classificado como Património da Humanidade !

A anunciada transferência do MNA para a Cordoaria afigura-se-me, assim, completamente inaceitável pelas seguintes razões:

1. Constituiria mais um rude golpe na Arqueologia portuguesa, já muito fragilizada pela extinção e desmantelamento do IPA;

2. Implicaria uma enorme perda de visibilidade do segundo mais visitado museu nacional, que passaria do lugar mais nobre da cidade, visitado por milhares de portugueses e estrangeiros, para um local de passagem, desprovido de acessibilidades e de estacionamento;

3. Seria um grave atentado à memória de Leite de Vasconcelos, o mais importante sábio português do século XIX e XX, no domínio das ciências arqueológicas, etnográficas, e linguisticas, cujos 150 anos do nascimento acabam de ser assinalados a nível nacional por uma notável série de iniciativas do MNA, da Sociedade de Geografia, da Academia das Ciências, e de outras prestigiadas instituições.

4. Poria em causa a segurança e a conservação das colecções do MNA, a não ser que se realizassem morosas e dispendiosas obras de adaptação, pois a Cordoaria é um edifício de telha vã, concebido para fins industriais, sem o mínimo de condições para exposição museológica permanente, como ficou bem patente em recentes exposições, como a evocativa do 5º Centenário de S. Francisco Xavier.

5. Não faz qualquer sentido transferir, nos tempos que correm, um museu para instalações que não foram concebidas especificamente para esse fim.

6. O edifício da Cordoaria, embora vasto, dificilmente albergaria a totalidade das colecções do MNA, bem como espaços para a exposição permanente e para exposições temporárias, e ainda a totalidade dos serviços e laboratórios do extinto IPA.

7. A eventual transferência para a Cordoaria, além de inútil e dispendiosa, implicaria o encerramento do MNA por um período de tempo bastante longo, e a inevitável perda de um público e de uma dinâmica que levou anos a construir.

8. O Museu de Marinha, embora inclua no seu acervo algumas peças com interesse para a história naval, não dispõe nem de dinamismo, nem de infraestruturas, serviços e pessoal técnico adequado ao pleno cumprimento das suas funções museológicas, sendo duvidoso que o eventual alargamento do espaço disponível pudesse ser devidamente aproveitado.

9. Se o governo entender que o MNA não se encontra devidamente instalado nos Jerónimos, deverá constituir um grupo de trabalho encarregue de estudar o problema da sua futura instalação, num edifício de raiz, a construir em local próximo, quando a crise passar... com base num programa rigoroso, elaborado por especialistas em arqueologia e museologia, que deverá, como é óbvio, anteceder e servir de base ao projecto de arquitectura, ao contrário do que aconteceu com o futuro museu do Côa.

Como cidadão, dirigente associativo, arqueólogo profissional e museólogo amador, que dedicou mais de 40 anos de vida ao estudo, salvaguarda, e valorização do património, apelo, assim, a todos os colegas e amigos no sentido de se mobilizarem, mais uma vez, em torno de uma batalha que se avizinha dura, mas não impossível de vencer.

José Morais Arnaud


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