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Comparação do
crânio de um homem moderno e outro de
Neandertal | |
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Estudo ajudará a esclarecer a evolução
humana
Rascunho do ADN dos homens de Neandertal está
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12.02.2009
- 20h41 Ana Gerschenfeld
Svante
Pääbo, antropólogo do Instituto Max Planck, sentiu-se sem dúvida muito
feliz, hoje, ao subir ao palco no congresso da Associação Americana para
o Avanço da Ciência, em Chicago, para proferir a sua palestra. Vinha
anunciar oficialmente que tinha conseguido fazer aquilo que ele e os
seus colegas andavam há anos a tentar: ler o genoma dos Neandertais,
esses homens das cavernas que viveram na Europa e partes da Ásia ao
mesmo tempo que os primeiros Homo sapiens sapiens (os nossos
avós) ? e que se extinguiram, ninguém sabe porquê, há 30 mil
anos.
A equipa de Pääbo e a empresa norte-americana 454 Life
Sciences, especialista das técnicas de sequenciação genética, realizaram
uma proeza: a partir de ossos fósseis de Neandertal vindos de uma gruta
na Croácia, sequenciaram milhões de fragmentos de ADN deste humano
ancestral. Para tal, desenvolveram métodos específicos para ter a
certeza de que estavam realmente a sequenciar o genoma dos Neandertais ?
e não o dos microorganismos que colonizaram os ossos, nem o dos próprios
técnicos que faziam a sequenciação. Afinal de contas, os humanos actuais
e os Neandertais têm em comum entre 99,5 e 99,9 por cento do nosso ADN.
Nada mais fácil, portanto, do que confundi-los Um outro feito, não menos
impressionante, foi terem conseguido extrair a sequência de ADN
utilizando menos de meio grama de matéria óssea. Seja como for, o
primeiro ?rascunho? do genoma dos Neandertais ontem apresentado
corresponde a cerca de 60 por cento da totalidade do património genético
dos Neandertais. O trabalho não acabou, mas já revelou
novidades.
Uma delas, disse Pääbo à BBC News, é que, segundo os
resultados preliminares, ?não há razão para não terem falado como nós?.
Os Neandertais tinham a mesma variante que nós de um gene chamado FOXP2,
que está associado à linguagem e à fala ? ao passo que os chimpanzés não
partilham dessa variante do gene.
Mas a questão principal é a de
saber se os Neandertais se terão ou não misturado com os Homo sapiens
sapiens. Será que herdámos genes dos Neandertais que ainda hoje
persistem nas populações humanas? Pääbo responde que não há indicações,
no genoma agora reconstituído, de que tal tenha acontecido. Para isso,
analisaram um outro gene, chamado microcefalina-1, implicado no
desenvolvimento cerebral. Há quem pense que uma variante deste gene,
comum nos europeus, vem dos Neandertais. Mas Pääbo e a sua equipa apenas
encontraram uma forma ancestral desse gene no genoma dos
Neandertais.
A sequenciação deste genoma fóssil deverá ajudar a
identificar as alterações genéticas que permitiram que os humanos
saíssem de África, há 100 mil anos, e se espalhassem pelo mundo. Mas há
um enigma que Pääbo não acredita que vá ser resolvido pelos genes: o da
extinção dos Neandertais. ?Não me parece que tenha sido devido ao seu
genoma,? disse. ?Teve claramente a ver com o ambiente ou com os humanos
modernos.?
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