A notícia acaba de ser posta no Expresso online.
Transferência do Museu de Arqueologia para a Cordoaria acende grande controvérsia
Grupo de Amigos do museu e arqueólogos portugueses não aceitam mudança ditada "por razões de circunstância".
Nair Alexandra
hoje às 16:25
Interior da Sala Egipcía no Museu de Arqueologia em Lisboa
Nuno Botelho
A decisão do ministro da Cultura de transferir o Museu Nacional de Arqueologia (MNA) para a Cordoaria Nacional está a causar forte polémica. Ainda a notícia não estava confirmada e começou a circular na Internet um abaixo-assinado, onde se apelava para a permanência daquela instituição centenária na ala sul do Mosteiro dos Jerónimos.
Na última semana, a decisão foi confirmada pelo próprio tutelar da pasta, José António Pinto Ribeiro, no final de uma audição parlamentar pedida pelo CDS/PP. "O ministro vai ter grande oposição, uma guerra até ao final do mandato", avisa, por seu lado, o presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses, José Morais Arnaud.
E ontem, quinta-feira, o Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia (GAMNA) reuniu-se para tomar medidas sobre o caso. Foi decidido requerer uma audiência urgente a Pinto Ribeiro, tomar uma posição pública sobre o tema e solicitar ainda reuniões com os grupos parlamentares.
É verdade que o museu, instalado na ala sul do Mosteiro dos Jerónimos, sofre há vários anos de problemas de falta de espaço, compartilhando a área oitocentista do mosteiro com o Museu de Marinha, quando este foi aberto em 1962.
Aquele espaço que, como refere Arnaud, constituiu "o eixo da arqueologia portuguesa, e que abriga a memória material do povo português", tem vindo a ser, ao longo dos anos, confrontado com diversas possibilidades para resolver o problema crónico do espaço que o impede de expor uma colecção permanente e de constituir o "Museu do Homem" português, com que sonhava o fundador do MNA, o célebre homem de Letras e da Ciência, José Leite de Vasconcelos.
Entre essas hipóteses esteve a construção de um museu de raiz, a mudança para um edifício histórico devidamente adaptado, a remodelação do museu no seu espaço actual. E, também, a transferência para a Cordoaria (pertencente ao Exército).
Fachada da Cordoaria Nacional, em Lisboa
Luiz Carvalho
Porém, há duas décadas, pareceres técnicos emitidos por entidades reconhecidas na área rejeitaram liminarmente essa última possibilidade, argumentando a falta de condições quer do edifício quer do meio físico onde este se encontra.
A alternativa foi metida na gaveta e desde a década de 1990, quando as circunstâncias financeiras se mostravam desfavoráveis à construção de uma nova sede para o MNA, diversos governantes, a começar pelo antigo ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, decidiram-se pelas obras de remodelação nos Jerónimos. Foram traçados projectos, mas as obras seriam sempre adiadas.
Acontece que a decisão agora tomada pelo ministro da Cultura vem na sequência da criação da nova sede para o Museu dos Coches: esta irá ocupar o local onde se encontram ainda as Oficinas Gerais de Material do Exército, as quais, por sua vez, abrigam o serviços do extinto Instituto Português de Arqueologia (IPA), integrado no IGESPAR.
Esses serviços e bens do IPA (incluindo a biblioteca de mais de 50 mil exemplares e o Centro Nacional de Arqueologia Subaquática) deverão ir para a Cordoaria, ficando algumas peças arqueológicas (embarcações antigas) integradas no Museu da Marinha. E para a Cordoaria deverá ir também o MNA: "Um dano colateral da criação da nova sede do Museu dos Coches", segundo uma fonte ouvida pelo Expresso.
É esta a decisão contestada. Não só porque, como lembra Raquel Henriques da Silva, porta-voz do GAMNA, o "edifício da Cordoaria actualmente não reúne as mínimas condições", mas, sobretudo, porque qualquer alteração respeitante àquele que foi, em 2008, o segundo museu do Ministério da Cultura mais visitado do país - 125.594 mil visitantes - "deve resultar de uma estratégia sobre o Parque dos Museus Nacionais e não depender de circunstâncias conjunturais", afirma Raquel Henriques da Silva, que já foi directora do Instituto Português de Museus (actual Instituto dos Museus e da Conservação).
O Grupo de Amigos considera particularmente grave, ainda, a decisão ministerial de, a curto prazo, serem desanexadas áreas ainda afectas ao Museu Nacional de Arqueologia, como a chamada 'Torre Oca' (muito utilizada para exposições como a que agora decorre, "Expressões do Oriente"): "Isto resulta de má-fé, pois a Torre Oca foi negociada há dez anos no sentido de ficar ligada ao MNA, e como prova das boas relações entre os dois museus que ocupam os Jerónimos", ou seja, Marinha e Arqueologia.
Palavras-chave museu nacional arqueologia, cultura, pinto ribeiro, mosteiro jerónimos, cordoaria
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