Jornadas de Arqueologia em Mação discutem origem do povoamento humano
da América
Eugénia
Cunha, da Universidade de Coimbra, e Niède Guidon, da Fundação Museu do Homem Americano, protagonizaram uma
discussão amplamente participada sobre os novos dados provenientes do Chile,
México e, sobretudo, Brasil, sobre a origem do povoamento das Américas.
As
datações obtidas em contextos como a Serra da Capivara (Brasil) ou Mesa Verde
(Chile) comprovam que a chegada dos primeiros grupos de caçadores à América
ocorreu, pelo menos, há mais de 30 mil anos. Eugénia Cunha sublinhou a
dificuldade que esses grupos teriam em atravessar a pé a Sibéria, a Beríngia
e o Norte da América, que na altura formavam uma gigantesca área gelada e
inóspita.
Apresentou
as hipóteses alternativas, nomeadamente a possível expansão costeira a partir
da Àsia, a hipótese de expansão através do Pacífico Sul e, finalmente, a
expansão através do Atlântico. Esta última foi defendida por Niède Guidon,
com base nos critérios antropométricos, mas também no estudo paleogeográfico
(destacando o facto de a área a navegar, nesse tempo, ser de apenas 500 Km, devido ao
abaixamento do nível das águas em cerca de 130 metros). Referiu a
favor desta tese, também, a corrente do golfo e o facto de os próprios
primatas terem chegado à América, há 18 milhões de anos, por essa via.
Arqueólogos
homenageiam Governo Brasileiro em Mação
Nos últimos anos, as autoridades
brasileiras, a nível Federal e Estadual, têm dado contributos muito
relevantes para a cultura e o património. O reconhecimento da importância do
património imaterial, hoje assumida pela UNESCO, é o exemplo mais marcante,
mas não é a única.
Na legislação brasileira, o
Governo de Lula associou às medidas de acompanhamento arqueológico de
impactes ambientais a obrigação de promover acções de educação patrimonial,
cooperando com as escolas e outras entidades das zonas envolvidas, o que
aumentou de forma muito significativa a cultura patrimonial e científica das
populações. Por outro lado, as medidas públicas com impacte na arqueologia e
no património foram assumidas pelo conjunto dos Ministérios e dos Governos
Estaduais, demonstrando em particular que a arqueologia pode ser um
instrumento essencial nas políticas de desenvolvimento rural, de promoção da
igualdade racial ou de crescimento económico.
Por estas acções, o Instituto
Terra e Memória (associação académica de arqueologia e património sedeada em
Mação, criada pelo Instituto Politécnico de Tomar, pelo Município de Mação e
diversas ONGs) homenageia hoje, 6 de Março, diversas autoridades brasileiras,
conferindo-lhes a qualidade de sócios eméritos. Na mesma ocasião, serão
assinados diversos protocolos de cooperação entre o Brasil e Portugal, em
particular o acordo entre o ITM e o Núcleo de Estudos Negros do Brasil, para
a promoção de projectos de formação avançada e museologia naquele País.
Mação
junta Brasil e UNESCO
Há vários anos que a política da
UNESCO no sector das Humanidades (Arqueologia, Arte, História, Filologia,
Filosofia,…) tem vindo a perder importância. Esta realidade foi
constatada na reunião do Conselho Internacional de Filosofia e Ciências
Humanas da UNESCO, que se reuniu em Novembro de 2008 na África do Sul e no
qual participou Luiz Oosterbeek, representante da arqueologia naquele
Conselho e Professor do Instituto Politécnico de Tomar.
Esta realidade está prestes a
mudar, graças à intervenção de países como o Brasil ou o Mali, que irão
propor na próxima assembleia-geral da UNESCO uma renovada atenção às
Humanidades. Com efeito, só uma perspectiva neo-colonial, fortemente recusada
pelo Conselho, pode justificar que no novo quadro internacional, marcado pela
emergência dos países do hemisfério sul, se possa negar o apoio às
Humanidades, que foi tão importante para a afirmação dos chamados
“países ricos”.
“Qual o lugar das
Humanidades na Sociedade Actual” é o tema da mesa redonda que irá
reunir em Mação, hoje, 6 de Março, pelas 14h30, o Presidente
do Conselho Internacional, Adama Samassekou (Mali), a Senadora e Presidente de HERITY Itália Tullia Romagnoli
Carettonni, a Coordenadora do Parque Nacional da Serra da Capivara, Património
da Humanidade, Niède Guidon (Brasil) e o membro do Conselho Executivo da
União Internacional de Ciências Pré-Históricas e Proto-Históricas François
Djindjian (França), num debate moderado por Luiz Oosterbeek.
Este debate precede os esforços do
Conselho e de diversos países, em especial o Brasil, para modificar as
orientações da UNESCO. Na sessão participarão, também, diversas autoridades
académicas e políticas do Brasil.
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