E aqui continuo eu, em busca de uma bastante razão que mobilize a comunidade em adesão contra a precipitação com que soluções de transferências de museus e outras instituições culturais tendem a tornar-se irreversíveis, quando os representantes das entidades mais representativas de opinião sobre o assunto manifestam o seu desacordo, ou, pelo menos, reclamam tempo e serenidade para ponderar sobre o assunto, ou para avaliar a formulação de alternativas.
Não estarei amanhã na manifestação porque não posso, estou captivo no meu domicílio de outros compromissos e responsabilidades, A bem dizer, não sou sujeito de manifestações, mas isso é feitio, e sentir-me-ia triste se verificasse que só encontraria por lá uma centena de intervenientes que posso encontrar, mesmo todos juntos, em qualquer colóquio. Mas, mesmo assim, se não estivesse captivo, a esta ia.
Porquê? Porque gostava que a arqueologia e a museologia não fossem simplesmente matéria de arqueólogos e de museólogos, mas de cidadania e de mobilização da comunidade. Por isso tenho o dever de realçar a dimensão política desta questão, porque é a dimensão política que a transporta para o domínio da cidadania e da comunidade.
Por isso vou colocar a questão uma vez mais à minha maneira, que será com certeza despropositada para Vossas Excelências.
Não tenho partido. Não posso mesmo aceitar que esta questão se transforme numa questão partidária, que se manifeste meramente como uma caturrice de oposição ao partido do governo.
Uma das vulnerabilidades do rotacionismo na sociedade democrática consiste exactamente no facto de, terminado um mandato, os sujeitos da decisão política se remeterem à inimputabilidade no que respeita às decisões tomadas. Seja, um governo que no término do seu mandato persiste na conclusão de uma solução por forma a torná-la irreversível, realizando de surpresa e em tempo recorde intervenções que não tolerarão retrocesso, contra a manifestação de reservas técnicas e de princípio substanciais, não pode deixar de suscitar suspeições.
Poucos meses nos separam de um novo ciclo eleitoral, a celeridade que se pretende imprimir a um processo que suscita reservas ou mesmo oposição de um significativo segmente de sujeitos e entidades de inquestionável estatuto no domínio da avaliação técnica das soluções programadas, não pode deixar de se tornar numa questão de inquestionável relevância política.
O próprio governo deveria ponderar na forma como esta questão poderá vir a ser interpretada pela comunidade.
Nesta fase do processo, mais relevante do que avaliar se as soluções programadas pelo governo são ou não as adequadas, é questionar a celeridade com que se empreendem intervenções irreversíveis, como é o caso das demolições.
Se o partido do governo vier a perder as eleições, os desmanchos que fez já não se podem desmanchar e ficamos todos captivos deles. Se as ganhar, terá então legitimidade para prosseguir com o seu programa.
Ora aqui está uma razão com política e social relevância.
À atenção do governo da Nação.
Elmano, o doudo.
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