[Archport] Achados arqueológicos no Terreiro do Paço não comprometem fim das obras em Junho
Público, 29.04.2009, Inês Boaventura
O projecto para a reabilitação à superfície da praça, a cargo da
sociedade Frente Tejo, deverá ser entregue à Câmara de Lisboa na
próxima semana
Os achados arqueológicos do Terreiro do Paço atrasaram as obras em
curso no local cerca de duas semanas, mas os responsáveis pela
intervenção garantem que estão a trabalhar dia e noite para que os
prazos sejam cumpridos e a Avenida da Ribeira das Naus reabra em
Junho.
Numa visita ao Terreiro do Paço promovida ontem pela Câmara de Lisboa,
o director do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico (Igespar) explicou que no decurso das obras foram
descobertos um cais quinhentista com uma estrutura de madeira, uma
escadaria pombalina e um muro de suporte de um cais do século XVII.
"Era natural e previsível que aparecessem vestígios arqueológicos
importantes", disse Elísio Summavielle, acrescentando que foram também
encontradas loiças e "alguns artefactos" que poderão vir a integrar o
espólio do Museu da Cidade.
O director do instituto defendeu que o cais quinhentista que já foi
desmontado, "talvez o registo mais importante de toda a obra", "merece
ser estudado e valorizado posteriormente, para não ficar nas gavetas
do Igespar". Tanto a escadaria pombalina como a muralha do século XVII
(que obrigou ao desvio da conduta de água que a EPAL está a instalar)
irão manter-se no local, depois de isoladas e cobertas, estando a ser
estudada uma solução para assinalar à superfície a sua existência.
O responsável pela obra da Simtejo, que vai acabar com o despejo de
esgotos sem tratamento para o rio, afirmou que este "ligeiro
imprevisto" implicou um atraso de duas semanas, mas manifestou-se
convicto de que o calendário da obra será cumprido. "Já voltámos a ter
velocidade de cruzeiro e estamos a trabalhar dia e noite", disse Luís
Catarino, explicando que até 21 de Maio a empresa arrancará com a
betonagem da laje de cobertura no Terreiro do Paço.
Quanto à EPAL, já foram instalados 482 dos 640 metros de conduta, cuja
montagem estará concluída até 15 de Maio. Seguem-se três semanas de
ensaios e desinfecção, devendo as ligações finais estar prontas na
primeira semana de Junho.
Pela parte da sociedade Frente Tejo, o seu presidente frisou que a
colocação de estacas para a consolidação do torreão poente ficou
concluída em 44 dias em vez dos 73 previstos. Biencard Cruz revelou
que o projecto de reabilitação da Praça do Comércio deverá ser
entregue à Câmara de Lisboa na próxima semana, garantindo que a praça
não acolherá apenas actividades comerciais e turísticas, já que o
Pátio da Galé será consagrado a actividades culturais.
O presidente da autarquia, António Costa, afirmou que, "se não houver
nenhum acidente", as obras em curso estarão terminadas em Junho, como
previsto, acrescentando que o arranjo da praça à superfície estará
finalizado "até ao final do ano".
O subdirector do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico (Igespar) admitiu ontem ao presidente da Câmara de Lisboa
que a construção dos edifícios da Agência Europeia de Segurança
Marítima e do Observatório Europeu de Droga e Toxicodependência, no
Cais do Sodré, "correu muito mal".
Mais cauteloso quando interpelado pelos jornalistas, João Pedro
Ribeiro frisou que não ocupava o cargo na altura e disse que a
empreitada da Administração do Porto de Lisboa (APL) "não terá tido o
devido acompanhamento arqueológico". Questionado sobre uma eventual
destruição de achados arqueológicos, o responsável, que no Igespar
tutela a área arqueológica, disse apenas que "às vezes há
precipitações e o património nem sempre é devidamente relevado".
O presidente da autarquia adiantou que a construção do parque de
estacionamento projectado para a APL para a Avenida da Ribeira das
Naus, junto aos edifícios das agências europeias, pode vir a ser
cancelada. "A probabilidade de se começar a escavar e termos de mudar
para aqui a sede do Igespar é mais do que muita", disse António Costa,
em tom de brincadeira, recusando no entanto admitir a sua oposição à
obra, cuja realização ou não "há-de decidir-se".