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Re: [Archport] Aceitam-se arqueólogos em Tróia

To :   Joao Araújo Gomes <jpagomes@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] Aceitam-se arqueólogos em Tróia
From :   Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com>
Date :   Thu, 7 May 2009 22:26:15 +0100

Concordo em toda a linha com aquilo que disse o João Araújo Gomes. Julgo que esta crispação - para por a coisa de forma mais suave - terá tido origem num possível lapsus calami da parte de quem colocou o anúncio, pedindo "arqueólogos" como voluntários e não, apenas e simplesmente "voluntários".

Em todo o caso, esta polémica não deixa de me suscitar alguns comentários.

Em primeiro lugar, tenho vindo a constatar de há alguma tempo a esta parte o facto de cada vez haver mais empresas que, ao invés, ou cumulativamente, de contratualizar empreitadas de trabalhos arqueológicos com empresas externas de arqueologia,têm vindo a fazer ingressar nos seus quadros arqueólogos. A Tróia Resort é um exemplo, entre alguns outros - lembro-me, assim de repente, da Estradas de Portugal.

Ora, se tal tem reflexos positivos na estabilidade profissional de alguns arqueólogos, tal também não deixa de nos colocar perante alguns dilemas deontológicos que, em face da atitude de alguma negligência em termos de fiscalização por parte da tutela, não deixam de me preocupar. Por outro lado, um profissional de arqueologia, inserido dentro de uma estrutura corporativa, não deixará nunca de ser uma mais valia, pressupondo eu que integrará os projectos que a empresa - que, relembro, tem sempre como objectivo o lucro para os accionistas e não a protecção do património a qualquer custo - virá a desenvolver.

É sintomático, assim, que tenha partido de algumas empresas a necessidade de se fazer acompanhar por técnicos especializados, técnicos esses que terão sempre que encontrar compromissos entre aquilo que é interesse privado e o que é interesse público - dou, como exemplo, as intervenções de prospecção remota que o Tróia Resort levou a cabo de modo a poder pedir a desafectação  de parte da zona non aedificandi do sítio arqueológico de Tróia, de modo a poder construir lá, bem como a transformação do palácio de Sotto Mayor em hotel de charme, integrando-o no sítio. Tal - desde que não haja destruição de vestígios, nem essa verdadeira falácia que dá pela designação de "conservação pelo registo" - não  me choca absolutamente.

O que me choca é o abandono a que o Estado - e até algumas universidades, que são, na minha opinião, as entidades vocacionadas por excelência para a investigação - tem votado Tróia. Para dar um exemplo, ninguém tem a mais pálida ideia daquilo que existe na sua frente aquática porque, à parte a actividade depredadora de uns poucos "pescadores de ânforas", no seguimento de uma tradição iniciada pelo Manuel Heleno ainda na década de 50, nada tem sido feito no mar de Tróia, na sua caldeira ou no seu "fundão".

Quanto à questão do voluntariado, mal estaríamos se os médicos que trabalham na AMI o fizessem por dinheiro, ou se todos os chefes escutistas do país só liderassem agrupamentos de escuteiros sob remuneração, sob pretexto que os pais têm dinheiro e podem pagar. Mais, sei por experiência própria que é muito mais desgastante e muito menos produtivo, em termos de escavação, trabalhar com voluntários do que com pessoal remunerado - não só muitas vezes é preciso dar formação em quantidades industriais aos voluntários, como também a um voluntário não se pode exigir aquilo que se exige a um "assalariado".

Finalmente, é de louvar que a equipa que trabalha em Tróia ponha à disposição da comunidade arqueológica o sítio onde intervém - relembro que escavar não é um direito, nem um dever: é um privilégio.

Declaração de interesses: não conheço ninguém da equipa de Tróia nem estou a par dos seus projectos, à parte do que fiquei a saber numa conferência a que assisti há poucos dias na Associação de Arqueólogos. Devo dizer também que nessa mesma altura me ofereci como voluntário para trabalhar dentro de água com essa mesma equipa (para escavar terra é que não contem comigo: é sol e areia a mais e a  minha coluna já não é o que era :)






2009/5/7 Joao Araújo Gomes <jpagomes@gmail.com>
Caro Doutor José Varela (e restante Archport),

Não entenda este meu próximo comentário como uma reprimenda - até porque não gosto das pessoas que o fazem no fórum Archport alimentando trocas de opiniões menos construtivas. Entenda, sim, a seguinte observação como uma oportunidade de esclarecimento em relação ao papel do TróiaResort na península de Tróia, vindo de alguém que nada tem a ver com a referida instituição e que ficou preocupado com a negativa repercussão que o seu comentário possa vir ter nos alunos que se ofereçam como trabalhadores voluntários. Tenha atenção para os erros que pode vir a dar no futuro baseados em falsas acusações pouco sustentadas e nada fundamentadas. Apesar de humoristicamente jocoso, o seu comentário é infeliz.

Julgo que a simples requisição de pessoal voluntário para a realização de escavações arqueológicas em Tróia é uma mais valia para toda a gente. Nós, contribuintes; Troia-resort, entidade responsável pela valorização do sítio; e estudantes, futuros arqueólogos com a oportunidade de estar num dos mais importantes centros de produção de preparados piscícolas do império romano.

O "engº Belmiro" é suficientemente inteligente para perceber que Tróia merece apoio e continuidade de patrocínios. Saiba que já se fez mais em Tróia nestes últimos dois anos desde que a Sonae começou a dinamizar o turismo da Península de Tróia, do que nos 15 anos anteriores.

Aconselho-o vivamente a visitar o sítio porque pelos vistos ainda não o fez...E deixe lá os estudantes irem em regime de voluntariado porque ninguém fica a perder com isso. Nem eles, nem o senhor. Acredite! Para além disso, as condições de instalações que oferecem aos voluntários são extraordinárias.

Ps: Doutor José Varela, só não lhe respondi directa e exclusivamente a si porque queria esclarecer os possíveis voluntários que venham a trabalhar em Tróia este Verão.

Saudações cordiais

João Araújo Gomes
Arqueólogo

CEG - Faculdade de Letras
Alameda da Universidade
1600-214 Lisboa
Tel: + 351 21 7940218 / 21 7965469
Fax: +351 21 7938690


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2009/5/7 José Manuel Pinto Varela <Jose.Varela@cm-matosinhos.pt>

Então uma empresa como a TroiaResort (http://www.troiaresort.net) que integra o grupo SONAE e que vai lucrar significativamente com a comercialização do imobiliário e dos serviços turísticos na península de Tróia não tem fundos para colocar no terreno uma equipa profissional onde o trabalho efectuado seja devidamente remunerado? Será que necessita da utilização de mão-de-obra gratuita para valorizar um dos principais elementos de atracção turística da península?

Quem lê isto fica com a ideia de que o que a Troiaresort (que não é nenhuma instituição científica sem fins lucrativos, antes pelo contrário) pretende é a minimização dos custos de pessoal e a maximização dos seus proveitos comerciais nem que seja à custa do trabalho gratuito.

Mas quem quiser voluntariamente ajudar a encher os bolsos do engº Belmiro tem aqui uma boa oportunidade.

José Varela

 


De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de José d'Encarnação
Enviada: quinta-feira, 7 de Maio de 2009 11:39
Para: archport
Assunto: [Archport] Aceitam-se arqueólogos em Tróia

 

Agradeço divulgação:

 

Aceitam-se voluntários para participar em escavações arqueológicas em Tróia durante os meses de Julho e Agosto.

 

 

Informações e inscrições:

 

Ana Patrícia Magalhães

ana.magalhaes@troiaresort.pt

 

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