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Re: [Archport] Um excelente artigo

To :   Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] Um excelente artigo
From :   Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com>
Date :   Tue, 12 May 2009 08:27:59 +0100

Caro Manuel Nunes,

Ou você tresleu o artigo ou lemos coisas diferentes... :)

A mim, o que me pareceu, foi que este arqueólogo se regozijou com o facto de aparecerem cópias de excelente qualidade à venda na internet, fazendo-se passar por autênticas. Tal conduziu a dois fenómenos:

1) a montante, os pilhadores deixaram de pilhar (tanto) porque conseguem obter mais rendimento com menores riscos e menos trabalho - há muito mais oferta, não de objectos pilhados, mas sim de cópias;

2) a jusante - e exactamente porque há muito mais oferta, não do produto genuíno, mas de algo que é quase idêntico ao artefacto histórico-arqueológico -o mercado do antiquarismo passou a ter muito mais cautela, não comprando tanto com medo de ser logrado.

Estes dois fenómenos, cumulativamente, contribuíram para aquilo que é a opinião empírica do articulista e que é contrária ao seu receio inicial - a de que a chegada da internet e a consequente mas putativa facilitação da compra de artefactos, longe de promover o saque tem vindo, isso sim, a atenuá-lo.

Mutatis mutandis, é um pouco como aquela técnica radical de enterrar milhares de caricas em sítios arqueológicos - o tempo dispendido e o trabalho que um detectorista tem em desenterrar cada uma delas na mira de encontrar um aureus e não uma carica (em cada dois mil alvos, haverá, quiçá, um genuíno) simplesmente não compensa o saque.



2009/5/12 Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>

Um excelente artigo

 

http://www.archaeology.org/0905/etc/insider.html

 

 

O Alexandre Monteiro, sempre atento a novidades e diligente na sua divulgação, sem comentários, deixando a matéria ao juízo de cada um, divulgou no fim da semana passada este excelente artigo.

A diligência de Alexandre Monteiro é louvável, mas desculpe-me comentar a excelência do artigo. À partida dir-se-ia que não passa de uma trivialidade. A questão do mercado de artefactos arqueológicos é um assunto mais do que estafado, o que continua sem solução é o apuramento da sua procedência. Do meu ponto de vista, a forma mais trivial e inócua de mitigar a questão é a de atribuir a bandoleiros e detectoristas as culpas; oportunamente intervirei para tentar dissecar a matéria, pois talvez não seja bem assim. Este fórum, de resto, vai-se polvilhando de indícios que conduziriam, quem quisesse estar atento, a esta conclusão.

Há todavia duas curiosidades a notar no artigo divulgado. Em primeiro lugar, Charles Stanish apresenta-se nostálgico relativamente ao tempo em que o mercado de artefactos arqueológicos era administrado por apenas alguns operadores privilegiados e contemplava apenas alguns magnates, porque os valores eram altos ou porventura especulativos. A decepção de Charles Stanish manifesta-se desde logo contra a democratização deste mercado, causado pela sociabilização dos meios de comunicação, nomeadamente da internet, sobretudo pelo surgimento dos dispositivos de transacção online.

Depois, Charles Stanish manifesta-se ainda mais desolado porque os coleccionadores estão a ser enganados e passaram a adquirir por valores irrisórios falsificações, cópias ou produtos de artesanato. Charles Stanish parece passar então a querer defender os coleccionadores do logro.

Não se esperava ver um arqueólogo tão preocupado na defesa do património arqueológico e, em simultâneo, dos interesses dos coleccionadores em risco de serem logrados.

Um trivial leitor do artigo seria levado a pensar que ele foi suscitado pela perturbação que o surgimento dos dispositivos de transacção e apresentação online está a causar nos operadores tradicionais, incluindo as grandes leiloeiras de intervenção global. Seria o caso para citar a velha expressão, gato escondido com rabo de fora.

Ao fim e ao cabo, operam com as mesmas coisas, partindo de estatutos diferentes. A questão do autêntico e da cópia, ou do falso, é bem mais complexa do que a precipitada síntese de Charles Stanish faz pressupor. E afecta talvez mais a credibilidade dos grandes operadores tradicionais, quando os dispositivos online colocam por valores irrisórios à mercê dos coleccionadores, tanto o autêntico como o falso, ou a cópia.

Aconselharia os leitores do artigo a tentarem analisar os dispositivos que os operadores tradicionais mobilizam para creditar o autêntico.

Mas a pergunta crucial que coloco é esta: porque diabo há de estar um arqueólogo tão preocupado com o tráfego de cópias ou falsificações?

Tendo em vista a preocupação legítima que muitos profissionais arqueólogos vão manifestando relativamente ao seu futuro, será que não vamos ser surpreendidos quando a ASAE resolver recrutar arqueólogos?

E que me perdoe o Alexandre Monteiro, porque considero genuína a motivação para publicitar o artigo. Obrigado.

 

Manuel de Castro Nunes



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Manuel de Castro Nunes

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