Em defesa da cidade e da
zona de Belém, A Câmara Municipal de
Lisboa não pode aprovar o novo Museu dos Coches O
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Dr. António Costa, afirmou
publicamente há já algum tempo que considerava "desnecessário" o novo Museu dos
Coches. E desde então a CML entendeu remeter-se ao mais completo silêncio sobre
este projecto. Tendo
permitido ao Estado fazer o que a nenhum particular autorizaria, iniciar
demolições e obras sem projectos aprovados, a CML prepara-se para quebrar da
pior forma o seu silêncio comprometido, fazendo aprovar uma resolução do
vereador Manuel Salgado, já agendada para debate, na qual se propõe ?a
homologação de parecer favorável condicionado ao projecto do novo Museu dos
Coches?. Ficamos assim a saber que a
CML considera que o seu papel na construção da cidade e de uma zona tão sensível
como Belém se limita a impedir a construção de um silo-auto junto ao
Tejo. É
pouco, é muito pouco para qualquer município; e é especialmente pouco para um
poder autárquico que, em vésperas de eleições, entendeu desencadear um conjunto
de reflexões estratégicas alargadas a um amplo período de tempo (2010-2024),
seguindo uma metodologia de debate público que saudamos e pode efectivamente
conduzir uma nova e audaciosa visão da cidade. Ora,
para que seja levada a sério, impõe-se que a reflexão para o futuro seja
ancorada em posições coerentes no presente. Sem isto teremos de concluir que as
iniciativas agora tomadas não passam de "fogo de vista", em período
eleitoral. E nem
sequer seria difícil fazê-lo. Com efeito, aquilo que nem os poderes autárquicos,
nem os poderes centrais do Estado parecem interessados em concretizar, ou seja,
uma reflexão em que as medidas tomadas no presente sejam perspectivadas
estrategicamente, já foi iniciado pelos movimentos associativos culturais e
patrimoniais, mostrando que existe na sociedade civil capacidade técnica e
vontade de cidadania a que os poderes políticos deveriam estar mais
atentos. Pela
primeira vez desde que há memória, reuniram-se em Maio passado, por iniciativa
da Comissão Nacional Portuguesa do ICOM (Conselho Internacional de Museus),
todos os directores de museus e monumentos de Belém, numa mesa-redonda ("Museu
de Belém: perspectivas de futuro") muito participada e frutuosa, pelas propostas
que nela surgiram. Como aí ficou bem demonstrado, é imperioso começar por
considerar esta zona de Lisboa, Belém, onde se junta o maior e mais emblemático
parque museológico e patrimonial português, como um todo que deveria ser
coerente. Qualquer intervenção avulsa a fazer numa das unidades museológicas ou
monumentais existentes num tecido urbano tão sensível, não somente corre o risco
de ser em si mesma contraproducente, como pode originar uma cadeia de
consequências que pode revelar-se catastrófica para outras unidades similares e
para o conjunto, no seu todo. O
Projecto para o novo Museu Nacional dos Coches é o mais acabado exemplo deste
perigo. Não se trata apenas de uma questão de arquitectura ou de uma questão de
museologia - trata-se de uma questão de coerência nas políticas culturais e das
suas relações com a construção de cidade, que é bem mais
importante. Assim, por todas as razões
já amplamente conhecidas da opinião pública, a actual Câmara Municipal Lisboa,
se de facto quiser ganhar credibilidade para o futuro, só tem um caminho a
seguir: não aprovar o projecto de construção do novo Museu dos Coches, e fazê-lo
não por questões de projecto arquitectónico, mas por questões bem mais sérias de
estratégia urbana e de construção sustentada e democrática da cidade de
Lisboa. O
período eleitoral autárquico e legislativo que se avizinha é especialmente
favorável à promoção da discussão pública das matérias que interessam à cidade.
Pode até acontecer que se conclua, após debate sério e participado, que o
projecto existente para um novo museu em Belém é aceitável, devendo apenas ser
reprogramado nos seus conteúdos, por forma a respeitar não somente as
prioridades uma política cultural e museológica nacional, como as carências de
oferta que se fazem sentir As
responsabilidades políticas tomam-se no presente. Boas intenções e promessas
futuras já não chegam, como base para cimentar o contrato social adulto que se
exige neste início do século XXI. O Secretariado da PP-CULT
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