[Archport] Acerca do que possa interessar à arqueologia

[Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>]

Caros amigos.

 

Aguardo ainda a publicação de anterior mensagem, em que corrigia alguns lapsos oportunamente assinalados por Paulo Monteiro. Esta só será pois entendida após a publicação da anterior.

É verdade que me pronunciei sobre o Museu com base no visionamento de um registo videográfico. Pronunciei-me sobre o que me foi facultado. E, mesmo assim, pude fazer o registo, já expresso, de que não me estava a pronunciar sobre a qualidade técnica do empreendimento museológico, bem pelo contrário, reconhecia-lhe excelente mérito. E de facto nem necessitava, porque, no que a isso respeita, o registo videográfico é bem explícito. Fui também explícito acerca do que motivava a minha intervenção. A denominação genérica e de alguns tópicos. E sobre a razão porque elas me suscitavam reservas. Comentei todavia o assunto com Paulo Monteiro e compreendi já que às denominações subjaz um discurso consistente, que não era visível no videograma senão na abordagem monográfica de vários tópicos. Resta-me sobre este assunto registar que o investimento em equipamentos culturais desta natureza e qualidade é um dos meios estratégicos para inverter o processo de desertificação do inteior do território e espero que, seguindo esta linha, Belmonte possa ser em breve elevada a Cidade. A consulta de um tabela de (des)progressão demográfica do Concelho de Belmonte entre 1960 e a actualidade é preocupante.

Todavia, esta intervenção não tem como motivo estes assuntos, que comentei serena e cortesmente com Paulo Monteiro.

O motivo são algumas recalcitranes intervenções que insistem em estabelecer normas para a intervenção neste forum, nem se compreende por que razão. Sobretudo quando partem de intervenientes que não me parece que respeitem as restrições que entendem impor aos outros.

E julgo então oportuno colocar algumas questões. Já recentemente se colocaram aqui intervenções, cuja oportunidade não questiono, sobre os acontecimentos na faixa de Gaza, para citar apenas um tópico. Não notei que alguém aparecesse a querer decapitar o tópico.

Caro arqueologia, arqueologia é cultura, genericamente. A museologia e a museografia, em múltiplas áreas, não apenas na área da arqueologia, interessam obviamente à arqueologia. A antropologia e a etnografia deviam interessar mais à arqueologia. Insisto de resto em que algumas ambiguidades se transferem do corpus normativo cuja nomenclatura deveria ser reformulada.

É bem pssível que, no domínio mesmo de uma partilha globalmente integrada do património cultural, os museus do futuro sejam virtuais, espaços de informação e lazer, interactivos, conservando a maioria dos objectos em depósito adequado, ao cuidado de conservadores especializados e investigadores. Um programa de exposições temporárias monográficas, suprirá o desejo dos cidadãos do contacto directo com o objecto.

O Caro arqueologia está talvez extemporaneamente a requerer a presença de objectos arqueológicos. Ainda vai correr muita tinta até que possamos entrar em consenso acerca do que é um objecto arqueológico. No quadro estrito do uso corrente da nomenclatura, por exemplo no corpus normativo, eu sou um objecto arqueológico. Não conto ir parar a um museu, por enquanto.

Com toda a franqueza, não compreendo o que o incomoda tanto. Eu sinto-me incomodado por não lhe poder dar pronta resposta. E jamais o mandarei calar. Até porque as suas intervenções são para mim deveras relevantes. Pelo menos, para lhe poder responder.

 

Manuel de Castro Nunes

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Manuel de Castro Nunes