Foram solicitadas informações referentes a vestígios de pinheiro manso (Pinus pinea) em Portugal. Existem, de facto, evidências arqueobotânicas da presença desta espécie em diversas jazidas portuguesas, permitindo esclarecer uma questão debatida já há muitos anos.
O carácter autóctone ou alóctone do pinheiro manso é um caso que até há pouco tempo suscitava grandes dúvidas, a par de outras espécies como o Pinheiro bravo (Pinus pinaster) e o Castanheiro (Castanea sativa). Ora, todas estas espécies são autóctones de Portugal continental, tal como surge atestado por diversas evidências paleobotânicas. A aceitação do pinheiro bravo como autóctone é hoje pacífica. O mesmo não acontece com o castanheiro, ainda que o acumular de evidências polínicas e antracológicas esteja progressivamente a convencer a parte mais céptica da comunidade científica. No caso do pinheiro manso é claramente um problema de (má) comunicação entre duas áreas de investigação científica, a botânica e a arqueologia (mais precisamente da arqueobotânica). De facto, são já diversas as evidências antracológicas e carpológicas de Pinus pinea oriundas de jazidas e níveis pré-históricos bem contextualizados e datados. Resta, por fim, considerar a possibilidade de se tratar de uma espécie introduzida por populações pré-históricas e rapidamente beneficiada face a todas as outras em determinadas regiões... hipótese muito pouco plausível.
Vestígios arqueobotânicos de Pinus pinea surgem em Vale Pincel I (6700-6500 BP) e em Ponta da Passadeira (4270±40 BP).
No que respeita a Vale Pincel I os dados de Carrion Marco (2003) são particularmente interessantes. Foram recolhidos carvões, escamas de pinha e também cascas de pinhões de Pinus pinea em estruturas de combustão . A autora faz mesmo interessantes considerações acerca de aspectos anatómicos que permitem conferir maior credibilidade às identificações dos carvões em questão.
Em Ponta da Passadeira, Carrion identificou, de igual modo, carvões e escamas de pinha de Pinus pinea. Acrescenta-se ainda pelo menos um pinheiro manso no bosque submergido nesse ponto do estuário.
Acrescente também a recolha de Pinus pinea nos povoados calcolíticos de Monte da Tumba e Porto das Carretas. Neste último foram identificados carvões e escamas de pinha de pinheiro manso num estudo realizado pela Prof. Dra. Paula Queiros e eu próprio no Laboratório de Paleoecologia e Arqueobotânica do então IPA, encontrando-se ainda a aguardar publicação.
Mais a Norte, estão documentados carvões que poderão ser desta espécie ainda que existam dúvidas nas classificações, nas jazidas do Prazo (ver em http://www.ipa.min-cultura.pt/coa/sh__research_articles__folder/vol%2001.pdf ), Crasto de Palheiros (Pinus pinaster/pinea) e diversas outras jazidas pré-históricas referidas por Isabel Figueiral e M. Jesus Sanches (ver artigo de Portugalia disponível em http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3844.pdf).
Naturalmente, não pretendo fazer aqui uma listagem exaustiva. Certamente que se continuar a sua investigação irá encontrar muitos outros exemplos também de cronologias mais recentes – sei que em Castro Marim foram recolhidos carvões e escamas de pinha da espécie em questão (ver em www.terra-scenica.pt/PDFs/TC95.pdf ).
De qualquer forma, aconselho a leitura das seguintes referências que deverão esclarecê-lo acerca do carácter autóctone de Pinus pinea e que poderão ajudá-lo a perceber o papel desta espécie no Holoceno, em especial do Sul de Portugal e da Península Ibérica:
CARRIÓN MARCOS, Y. (2003) - Afinidades y diferencias en las secuencias antracológicas en las vertientes mediterránea y atlántica de la Península Ibérica. Tesis Doctoral inédita. Universitat de Valencia
DUQUE ESPINO, D. M. (2004) - La gestión del paisaje vegetal en la Prehistoria Reciente y Protohistoria en la Cuenca media del Guadiana a partir de la Antracología. Tesis Doctoral. Cáceres: Universidad de Extremadura.Disponível integralmente em: http://dialnet.unirioja.es/servlet/oaites?codigo=199
Duque Espino, 2005 - Resultados antracológicos de los yacimientos de la Coudelaria de Alter do Chão y su integración en las secuencias paleoecológicas y paleoambientales de la Prehistoria Reciente del Suroeste peninsular. Revista Portuguesa de Arqueologia, 8 (1): 21-41. Disponível em http://www.ipa.min-cultura.pt/pubs/RPA/v8n1/folder/021-041.pdfMensagem anterior por data: [Archport] Arqueologia e Historia , publicação. | Próxima mensagem por data: [Archport] Doutoramento |
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