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Re: [Archport] Fwd: Petições ou o triunfo da Mistificação

To :   Andre gregorio <andregregorio@hotmail.com>, Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>, joão pereira <trainzeiro@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] Fwd: Petições ou o triunfo da Mistificação
From :   Presidente APA <presidente@aparqueologos.org>
Date :   Fri, 17 Jul 2009 00:44:07 +0100

Caros colegas,

neste ponto da discussão, gerada por uma "petição" cujo conteúdo e forma não irei comentar, penso que é relevante pronunciar-me na minha condição de presidente da direcção da APA.

Não posso estar mais de acordo com André Gregório quando afirma que o que faz falta é que "os profissionais se reunam nas suas organizações representativas para adquirir força para impor condições justas e equitativas e a garantia do respeito pela dignidade profissional e pessoal do arqueólogo".

Já quanto à possibilidade de criação de novas estruturas confesso que já me sinto mais reticente: recordo que a própria criação da APA se fez por reacção à aparente incapacidade da Associação dos Arqueólogos Portugueses (AAP) em se transformar, de modo a que fosse realmente representativa daqueles que, nos inícios dos anos 90 do séc. XX, começavam a adquirir expressão como arqueólogos profissionais. Podemos continuar a fundar novas estruturas - de 10 em 10 anos, ou 20 em 20, como preferirmos - e beneficiar da aceleração do movimento criativo nos primeiros 5 ou 10 anos, mas francamente não me parece ser esse o melhor caminho.

O melhor caminho, tem-me parecido nos últimos anos em que tenho desempenhado funções nos corpos gerentes da APA, é o da consolidação da estrutura representativa que existe e que, com ou sem estatuto de direito publico, pode contribuir significativamente para a necessária melhoria dos padrões de qualidade e ética no exercício da profissão de arqueólogo em Portugal. Mas também é preciso perceber que essa consolidação não se consegue apenas com o esforço e empenho dos membros dos corpos gerentes da APA. A força das associações, por definição, reside nos seus associados.

Quantos arqueólogos há em Portugal? São a mais? São a menos? Como se organizam no mercado de trabalho? Sabemos todos que não há uma resposta fiável. A APA tentou obtê-la. Em 2006 - na sequência de um anterior inquérito direccionado especificamente para as autarquias - promovemos o que chamámos "Inquérito Nacional à actividade Arqueológica".  Dos 424 inquiridos responderam 109 autarquias, 3 empresas e 8 centros de investigação / associações. De quem é a responsabilidade pelo desequilíbrio (e quase inutilidade) da amostra: da APA, que promoveu o inquérito, ou das empresas e centros de investigação / associações que não responderam?

Deixando de lado o critério quantitativo, a apreciação qualitativa que se fez do exercício da actividade arqueológica no ciclo de debates "Arqueologia em Revista" - promovido pelo Centro de Arqueologia de Almada em 2008 - foi, na minha opinião, o tal diagnóstico sério e rigoroso que havia a fazer. Foram identificados problemas e apontadas soluções. Mas, como todos os diagnósticos, será contraproducente se não conduzir à aplicação de uma terapêutica. E, mais uma vez, também não é só com o esforço e empenho dos membros dos corpos gerentes da APA que se obtêm resultados.

O grau de participação nas iniciativas da APA, que pretendem concretizar soluções para a melhoria de padrões de qualidade profissional, é muito reduzido. A título de exemplo, refiro que o documento de trabalho posto à discussão sobre "metodologia de avaliação de impacte arqueológico" não teve qualquer contribuição mas, curiosa e erradamente, sabemos que tem sido citado como documento de referência em propostas de trabalhos arqueológicos integrados em processos de AIA. E, já agora, repararam no número de intervenções que houve na lista archport a propósito da "petição" e no número de comentários à divulgação pela APA, no mesmo forum, de documentação relativa a um tema afim, "formação académica e exercício profissional"?

O desinteresse nas actividades da APA toca mesmo os serviços que oferecemos - repito, oferecemos - em benefício individual dos associados: há cerca de um ano que temos a funcionar um consultório jurídico e até hoje registamos 4 (sim, quatro) solicitações, uma das quais de alguém que não reunia condições para usufruir do serviço mas que ainda assim a direcção assumiu como sua por considerar pertinente a questão colocada.

Tudo isto - que já vai longo - para constatar que parece haver um fosso tremendo entre o discurso e a prática: meio mundo reclama a necessidade de intervenção de estruturas profissionais representativas (sejam elas a APA ou outras quaisquer) e o mundo inteiro, no seu quotidiano profissional, ignora as estruturas representativas, num alheamento voluntário virtualmente impossível de contradizer.

Sem mais considerações qualitativas sobre esta constatação, aqui fica (também) como nota de reflexão.

Maria José de Almeida








On 2009/07/16, at 15:04, joão pereira wrote:
Já várias vezes me referi ao caso "ordem ou não ordem" de arqueólogos.
 
Por mim não a credito que so e simplesmente pelo facto de haver uma "Ordem" que automatize a vinculação dos ordeiros contra os desordeiros.
A questão que se levanta aqui é do foro da regulação do trabalho e não do foro "ordeiro". Se repararem bem, nenhuma ordem fala ou faz referências às condições contratuais do trabalho. Se alguma faz, peçodesculpa pela ignorância.
 
As questões contratuais são geridas por 3 entidades: os sindicatos, os patronatos e os tribunais de trabalho.
Naturalmente que existem os elementos conciliadores, como seja a concertação social / governo / parlamento (por via das regulamentações aprovadas).
 
Fora deste esquema actual que todas as outras profissões nadam, é um sonho quimérico inútil.
Esperar que uma ordem ponha ordem nisto é uma miragem tal que ninguém querpegar nisso.
 
Uma ordem servirá para por ordem em questões disciplinares, éticas e coisas assim parecidas. Duvido muito que tal consiga pela simples razão: quando as pessoas não querem, repito, NÃO QUEREM, nada funciona.
 
JPereira


On 2009/07/16, at 13:43, Manuel Castro Nunes wrote:



---------- Forwarded message ----------
From: Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>
Date: 2009/7/16
Subject: Re: Petições ou o triunfo da Mistificação
To: Andre gregorio <andregregorio@hotmail.com>


Caro André Gregório.
 
Primeiro que tudo, agradeço-lhe que me tenha endereçado pessoalmente a sua intervenção.
Bem, nem eu nem o Caro Amigo podemos dizer que exista mistificação, quer quando se diz que existem arqueólogos a mais, quer quando se diz que há arqueólogos a menos. Não conheço e tenho a certeza de que também não cnhece qualquer estudo consistente de avaliação deste horizonte.
O que todos vêem é que os jovens arqueólogos se queixam consecutivamente de falta de integração profissional, mas eu, pessoalmente, não vejo as empresas de arqueologia a queixarem-se de falta de arqueólogos. O que transparece é até que não têm dinheiro para lhes pagar.
Não compreendo onde reside a mistificação.
Que eu saiba existe uma ordem, ou sindicato, não especulo sobre o seu estatuto, de arqueólogos, a APA. A APA deveria, em minha opinião, realizar o diagnóstico deste problema. O que penso que continuará a faltar é uma Associação Empresarial, que regulasse, em referências a um normativo ético, os procedimentos das empresas em contexto de concorrência entre si, nas relações de trabalho com os profissonais de arqueologia, em outros domínios.
Insisto em que tais diagnósticos deveriam ter sido feitos regularmente desde há mais de dez anos.
Numa próxima intervenção Tentarei reflectir so bre a razão porque a sua explicação sobre as médias baixas requeridas para o ingresso em certos cursos não faz sentido e mistifica a realidade.
 
Um abraço.
 
Manuel

2009/7/16 Andre gregorio <andregregorio@hotmail.com>

Caros Subscritores deste Mailing List,
 
Em relação à discussão levantada por uma petição apresentada por anónimos proponentes, gostaria de acrescentar algumas notas para reflexão.
 
Em primeiro lugar, e versando a dita petição e o texto que a acompanha, tenho a dizer que o mais grave não é o péssimo português em que está escrita, mas a total inadequação do conteúdo e do seu objectivo às necessidades e à realidade do meio arqueológico profissional em Portugal.
 
De facto, se as médias de entrada nos cursos de arqueologia são baixas, isso deve-se ao facto, não de haver vagas a mais, mas de os cursos não terem a procura de outros.
 
Por outro lado, e queiria realçar este ponto, NÃO É VERDADE que haja arqueólogos ou técnicos de arqueologia a mais.
Existe uma procura deste serviço que não parou de aumentar nos últimos anos e mesmo em contexto de crise, continua a haver intervenções de emergência que exigem muita mão de obra e não a conseguem.
 
As condições são más, os salários são baixos, e existe incumprimento, porque os profissinais estão desde sempre a ir na cantiga e aceitam o que lhes é oferecido.
 
A ideia que existem arqueólogos a mais para o mercado que existe, é uma completa mistificação.
 
O que falta, isso sim, é que os profissionais se reunam nas suas organizações representativas ou as criem e assim adquirir força para impor condições justas e equitativas e a garantia do respeito pela dignidade profissional e pessoal do arqueólogo.
 
Mas isso não cai do céu, já perdi a conta às vezes que vi e li a expressão "devia haver uma ordem", "devia haver um sindicato", devia haver... Devia, mas feito por alguma entidade esotérica e inantingível porque a verdade é que quase ninguém faz por isso, não passando de denúncias mais ou menos inconsequentes feitas aqui ou mesa dos cafés.
 
As consequências da não organização dos profissionais estão à vista, as empresas praticam os valores que querem e acabam sempre por arranjar mais um ingénuo que aceita.
 
Finalmente, dirigindo-me aos responsáveis pela dita petição, e não só, estudem a realidade, conheçam os factos e actuem em função deles e não de totais mistificações sem sentido.
 
Saudações,
 
André Gregório

 

Date: Tue, 14 Jul 2009 15:18:40 +0100
From: trainzeiro@gmail.com
To: arteminvenite@gmail.com
CC: archport@ci.uc.pt
Subject: Re: [Archport] Sobre o conteúdo de uma petição online.

Porventura, a falta de estruturação e avaliação dos curricula terá por base uma ideologia liberal em que o mercado dará conta do recado, amachucando mais e menos quem se atreve a fazer algo por si próprio, à custa de amor próprio e à custa do amor pela arqueologia.
 
E naturalmente que, deixando o barco à deriva, as marés e as correntes julgadas sem ideologia, porque um dia resolveram matar de vez as ideologias, mais cedo ou mais tarde a força motriz das águas do tempos empurrarão tudo e todos contra as rochas do infortúnio de quem abraçou, abraça e quer abraçar um conhecimento baseado nas escavações que toda a gente gosta de fazer.

2009/7/14 Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>

Sobre o conteúdo de uma petição online.

 
 

Subitamente este fórum foi agitado pela divulgação de uma petição que foi suscitando múltiplas reacções, de adesão, de rejeição, de desfocagem do conteúdo atribuindo relevância à forma.

E, afinal, sem questionar o mérito da iniciativa, mesmo tendo em conta a forma e a incógnita autoria, reconheço que a petição teve o mérito de acordar toda a gente para o que todos já sabiam. Aparentemente.

De facto, que alucinatória psicose colectiva nos impedia de antever este desfecho há cerca de vinte anos? Que alucinatória psicose colectiva nos impediu de ver que as universidades andavam a formar professores exponencialmente, quando todas as estatísticas apontavam para a quebra demográfica da população escolar? Importa relevar que os problemas que os arqueólogos enfrentam são similares aos que os professores enfrentam, os historiadores, os museólogos, até já os engenheiros, os economistas e os gestores.

Durante vinte anos, exponenciaram-se as licenciaturas, os cursos de formação profissional, fundaram-se universidades, institutos politécnicos…

Cada um por si, sem um avaliação estrutural, sem um plano estrutural de formação nos mais diversos níveis, sem avaliação e projecção das necessidades do mercado de trabalho.

O problema surgiu agora? Não. Nós só o quisemos ver agora.

Mas só uma exaustiva avaliação do passado pode informar uma rigorosa avaliação no presente e uma eficaz projecção no futuro.

Eu tenho tentado abordar esta questão de forma estruturada em vários locais. Ele não se pode circunscrever a meras avaliações de tendências do mercado de trabalho. Envolve e é envolvido estruturalmente por várias outras questões.

O que é um arqueólogo e qual o alcance possível da sua inserção profissional?

Qual deve ser o currículo da formação de um arqueólogo, qual o alcance da sua transdisciplinaridade, para que não fique captivo do cada vez mais exíguo horizonte de escavações em expectativa?

A realização de formações, académicas ou culturais, tem por exclusivo móbil a inserção profissional?

Não basta propor que se reduzam as licenciaturas e outras formações em arqueologia. Tal proposta devia já estar fundamentada em avaliações e projecções em profundidade.

Desde há vinte anos que tais avaliações deviam ter sido constantes. Não teriam porventura surgido tantas empresas de arqueologia.

È caso para dizer que falhou a supervisão. Cada universidade ou entidade de formação, no âmbito da sua autonomia, agiu por si, de acordo com alucinatórios programas de expansão e crescimento.

Mas a questão assim colocada ainda continua incompleta. Há muitas outras a ponderar.

Importa todavia partir do princípio que somos nós também quem pode produzir e transformar a realidade. Por isso, a mais importante das questões continua a ser a de como se podem ainda corrigir os desvarios do passado, sem ter que desistir da arqueologia, que tanto continua a ser necessária.

Temos que lhe abrir os horizontes e transformá-la porventura noutra coisa. Que não é nem foi, mas pode vir a ser. É mais nesta reflexão que concentro.

Quanto ao resto, deixo um apelo aos jovens arqueólogos um apelo, aos presentes e aos futuros:

Está nas vossas mãos o futuro da arqueologia. Talvez não valha a pena desistir dela. Importa que estejais conscientes dos problemas que vai enfrentar se não começais a transformá-la noutra coisa. É sobre isso que me interessa intervir.

 

Um abraço a todos.

 

Manuel de Castro Nunes.



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