Re: [Archport] Sobre o conteúdo de uma petição online.
Caro Manuel Castro Nunes,
aproveito esta sua resposta, que muito agradeço, para esclarecer
também a minha condição profissional: não sou professora. Fui, entre
1994 e 1996, professora do 2º ciclo do ensino básico, mas a minha
relação com o ensino é, neste momento, como a sua com a arqueologia:
considero que todas as questões relativas ao ensino e à formação devem
ser áreas de intervenção de uma cidadania responsável, que procuro
praticar.
Relativamente às outras questões levantadas, a direcção da APA terá
todo o gosto de discuti-las na sessão de trabalho que em Abril amavelmente nos
comunicou a intenção de realizar e cuja concretização aguardamos.
Cordialmente,
Maria José de Almeida
P.S. Parece-me razoável não saturar esta lista com trocas de mensagens
deste tipo e, se respondo com conhecimento aos restantes subscritores,
faço-o só porque reenviou hoje para a lista a mensagem que me dirigiu
apenas a mim ainda ontem, sem me "dar tempo" de lhe responder apenas a
si.
Quoting Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>:
Cara Professora Maria José de Almeida.
Como já o exprimi em vários contextos, eu não sou propriamente um arqueólogo
profissional. E sabe também que, para mim, a arqueologia é, antes de uma
profisão, uma disciplina e uma área de conhecimento, uma área de cultura
também, uma área de intervenção de cidadania. Eu poderia ser hoje um
arqueólogo profissional, mas preferi ser um estudioso da matéria
arqueológica, em transversalidade e no domínio do exercício de outras
disciplinas, como a história.
Quando me pronuncio sobre a APA não o faço nem como associado, nem como
arqueólogo profissional. Não alieno todavia o meu direito de me pronunciar
sobre a APA e as suas actividades, como me poderia pronunciar sobre a Ordem
dos Médicos ou a dos Advogados.
E devo-lhe transmitir, para que não restem ambiguidades, que reconheço na
APA a estrutura legítima de associação profissional dos arqueólogos, porque
não conheço mais nenhuma. E que me solidarizo com a APA sempre que traz a
público o menosprezo a que vem sido votada pelas entidades tutelares do
Estado. E que entendo que à APA deveria ser reconhecido um papel mais
determinante na determinação da orientação da política de intervenção
pública e privada sobre o património arqueológico e na supervisão dos
procedimentos que orientam a intervenção empresarial, bem como na sua
regulamentação.
Ora, é exactamente por essa razão que não imputo ao Estado ou a qualquer das
suas extensões a responsabilidade da tarefa de proceder a um exaustivo
diagnóstico sobre os reais e não místicos problemas que se adivinham no que
respeita à integração profissional dos jovens e futuros arqueólogos.
Vossa Excelência cita a ineficácia da iniciativa do diagnóstico que tentou
realizar em 2006, bem como a ausência de resposta aos apelos para que os
associados participem com mais diligência nas actividades da APA e a ela
recorram no domínio da defesa dos seus interesses e direittos profissionais.
Não posso deixar de concluir, perdoe-me, senão que a APA tem que investir e
insistir numa mais incisiva capacidade de intervenção e mobilização.
Não posso esgotar nesta todas as questões que gostaria de comentar com Vossa
Excelência. Propus-lhe, de resto, recentemente, uma sessão de trabalho para
comentar convosco o conjunto de questões que continuam a aguardar uma
abordagem estruturada. E é por essa razão que não vou aqui desenvolver os
temas que se relacionam com a regulamentação da metodologia de avaliação de
impacto ambiental, nem a relação da formação académica, ou profisional, com
os requisitos para a intervenção nos diversos patamares do exercício
profissional.
Mas de uma coisa tenho a certeza. É a de que à APA falta um departamento de
interligação com os diversos centros de formação, académica e técnica, no
âmbito do qual se possa programar a racionalidade, quantitativa e
qualitativa, da formação de novos arqueólogos e a reciclagem dos que já
realizaram vários graus da sua formação. Não consigo deixar de estar
convencido de que seria um domínio crucial de intervenção de uma associção
profissional.
Bem como continuo a pensar que à APA faltam interlocutores. E deixo então um
apelo às empresas de arqueologia que se reunam numa associação empresarial.
Ficava, estou convencido, todo o tecido de exercício profissional mais
transprente.
Tenho também a certeza de que, com esta modesta intervenção, vou ao encontro
dos anseios de Vossas Excelências.
As minhas saudações.
Manuel de Castro Nunes
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Manuel de Castro Nunes