Reporto-me nesta intervenção a três anteriores. Uma do Professor José d’Encarnação sobre a tirania do Inglês na comunicação e produção científica, a recente da Professora Alicia Canto sobre a trivialidade da linguagem jornalística quando intervém sobre temas culturais e científicos e a do Doutor Vasco Gil Mantas sobre a II Guerra Mundial.
Ora, tornou-se recentemente corrente num determinado contexto de intervenção fundamentalista recorrente de exaustiva informação histórico-arqueológica, com o objectivo de caracterizar o substrato étnico e genético da população peninsular, nomeadamente da faixa atlântica, o recurso ou referência a uma categoria de nomenclatura proposta por Mendes Correia na década de 1940. O homo afer taganus.
A denominação é obviamente latina, como era então canónico. Mas nas recentes recorrências foi sistematicamente alterada, mesmo em alguns contextos académicos, para homo after taganus, intercalando, em substituição do determinante latino, o advérbio inglês.
A categoria de nomenclatura introduzida por Mendes Correia num dado contexto, que é o da proximidade das comemorações do império, vem carregada de riquíssimas alusões que interessam à história da Arqueologia Portuguesa. Seja, do ponto de vista científico foi prontamente contestada e constitui hoje um fóssil.
A deturpação, acidental ou não, remete-nos para questões que situamos na ordem do dia. Salda-se na erradicação da proposta original da explícita referência a um pressuposto, legítimo ou não, substrato africano.
Em que cabeça luminosa surgiu a ideia de intercalar numa denominação latina um advérbio inglês?
Mas o mais curioso é que as referências aparecem sempre acompanhadas de transcrições ipsis verbis do texto original de Mendes Correia. Ipsis verbis, bem, excluindo a subtil deturpação.
Manuel de Castro Nunes
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