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Re: [Archport] A tirania do Inglês. Mestiçagem linguística.

Subject :   Re: [Archport] A tirania do Inglês. Mestiçagem linguística.
From :   alicia.canto@uam.es
Date :   Fri, 04 Sep 2009 23:04:01 +0200

Me ha parecido sumamente curioso el caso que Ud. cita, aunque es tan escandaloso que, contestando a su pregunta (Em que cabeça luminosa surgiu a ideia de intercalar numa denominação latina um advérbio inglês?), lo creería debido, más que a una sumisión deliberada a la tiranía del inglés (que, en efecto, nos azota), a una crasa ignorancia del latín (algo por desgracia tan frecuente en nuestros días), o bien a una simple errata, seguida de la mala costumbre de algunos científicos de citar de otro lo que realmente no se ha leído (algo igualmente frecuente en las últimas décadas, o quizá de siempre).

Y, si me lo permite, le haría una pequeña acotación: La invención de la definición "Homo afer taganus" por el insigne científico portugués del que hablamos, Mendes Corrêa, no data de 1940, sino de bastante más atrás. Parece que él la formuló ya en sendos artículos de 1916 y 1917, en la italiana Rivista di Antropologia (1916-1917) y en los Anaes da Faculdade de Medicina do Porto (1917) (que no he podido encontrar en Red). Al menos así lo afirma él mismo en la nota 1 de este otro trabajo publicado en 1923 que, gracias a los esfuerzos digitalizadores de la biblioteca "Gallica" de la BNF (una verdadera mina), sí puede consultarse y descargarse, y espero que sirva para disfrute de los lectores de Archport aficionados a estos temas:

A. A. Mendes Corrêa, «Nouvelles observations sur l'Homo taganus, nob.», Revue Anthropologique XXXIII, 1923, 570-579, en: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k4425420.zoom.r=revue+anthropologique.f573.langES

Para terminar, no me resisto a transcribir esta curiosa definición del mismo Corrêa del portugués actual (de su tiempo), en Os povos primitivos da Lusitânia, 1924, p. 327:

"O português actual é dolicocéfalo, ortocéfalo (quase camecéfalo), metriocéfalo (quase acrocéfalo), levemente eurimetópico, de buraco occipital mesossema (quase megassema), leptoprósopo, cameconco ou mesoconco, leptorrínico, fenozígico (quase criptozígico), mesostafilino (quase leptostafilino), ortognata e megalocéfalo."

(La recuerda José Ramiro Pimenta (Dep. Geografia da FLUP) en interesante ponencia de 2005 sobre aquel autor: http://www.apgeo.pt/files/docs/CD_X_Coloquio_Iberico_Geografia/pdfs/108.pdf)

¡Quizá se lo puedan Uds. perdonar a D. António Augusto, dado el año en que lo escribió! ;-)

Saludos cordiales,
Alicia M. Canto


Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com> escribió:

> Reporto-me nesta intervenção a três anteriores. Uma do Professor José
> d’Encarnação *sobre a tirania do Inglês* na comunicação e produção
> científica, a recente da Professora Alicia Canto sobre a trivialidade da
> linguagem jornalística quando intervém sobre temas culturais e científicos e
> a do Doutor Vasco Gil Mantas sobre a II Guerra Mundial.
>
> Ora, tornou-se recentemente corrente num determinado contexto de intervenção
> fundamentalista recorrente de exaustiva informação histórico-arqueológica,
> com o objectivo de caracterizar o substrato étnico e genético da população
> peninsular, nomeadamente da faixa atlântica, o recurso ou referência a uma
> categoria de nomenclatura proposta por Mendes Correia na década de
> 1940. O *homo
> afer taganus*.
>
> A denominação é obviamente latina, como era então canónico. Mas nas recentes
> recorrências foi sistematicamente alterada, mesmo em alguns contextos
> académicos, para *homo after taganus*, intercalando, em substituição do
> determinante latino, o advérbio inglês.
>
> A categoria de nomenclatura introduzida por Mendes Correia num dado
> contexto, que é o da proximidade das comemorações do império, vem carregada
> de riquíssimas alusões que interessam à história da Arqueologia Portuguesa.
> Seja, do ponto de vista científico foi prontamente contestada e constitui
> hoje um fóssil.
>
> A deturpação, acidental ou não, remete-nos para questões que situamos
> na *ordem
> do dia*. Salda-se na erradicação da proposta original da explícita
> referência a um pressuposto, legítimo ou não, substrato africano.
>
> Em que cabeça luminosa surgiu a ideia de intercalar numa denominação latina
> um advérbio inglês?
>
> Mas o mais curioso é que as referências aparecem sempre acompanhadas de
> transcrições *ipsis verbis* do texto original de Mendes Correia. *Ipsis
> verbis*, bem, excluindo a subtil deturpação.
>
>
>
> Manuel de Castro Nunes
>
>
> --
> Manuel de Castro Nunes
>



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