Côa "é um museu de arte e esta vai até ao século XXI" Manuel Roberto
Director do Igespar defende arte contemporânea no Museu do Côa
Elísio Summavielle considera que o novo museu "necessita de um gestor cultural" e de um modelo de gestão "alargado e autónomo"
Público, 23/09/09
O novo Museu do Côa - cuja abertura está prevista para breve embora ainda sem data marcada - é "um espaço fantástico do ponto de vista arquitectónico, com condições excelentes para concertos, festivais, bienais de artes plásticas", diz o director do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), organismo que tem neste momento a gestão do projecto.
E é por acreditar que ali "o contemporâneo deve conviver com o passado" que Elísio Summavielle defende, numa entrevista conjunta ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, "um modelo de gestão alargado e mais autónomo do que seria o de um museu apenas de arqueologia paleolítica".
"A âncora ali são as gravuras [de arte rupestre paleolítica], mas é um museu de arte e esta vai até ao século XXI", afirma Summavielle. E sublinha: "É uma casa que necessita de um gestor cultural." Além disso, deverá ter "um considerável grau de autonomia, nomeadamente financeira, em relação ao Ministério da Cultura e Igespar", com um modelo de gestão que pode passar por uma fundação ou uma sociedade empresarial com o Estado como principal accionista, e que envolva a Associação de Municípios do Vale do Côa e produtores privados.
Contestação é "localizada"
Questionado sobre as críticas dos arqueólogos à política para a arqueologia desenvolvida pelo Igespar (que voltaram a ser repetidas num debate organizado na semana passada em Lisboa pela Associação dos Arqueólogos Portugueses), Summavielle considera-as "situações de contestação perfeitamente localizadas, que vêm do ex-Instituto Português de Arqueologia".
Por outro lado, "há no terreno milhares de arqueólogos a operar, através de empresas da área da arqueologia preventiva", e entre estes não tem "colhido essa contestação". Esta é até, afirma Summavielle, "uma actividade que aumentou muito nos últimos três anos" e onde existe "um volume de negócios bastante considerável", até porque, por lei, os promotores imobiliários são obrigados a fazer escavações antes de iniciarem as obras.
Summavielle, no cargo há quatro anos, admite que o PRACE (Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado) para a Cultura lhe causou algumas dificuldades. Embora reconheça que "faz sentido que as cinco regiões [para as quais existem Direcções Regionais de Cultura] tenham autonomia para fazer investimentos e gerir o seu património classificado", acha que devia haver ajustes em relação à salvaguarda desse património.
"Devíamos ter extensões regionais nas cinco regiões", diz, o que permitiria ao Igespar acompanhar desde o início um pedido de parecer para intervenções em áreas de património protegido. Actualmente o processo é iniciado pela Direcção Regional, cujo parecer não é vinculativo, e só passados 25 dias é que chega às mãos do Igespar, que dá o parecer final (vinculativo) e que pode ser contraditório com o da DRC. "Era importante que quem dá a cara e o parecer vinculativo acompanhasse o processo desde o início."
Obra para o novo Museu dos Coches "está parada"
A obra para o novo Museu dos Coches "está parada", afirma Elísio Summavielle, director do Igespar. Ainda não foi possível transferir os serviços ligados à Arqueologia [Centro de Investigação Paleo-Ecologia Humana e Arqueo-Ciências (CIPA) e a Arqueologia Náutica], que se encontram na Avenida da Índia, no local onde deverá nascer o novo museu, para o Torreão Poente da Cordoaria Nacional.
"Só com esses núcleos libertos é que a obra prosseguirá na Avenida da Índia". Summavielle admite que "tem havido algum impasse", mas afirma que este "é um calendário complicado dada a proximidade do acto eleitoral".
A hipótese que foi colocada da transferência do Museu Nacional de Arqueologia (MNA) também para a Cordoaria, onde ficaria ao lado dos outros serviços de arqueologia, não depende de Summavielle, que não tutela o MNA. No entanto, frisando tratar-se de uma opinião pessoal, considera "uma grande oportunidade para a arqueologia portuguesa poder dispor de um edifício como a Cordoaria". Ali pode nascer "a grande casa da arqueologia, que nunca existiu verdadeiramente".
Quando ao facto de a Cordoaria Nacional ser um edifício classificado e aos riscos de eventuais obras, Summavielle acredita que a nave central pode ser adaptada "sem que haja alteração estrutural do edifício".
Um outro dossier polémico que entrou recentemente no Igespar foi o do antigo Museu de Arte Popular (MAP), onde o Ministério da Cultura pretende fazer o novo Museu da Língua. Um movimento de cidadãos pela defesa do MAP pediu ao Igespar a reabertura do processo de classificação.
"O edifício já está protegido por se encontrar na zona monumental de Belém, o que faz com que qualquer intervenção tenha que ser previamente autorizada", explica Summavielle. No entanto, a nova proposta de classificação (que, a ser aprovada, protege também o interior) "tem uma fundamentação que não existia anteriormente", e face aos "novos elementos e ao facto de que se trata do último edifício da Exposição do Mundo Português", o conselho consultivo do Igespar entendeu "reabrir o processo de classificação".
Summavielle entende que "faz todo o sentido que o imóvel seja preservado e valorizado". Se vier a dar entrada no Igespar um pedido de parecer sobre um projecto de adaptação para um eventual Museu da Língua, essa será uma decisão que o director só tomará ouvindo o conselho consultivo. A.P.C.
Terreiro do Paço "mais minimalista"
Depois de ter "chumbado" o primeiro projecto para o Terreiro do Paço, de Bruno Soares, o Igespar deu parecer positivo ao novo projecto, no qual o arquitecto introduziu uma série de alterações. O primeiro "provocava demasiado barulho naquela praça", explica Elísio Summavielle, director do Igespar. Houve "diálogo" e "abertura por parte da equipa projectista", e no novo projecto "há um maior respeito pela geometria da praça" e não existe "uma intenção decorativa tão grande". "Está muito mais minimalista", resume.
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