Lista archport

Mensagem

Re: [Archport] ??? Director do Igespar defende arte contemporânea no Museu do Côa ???

To :   Jacinta Bugalhão <jacintabugalhao@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] ??? Director do Igespar defende arte contemporânea no Museu do Côa ???
Date :   Thu, 24 Sep 2009 00:39:25 +0100

Caríssimos
É sempre com muito agrado que me divirto ao ver as noticias do Archport, sobretudo quando por motivos profissionais me encontro fora de Portugal em terras do Tio Sam. De facto rio-me imenso com o atraso estrutural em que esse país caíu e sobretudo com a falta de formação cultural, económica e intelectual do meio arqueológico.
A proposta do Director do Igespar é uma proposta perfeitamente normal num país anglosaxónico onde a gestão do património cultural deve ser integrada, economicamente viável e destinada aos diversos públicos. Assim é que os Parques Nacionais dos EUA (já aqui invocados) são um sucesso neste país. Para além disso, são geridos por gestores profissionais (e não arqueólogos), possuem capitais privados e de risco e são integradores de uma nova forma de encarar os patrimónios em todas as suas variantes, incluindo o cripto-património e a "intencionalidade patrimonial".
Outro factor de elevada importância são as contratações por concurso públicos de ideias de técnicos multidisciplinares por períodos de 3 a 5 anos sob proposta de trabalhos de investigação, que são executados e implementados mediante objectivos claros que devem contemplar a divulgação do património e das descobertas das investigações junto das comunidades escolares e dos públicos turísticos.
Desta forma cria-se trabalho cientifico, produzem-se conteúdos para públicos especializados, dão-se a conhecer os patrimónios e evita-se a perpetuação dos mesmos pseudo-cromos-investigadores na governação eterna dos seus lugares (feudos) enquanto funcionários do estado, muitas das vezes impedindo novas linhas de investigação ou sonegando dados para seu usufruto.
A complementação destas estratégias dá-se com planos plurianuais de estratégias de gestão cultural que abrangem uma multidisciplinariedade de ciências e patrimónios com a Arte Contemporânea.  Esta mescla de dinâmica criativa é fulcral e extremamente frequente, fruto de uma estratégia de gestão estruturada, bem implementada com objectivos coerentes e possuidores de uma visão de futuro e presente, criando emprego e promovendo o desenvolvimento local. Com estas estratégias efectivas e com trabalho (e não politicas) temos a médio prazo a criação de clusters de industrias criativas e turísticas que complementam as necessidades locais e acabam por desenvolver mais valias sócio-culturais para além da exportação de sinergias económico-cientificas. 
Por tudo isto estranho opiniões de estupefacção sobre uma entrevista que pela 1ª vez tem ideias válidas que se forem bem aplicadas e complementadas com outras acções podem dar a volta ao "falecido" Parque Arqueológico do Coa.
De facto este meio para além de ser muito pequeno encontra-se fechado sobre si mesmo, na medida em que são poucos os profissionais que possuem uma visão ampla do património cultural. Se calhar é por isso que o estruturas como estas deviam ser geridas por gestores com provas dadas e não por arqueólogos, uma vez que estes já mostraram serem incapazes de criar emprego e riqueza sustentada, de promoverem um modelo de desenvolvimento integrado junto da comunidade local, de divulgarem o património para diversos públicos, de implementarem estratégias de captação de novos fluxos turísticos, etc.. etc..
As gravuras tornaram-se num pseudo feudo cientifico, extremamente politizado e inoperacional, junto de um dos maiores produtos turísticos nacionais - O Douro. Tal como as águas de uma barragem as gravuras estagnaram.
A tudo isto junta-se uma necessária reestruturação do plano nacional de barragens sobretudo quando investigadores de reputadas Universidades Nacionais começam apontar a falta de água para abastecimento humano às zonas da Beira Interior, como vector para o repensar da opção Côa.
Assim, a vida não está fácil para o Côa, ou como alguém já o denominou- o Rio da Morte.
Ironizando é caso para dizer que ou mudamos a nossa forma de pensar a arqueologia e nos abrimos ao mundo, ou então iremos continuar com um ensino e um meio profissional arqueologicamente politizado, de base escolar e profissional próximo do PREC e com estágios na Festa do Avante.
Grave, muito grave, é a falta de visão, de sentido de operacionalização dos equipamentos públicos, da ausência de um modelo de gestão público-privado, da inexistência de estratégias de internacionalização do património do Côa enquanto produto cultural, do esquecimento da captação de fluxos turísticos duriense e espanhóis, etc.. etc..
E contudo isto contesta-se meia dúzia de ideias atiradas ao acaso mas desta vez bastante assertivas e correctas. Mais uma vez estou estupefacto com o vazio intelectual da nossa classe. Como diz um amigo meu, os arqueólogos esqueceram-se do Homem, o que importa são os gatafunhos e os cacos....Ou então o que importa são os tachos, os cacos e o partido!
>From USA with Love!
I´ll be back
Gonçalo Bettencourt



Mensagem anterior por data: [Archport] "Reconstrução em Arqueologia: possibilidades e limites" Próxima mensagem por data: [Archport] Arqueólogos contra desvirtuamento de Museu do Côa
Mensagem anterior por assunto: Re: [Archport] ??? Director do Igespar defende arte contemporânea no Museu do Côa ??? Próxima mensagem por assunto: [Archport] 3rd Aerial Archaeology Training School in Mérida (Spain)