Re: [Archport] ??? Director do Igespar defende arte contemporânea no Museu do Côa ???
Caríssimos
É sempre com muito agrado que me divirto ao ver as noticias do
Archport, sobretudo quando por motivos profissionais me encontro fora
de Portugal em terras do Tio Sam. De facto rio-me imenso com o atraso
estrutural em que esse país caíu e sobretudo com a falta de formação
cultural, económica e intelectual do meio arqueológico.
A proposta do Director do Igespar é uma proposta perfeitamente normal
num país anglosaxónico onde a gestão do património cultural deve ser
integrada, economicamente viável e destinada aos diversos públicos.
Assim é que os Parques Nacionais dos EUA (já aqui invocados) são um
sucesso neste país. Para além disso, são geridos por gestores
profissionais (e não arqueólogos), possuem capitais privados e de risco
e são integradores de uma nova forma de encarar os patrimónios em todas
as suas variantes, incluindo o cripto-património e a "intencionalidade
patrimonial".
Outro factor de elevada importância são as contratações por concurso
públicos de ideias de técnicos multidisciplinares por períodos de 3 a 5
anos sob proposta de trabalhos de investigação, que são executados e
implementados mediante objectivos claros que devem contemplar a
divulgação do património e das descobertas das investigações junto das
comunidades escolares e dos públicos turísticos.
Desta forma cria-se trabalho cientifico, produzem-se conteúdos para
públicos especializados, dão-se a conhecer os patrimónios e evita-se a
perpetuação dos mesmos pseudo-cromos-investigadores na governação
eterna dos seus lugares (feudos) enquanto funcionários do estado,
muitas das vezes impedindo novas linhas de investigação ou sonegando
dados para seu usufruto.
A complementação destas estratégias dá-se com planos plurianuais de
estratégias de gestão cultural que abrangem uma multidisciplinariedade
de ciências e patrimónios com a Arte Contemporânea. Esta mescla de dinâmica
criativa é fulcral e extremamente frequente, fruto de uma estratégia de gestão estruturada,
bem implementada com objectivos coerentes e possuidores de uma visão de futuro e presente, criando emprego e promovendo
o desenvolvimento local. Com estas estratégias efectivas e com trabalho (e não politicas) temos a médio prazo a criação de clusters de industrias
criativas e turísticas que complementam as necessidades locais e acabam por desenvolver mais valias sócio-culturais para além da exportação de sinergias económico-cientificas.
Por tudo isto estranho opiniões de estupefacção sobre uma entrevista
que pela 1ª vez tem ideias válidas que se forem bem aplicadas e
complementadas com outras acções podem dar a volta ao "falecido" Parque
Arqueológico do Coa.
De facto este meio para além de ser muito pequeno encontra-se fechado
sobre si mesmo, na medida em que são poucos os profissionais que
possuem uma visão ampla do património cultural. Se calhar é por isso
que o estruturas como estas deviam ser geridas por gestores com provas dadas e não por
arqueólogos, uma vez que estes já mostraram serem incapazes de criar
emprego e riqueza sustentada, de promoverem um modelo de
desenvolvimento integrado junto da comunidade local, de divulgarem o
património para diversos públicos, de implementarem estratégias de captação de novos fluxos turísticos, etc.. etc..
As gravuras tornaram-se num pseudo feudo cientifico, extremamente
politizado e inoperacional, junto de um dos maiores produtos turísticos
nacionais - O Douro. Tal como as águas de uma barragem as gravuras
estagnaram.
A tudo isto junta-se uma necessária reestruturação do plano nacional de
barragens sobretudo quando investigadores de reputadas Universidades
Nacionais começam apontar a falta de água para abastecimento humano às
zonas da Beira Interior, como vector para o repensar da opção Côa.
Assim, a vida não está fácil para o Côa, ou como alguém já o denominou-
o Rio da Morte.
Ironizando é caso para dizer que ou mudamos a nossa forma de pensar a
arqueologia e nos abrimos ao mundo, ou então iremos continuar com um
ensino e um meio profissional arqueologicamente politizado, de base
escolar e profissional próximo do PREC e com estágios na Festa do
Avante.
Grave, muito grave, é a falta de visão, de sentido de operacionalização dos
equipamentos públicos, da ausência de um modelo de gestão
público-privado, da inexistência de estratégias de internacionalização
do património do Côa enquanto produto cultural, do esquecimento da
captação de fluxos turísticos duriense e espanhóis, etc.. etc..
E contudo isto contesta-se meia dúzia de ideias atiradas ao acaso mas
desta vez bastante assertivas e correctas. Mais uma vez estou
estupefacto com o vazio intelectual da nossa classe. Como diz um amigo
meu, os arqueólogos esqueceram-se do Homem, o que importa são os
gatafunhos e os cacos....Ou então o que importa são os tachos, os cacos
e o partido!
>From USA with Love!
I´ll be back
Gonçalo Bettencourt