Caro Manuel de Castro Nunes Normalmente não costumo comentar intervenções arqueológicas realizadas em locais e sob condições que não conheço. Relativamente à necrópole romana de Évora fiz um excepção, pois como eborense conheço a topografia e história do local, inclusive das próprias instalações da referida escola. Motivo pelo qual, como cidadão e arqueólogo, decidi deixar a minha opinião sobre a eventual criação de um "campus" ou musealização "in situ", sumariamente aludidas via Archport. Conforme constatou não considero a hipótese prática (por exiguidade do espaço e contingências funcionais do estabelecimento de ensino). No entanto, não me repugna a ideia de aproveitar o baluarte, contíguo à escola, para instalar um centro de interpretação dedicado à necrópole, eventualmente abrangendo ainda o interessante sistema defensivo de Évora (cuja cronologia se estende desde o período romano até meados do séc. XVIII). Sempre seria uma forma de matar dois coelhos de uma só cajadada. Divulgar o espólio romano e proteger do abandono e da especulação imobiliária um dos baluartes menos conhecidos da cidade, devido à sua localização periférica. Infelizmente sempre foi mais fácil arranjar ideias do que verbas. Penso que este tipo de discussões é salutar e demonstra a vitalidade da comunidade arqueológica e genuíno interesse pelo trabalho do colegas. Os endereços que deixei na minha mensagem foram deixados propositadamente para demonstrar que qualquer pessoa minimamente interessada poderia facilmente descobrir através do Google que a necrópole não foi identificada na presente semana por acidente e muito menos foi destruída sem acompanhamento. Ricardo ----------------------------->
To :
archport@ci.uc.pt
Subject :
[Archport] Musealizar o quê?
From :
Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>
Date :
Thu, 15 Oct 2009 22:42:12 +0100 Caro Ricardo Gaidão.
Sintético, para não o incomodar, nem os circunstantes. Os
endereços que sugere não encaminham para qualquer informação nova,
senão o último, para a notícia do DN, que já conhecíamos.
Tive muita dificuldade em interpretar o sentido da sua alegação. A descrição que faz de um campus arqueológico, tal como propus, é liminarmente inadequada.
Musealizar o quê? Nada. Eu não propus musealização alguma, quem o
fez parece ter sido a Administração da Escola. O Caro Amigo, já agora,
propõe o quê?
Eu não compreendi. ----------------------------->
To :
archport@ci.uc.pt
Subject :
[Archport] A necrópole romana de Évora...musealizar o quê?
From :
Ricardo Gaidão <caioviator@yahoo.com.br>
Date :
Thu, 15 Oct 2009 13:57:02 -0700 (PDT) Basta consultar a cartografia do IGESPAR para confirmar que as obras de expansão das instalações da Escola Secundária Gabriel Pereira se encontram abrangidas por várias zonas de protecção legal (ver aqui e aqui). Por algum motivo a necrópole foi identificada, escavada e registada conforme manda a lei (ver artigo DN de 01/09/2009). Apesar de reconhecer a importância da necrópole para o estudo do processo de romanização do território peninsular, levanto sérias reservas quanto à sua eventual musealização e possíveis benefícios. Antes das obras de expansão da escola os únicos espaços de lazer ao ar livre das instalações resumiam-se a três áreas de má qualidade totalmente asfaltadas. A construção dos novos pavilhões foi feita à custa de parte destas. Vedar o que sobrou para criação de uma área musealizada parece-me uma exigência demasiado egoísta para os jovens que têm que passar o dia inteiro dentro do estabelecimento e necessitam de espaços de qualidade para o seu desenvolvimento salutar. Apesar de correr o risco de ser considerado idealista, continuo a defender que uma escola deve ser muito mais que um depósito de gente e que nem sempre mais edifícios significam melhor qualidade de ensino. Uma boa divulgação do património arqueológico vai muito além do facilitismo de receitas banalizadas. Coberturas protectoras, passadeiras metálicas e placas informativas não transformam forçosamente um conjunto de depressões carbonizadas, delimitadas por tijolos, numa "Plaça del Rei" (Barcelona). Mesmo sendo um cidade património mundial, os recursos para a protecção e salvaguarda do património eborense são parcos. O gestão equilibrada e abrangente dos mesmos será sempre uma solução melhor que a concepção de musealizações utópicas (recorde-se que o ano lectivo já começou e os alunos e docentes merecem igualmente um espaço de trabalho digno). |
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