Re: [Archport] Vandalismo de Estado na Sé?
Patriarcado de Lisboa invoca esquecimento para justificar realização
de obra ilegal na Sé
Público, 15/10/09, por Inês Boaventura
"É um episódio lamentável", diz o responsável pela Direcção Regional
de Cultura, sublinhando que a intervenção não estava autorizada
Esquecimento. É assim que o Patriarcado de Lisboa justifica o facto de
ter iniciado obras na Sé de Lisboa, com vista à reparação de "um
gradeamento que estava na iminência de poder cair para cima de
alguém", sem a necessária autorização prévia da Direcção Regional de
Cultura de Lisboa e Vale do Tejo.
A realização de obras na Sé de Lisboa, classificada como monumento
nacional, foi denunciada pelo Fórum Cidadania Lisboa, que divulgou
fotografias da intervenção e que descreveu como "uma acção de
vandalismo". Os trabalhos em curso acabaram por ser suspensos
anteontem, depois de o director regional de Cultura ter sido
questionado sobre o assunto pelo movimento de cidadãos.
"Desconhecíamos por completo a situação", declarou ao PÚBLICO aquele
responsável, que garante que ao órgão que dirige não chegou qualquer
pedido de autorização para a realização da obra. "É um episódio
lamentável", afirma Luís Marques, explicando que, assim que o caso
chegou ao seu conhecimento, enviou técnicos ao local e contactou os
cónegos responsáveis pela igreja.
"O cónego Lourenço mandou parar as obras porque no meio do processo se
tinham esquecido de avisar a parte da cultura", explicou, por sua vez,
o director do departamento de comunicação do Patriarcado de Lisboa,
frisando que estavam em causa "obras necessárias" para evitar a queda
de um gradeamento. "Não tinha tomado consciência de que a autorização
não tinha sido pedida", precisou o padre Edgar Clara.
O porta-voz do Patriarcado disse ainda que esta instituição "tem
sempre a preocupação de se reunir com os técnicos da Direcção Regional
de Cultura" e de seguir "os trâmites legais", o que não se verificou
neste caso concreto. O padre Edgar Clara sublinha que "o normal" seria
a obra agora interrompida ter sido feita atempadamente pelo Estado,
que é o proprietário deste monumento classificado.
Já Luís Marques destaca que "pela primeira vez" existe "uma
perspectiva integrada, uma visão global e não casuística", para a Sé
de Lisboa, graças a um "plano director" elaborado na sequência do
trabalho de "um grupo técnico interdisciplinar". O seguimento e a
musealização das escavações arqueológicas no monumento nacional, a
reposição dos claustros e a reabilitação da torre norte são algumas
das intervenções a realizar, parte das quais será comparticipada pela
empresa Somague.