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[Archport] Res: Acontecimentos no Porto Torrão (Neoépica Lda.)

Subject :   [Archport] Res: Acontecimentos no Porto Torrão (Neoépica Lda.)
From :   "Paulo Monteiro" <pmonteiro@ntasa.pt>
Date :   Sat, 24 Oct 2009 14:32:47 +0100

Tomás Ponce Dentinho, um excelente embora que um tanto excêntrico professor meu de Economia II, costumava perguntar aos seus alunos:

"Porque é que há médicos que cobram 100 euros por uma consulta de 10 minutos?"

E a reposta dele era: "Porque as pessoas necessitam de forma verdadeiramente vital de tratamento e porque não há outros médicos que cobrem 5 ou 10 euros por consulta, logo o custo de uma consulta é nivelado por cima".

Depois perguntava: "Porque é que há pessoas capazes de pagar a um arquitecto 1500 euros por um dia de trabalho de 8 horas, quando há tantos arquitectos que trabalham a 5 euros por hora?"

E a resposta era: "Porque essas pessoas são atraídais por razões de ordem estética ou de status e prestígio social para esses profissionais e porque valorizam o seu trabalho tanto que o custo do seu dinheiro se torna irrelevante quando comparado com a satisfação que recebem pela obtenção desse serviço."

E agora pergunto eu: "Porque é que, apesar dos promotores de obra terem que FORÇOSAMENTE ter que recorrer aos serviços de um arqueólogo, estes recebem 50 euros e não 200 ou 300?"

E respondo: porque há arqueólogos que preferem, num mercado que é verdadeiramente corporativo, prescindir desse facto e preferindo antes receber 50 euros que 200 ou 300...

Eu não sei que raio é tão dificil de entender nesta frase: o mercado, meus amigos, somos nós que o fazemos.

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De: archport-bounces@ci.uc.pt
Para: archport@ci.uc.pt
Enviada em: Sat Oct 24 13:51:59 2009
Assunto: [Archport] Acontecimentos no Porto Torrão (Neoépica Lda.)

Na sequência dos comentários que têm sido proferidos nos últimos dias acerca do sucedido na escavação do sítio de Porto Torrão, sob responsabilidade da Neoépica Lda., e uma vez que sentimos que o bom nome da empresa tem sido posto em causa por comentários pouco abonatórios acerca da sua conduta, a direcção da Neoépica achou por bem tecer alguns comentários sobre o sucedido.

Entristece-nos que seja em torno da Neoépica que se debata um assunto que merece toda a nossa atenção e preocupação, como são as condições de trabalho dos profissionais de arqueologia. Entristece-nos sobretudo porque sempre nos pautámos por garantir a todos os nossos colaboradores as melhores condições de trabalho possíveis e todo o respeito que merecem, prova disso foram os comentários proferidos por antigos colaboradores, que publicamente agradecemos.

Entristece-nos que se tenha dito que pagamos 33 euros diários a quem trabalha connosco e que se tenha dado a entender que estivemos parados toda a semana por causa da chuva sem que tenhamos pago um “tostão”.

A bem da clareza de informação, importa dizer que os 7 arqueólogos que saíram da escavação recebiam entre 50 e 55 euros diários, dependendo da função que desempenhavam, mais o alojamento, despesas associadas ao alojamento e deslocação entre o local de trabalho e as casas onde se encontram alojados. É certamente pouco e, feitas as contas que todos conhecemos, sobram cerca de 35 euros. Mas também é verdade que esse gasto é real e que, se para uns são apenas 35 euros, para quem paga são efectivamente 50. Para mais, quando falamos de 50 euros, referimo-nos ao valor mínimo que é pago aos profissionais de arqueologia que colaboram connosco, correspondendo este valor a funções de assistente de arqueólogo. Os valores para quem assume funções de responsável sobem até um máximo de 70 euros. Mas o problema das precárias condições de trabalho não deve ser analisado com base nestes números, que embora baixos como todos concordamos, estão como também sabemos dentro da média dos valores praticados pelas empresas de arqueologia e até mesmo acima desta, como muitas vezes nos é transmitido pelos profissionais que colaboram connosco. O problema toma proporções muito maiores e alastra-se a todos os profissionais que trabalham em regime de recibos verdes nos mais variados sectores. No que se refere à arqueologia, devemos igualmente acrescentar que quando iniciámos a nossa actividade como empresa de arqueologia tínhamos um preçário de pagamento aos nossos colaboradores relativamente diferente do que se pratica agora. No entanto, ao fim do primeiro ano percebemos que a nossa utopia de pagar um valor considerado justo não nos permitia mantermo-nos no mercado, razão pela qual ajustámos esses valores. Não obstante, tivemos sempre a preocupação de os manter sempre que possível acima do praticado no mercado e garantindo como ponto de honra o pagamento atempado dos mesmos, como aliás é a nossa obrigação. Igualmente sempre fizemos ponto de honra que os profissionais de arqueologia que colaboram connosco tivessem da nossa parte todo o apoio possível desde o primeiro ao último dia, de forma que em momento algum se sentissem abandonados à sua sorte. Por estas e por todas as outras razões, conhecidas de quem habitualmente colabora connosco, ficamos tristes com os comentários proferidos.

No entanto, devemos dizer, em abono da verdade, que realmente transmitimos aos colaboradores de Porto Torrão que não nos seria possível pagar o resto da tarde em que não se trabalhou por causa da chuva, acrescentando que estávamos a providenciar uma estrutura de cobertura da área da intervenção de forma a evitar que esta situação se repetisse. Este tipo de situação não é habitual na Neoépica, embora já tenha acontecido num ou outro caso. Geralmente, assumimos esses encargos. E ponderámos fazê-lo nesta situação. Contudo, face ao elevado número de elementos da equipa e aos custos que isso acarretava, optamos por transmitir que não poderíamos pagar o resto do dia. Na sequência disso, 7 arqueólogos optaram por não continuar a colaborar connosco, atitude que entendemos e respeitamos, embora lamentemos a forma como foi referida na archport. Falamos da paragem de uma tarde. Após breve conversa com a restante equipa, concordámos em encontrar uma solução de recurso que possibilite, nos dias em que não possamos estar no campo, minimizar essa paragem, por exemplo, lavando material.

Lamentamos assim que tenham usado o nome da Neoépica para “aflorar” a questão da falta de condições de trabalho na arqueologia e que, embora desconhecedores da verdade dos factos, algumas pessoas tenham feito comentários ofensivos acerca da nossa conduta laboral.

Estamos disponíveis e solidários para discutir as razões reais deste problema que descredibiliza os arqueólogos e a arqueologia em si. Acreditamos que a ausência de regulamentação da nossa actividade é uma das principais razões para a situação em que vivemos. No mercado empresarial, assistimos a uma gradual descida dos preços praticados nos serviços de arqueologia, obrigando aquelas empresas que se pautam pela qualidade a fazerem enormes esforços financeiros para executarem os trabalhos. E o mais triste é que somos nós arqueólogos e empresários quem contribui para isso, numa desenfreada concorrência que só descredibiliza a arqueologia. Nesse sentido torna-se urgente regulamentar a actividade e criar, uma conduta de vencimentos para os profissionais de arqueologia que seja cumprida e aceite por todos. Somente desta forma podemos concorrer de forma leal e credibilizar a actividade que nos une.

A direcção da Neoépica Lda.

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