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[Archport] Cara Drªa Maria José de Almeida

Subject :   [Archport] Cara Drªa Maria José de Almeida
From :   Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>
Date :   Sun, 25 Oct 2009 22:17:47 +0000

Cara Drª Maria José de Almeida.

 

 

Entre o que nos une e o que nos diferencia, na convicção de que reitero tudo o que anteriormente propus, relativamente ao que penso poder e dever vir a ser o papel da APA, e a minha sincera estima por si, não posso deixar de comentar a sua intervenção relativamente ao recente episódio de Porto Torrão. E não vou comentar explicitamente o episódio, porque, para mim, é apenas um episódio, circunstancial, entre muitos que se têm tornado motivo mais ou menos visível de polémica.

É mais do que óbvia a boa intenção e a boa fé da sua mensagem. Não posso todavia deixar de registar ambiguidades estruturais.

E a primeira é exactamente a expressa no último parágrafo. Porque se deduz dele que apela para que os profissionais de arqueologia se interroguem a si próprios e à sua consciência, antes de apontar o dedo às empresas ou às entidades tutelares, ou, mesmo, aos clientes, presumindo que os clientes não têm a intermediação das empresas de arqueologia, seja, são os beneficiários finais do serviço. Ora, estamos a falar de profissionais de arqueologia, cujos clientes, melhor dizendo, empregadores são as empresas de arqueologia.

E perdoe-me dizer-lhe que é essa ambiguidade que não permite distinguir com toda a clareza o tópico da APA, aperreada como uma cunha no conflituoso espaço entre os profissionais de arqueologia e as empresas de arqueologia. E foi por isso que já anteriormente propus que, enquanto não existir uma associação empresarial sólida e criteriosa, o tópico da APA ficará sempre por definir.

Bem, outra ambiguidade reside no facto de a APA continuar a dirigir os seus inquéritos às entidades integradoras dos profissionais. E se essa diligência constitui um importante instrumento de avaliação orientador da orientação dos profissionais, ela tem que ser complementada com um exaustivo diagnóstico das condições de integração, ou desintegração dos profissionais, porque é a eles que a APA deve servir.

E tenho a certeza de que preside à sua intervenção a melhor das intenções. Porque nos encontramos num ciclo de profunda ruptura da coesão do tecido social na sociedade portuguesa e, sem um espírito de diligente e bem orientada conciliação, não conseguiremos superar impedimentos estruturais.

Mas à APA, tendo todavia um papel crucial na mobilização de um contexto de arbitragem e na defesa da qualificação do serviço prestado em contexto de exercício profissional, cabe fundamentalmente representar os interesses dos profissionais. Em diálogo com as empresas e com a tutela.

E peço-lhe que não tome esta intervenção como uma interpelação pessoal. Sei que, na actual conjuntura, tornou-se muito difícil encontrar pontos de equilíbrio entre interesses dificilmente conciliáveis. Tome-a como um apelo, no seguimento de outros que tenho feito. E como a expressão da minha incondicional crença na sua boa intenção de intervir num difícil contexto.

 

Com a minha estima.

 

Manuel de Castro Nunes



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Manuel de Castro Nunes

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