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[Archport] Vandalismo rupestre

To :   <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] Vandalismo rupestre
From :   Luis Luis <lsimoesl@hotmail.com>
Date :   Sun, 1 Nov 2009 17:57:54 +0000

Caros colegas,

 

No final de Setembro tive a oportunidade de visitar o recém-inaugurado Centro de Interpretação da Barroca, promovido pela autarquia do Fundão e pela a Associação Pinus Verde.

 

Trata-se de uma valiosa instalação recheada de tecnologia, com conteúdos de natureza didáctica, que apresenta o nobre objectivo de valorizar o importante conjunto de arte paleolítica do Poço do Caldeirão, situado na margem direita do Zêzere, fazendo dele um recurso para o desenvolvimento daquela desertificada zona do Pinhal interior.

 

Se todos seremos unânimes em considerar meritória tal iniciativa, este projecto levou também à definição de um pequeno percurso pedestre em volta do rio, com passagem pelas rochas gravadas. Desde Agosto passado as gravuras passaram a estar sinalizadas e a ter acesso facilitado (imagens 2009_a e b).

 

Desde então foram também objecto de vandalismo (imagem 2009_c). Um novo motivo circular picotado nasceu sob o ventre de um caprino que compõe uma notável cena de cuidado maternal, sugerida aos seus autores pela forma da rocha que lhe serve de suporte (imagem de 2007 realçada).

 

Enquanto esteve na obscuridade, esta arte manteve-se protegida durante mais de 10.000 anos. Num par de meses foi vandalizada. Exemplos destes abundam. Só para falar em paleolíticos, recordemos o cavalo de Mazouco (Freixo-de-Espada-à-Cinta), com estrada alcatroada e placas indicativas, redesenhado a tijolo e chaves de automóvel. Ou, do outro lado da fronteira, Siega Verde, com vivas ao Real Madrid. A diferença entre os dois lados da fronteira é que Siega Verde foi entretanto vedada, enquanto que a primeira rocha com motivos paleolíticos ao ar livre identificada em Portugal continua a ser objecto de reinterpretações contemporâneas.

 

Se o património pode e deve ser um recurso ao serviço de todos, será contudo legítimo "valorizá-lo" sem termos consciência para que tipo de público o fazemos, e em que risco o colocamos ao fazê-lo de determinada forma?

 

Alguém se lembraria de deixar os painéis de S. Vicente de Fora no meio do mato sem guarda? Ou, talvez de forma menos provocatória, alguém se lembraria de abrir as portas da gruta do Escoural e deixar os visitantes entrar livremente, fazendo fé no seu civismo?

 

Aqui fica o testemunho.

Luís Luís

 



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