Para: MNArqueologia/Director - Luis Raposo
Cc: ARCHPORT
Assunto: Re: [Archport]Inscrições romanas pintadas. Será sério?
Caro Dr Luís Raposo,
Obrigado pelos seus comentários e pela sua disponibilidade e atenção.
Continuando a nossa troca de opiniões, devo dizer que, quando afirmei
que a arqueologia em Portugal seria melhor servida por museus
regionais de arqueologia – em edifícios modernos e construídos de raiz
- e que sou apologista de uma eventual extinção do MNA e da
re-distribuição das colecções do MNA por esses museus regionais de
arqueologia, tenho uma motivação e convicção pessoal nessa afirmação.
Nos tempos (longo idos) de escola secundária, quando me interessei e
dediquei á arqueologia e considerei formar-me como arqueólogo, um dos
meus “heróis” foi Estácio da Veiga, arqueólogo que, a par de Leite de
Vasconcelos e outros mais, foi dos pioneiros da arqueologia em
Portugal. Estácio da Veiga escavou principalmente no Algarve, região
de onde sou natural, e um dos “sonhos” de Estácio da Veiga foi sempre
a fundação de um “Museu Arqueológico do Algarve”. Por falta de apoio,
numa altura em que a tendência da sociedade de então era
fundamentalmente “centrista”, nunca conseguiu avançar com esse
objectivo, e invariavelmente, os materiais escavados ou recolhidos por
Estácio da Veiga acabaram no MNA em Lisboa.
A visão de Estácio da Veiga continua actual, contudo. A distribuição
dos materiais arqueológicos de um dado sitio arqueológico por diversos
museus em diversos pontos do país, não tem lógica hoje em dia em que
se vêm os objectos – seja uma moeda de ouro ou um fragmento de
cerâmica comum – como a soma de um todo que ilustra e documenta a
“história” de um sitio e uma ocupação humana desse sitio.
O que Estácio da Veiga sonhou para o Algarve, aplica-se em igual
medida para outras regiões do pais, quer seja o Minho ou o Alentejo.
Que sentido faz ter os mosaicos romanos de Torre de Palma em Lisboa,
quando estes poderiam estar num “Museu de Arqueologia do Alentejo” em,
por exemplo Évora, em conjunto com todos os materiais arqueológicos
provenientes deste sitio arqueológico? E em relativa proximidade (90
Km) do sitio arqueológico de proveniência.
Um cenário em que o MNA fosse substituído por museus regionais de
arqueologia não impedem que se criassem museus temáticos, quando isso
o justifique. Veja-se a titulo de exemplo, o Museu da Escrita do
Sudoeste localizado em Almodôvar – um museu temático e que acolhe
peças de vários pontos do Algarve e Alentejo.
Quando falo em extinção do MNA, não quero dizer que essa extinção seja
literal, mas sim seja uma remodelação do que é o MNA. Na minha opinião
existe um espaço na arqueologia portuguesa para um MNA que não detêm
colecções – materiais arqueológicos provêem de sítios arqueológicos e
como tal deverão estar em museus regionais próximos dos sítios de
origem – mas que funcionaria sim como um museu de exposições temáticas
temporárias, com materiais provenientes dos museus regionais. Aqui
sim, teria sentido sentido exposições temporárias como o exemplo que
aponta sobre a cultura castreja do norte de Portugal, com materiais
representativos e pertinentes provenientes de museus de todo o país, e
que no seu conjunto contem a “história” desse período, dessa cultura,
dessa ocupação. O mesmo poderia ser dito de outros períodos da
história de Portugal. Exceptuado académicos, poucos em Portugal, eu
incluído, conhece o que foi Portugal durante os períodos Suevo e
Visigodo, e que eu saiba, não existirá em Portugal um só museu que com
as suas colecções, e por si próprio, poderá contar essa história. E
assim sucessivamente para outros periodos/temas...
O MNA que eu gostaria de ver, teria também uma maior componente como
laboratório de investigação e restauro que apoiaria todos os museus
arqueológicos do país, um local de formação profissional de
arqueólogos e técnicos de museus de arqueologia, mas também de
formação de arqueólogos “amadores” e do público em geral. O British
Museum e o Museum of London são bons exemplos desta componente de
laboratório de investigação e restauro, assim como de museus que
apostam forte na formação profissional quer de arqueólogos e
conservadores de museus mas também do público em geral.
Portugal não tem a mesma tradição de “arqueólogos amadores” que existe
no Reino Unido, mas deveria tê-lo – quer os arqueólogos profissionais
de carreira o queiram ou não! Quem seguir um pouco o que se passa em
arqueologia no Reino Unido saberá que os arqueólogos amadores são uma
verdadeira estrutura de apoio á arqueologia profissional, não só no
trabalho de campo (desde a prospecção de novos sítios até voluntários
de campo ao serviço de arqueólogos profissionais) mas também na
educação e sensibilização do resto da sociedade para a importância do
património arqueológico. Os museus arqueológicos (e os arqueólogos
profissionais) deverão ser os motores deste movimento.
Folgo em saber que o MNA tem cerca de 120 a 130 mil visitantes/ano.
Gostaria porém de saber quantos desses visitantes são Portugueses
(porque no fim são os Portugueses que “pagam” para que haja um MNA),
quantos desses visitantes acordaram de manhã e disseram a si próprios
“Hoje vou visitar o Museu Nacional de Arqueologia” ou se o grosso
desses 120/130 mil visitou o MNA porque foi visitar o Mosteiro dos
Jerónimos (porque esse sim tem "pulling power"), e depois viu que há
um MNA no edifício e acabou por entrar nele. Teria o MNA o mesmo
número de visitantes se o MNA fosse, como queria o Governo, localizado
na Cordoaria? Gostaria de saber quantos em Lisboa conhecem que existe
um MNA, e dos que o sabem, quantos o visitaram ou tencionam fazê-lo em
breve? E se visitaram o MNA, regressaram mais alguma vez ou foi um
“one off”? E fora de Lisboa, qual é a percepção/utilização do MNA em
residentes no Porto, Viseu, Coimbra, Évora ou Beja? Afinal, um Museu
Nacional não é só para a cidade onde este é localizado!
Em termos de convicção pessoal, sou a favor de uma descentralização e
de uma regionalização das instituições. Não percebo porque é que a
Direcção Geral de Impostos terá forçosamente que ser localizada em
Lisboa e não poderá ser sediada em Viseu por exemplo, ou porque a
Direcção Geral de Viação não poderá ser localizada em, por exemplo,
Beja? Porque não alargar as oportunidades de emprego e participação em
instituições nacionais para residentes de outras cidades e contribuir
para a economia local dessas cidades? A tecnologia e a mobilidade que
temos hoje em dia permitirá decerto que essas instituições funcionem
tão bem noutros pontos do país como o fazem actualmente em Lisboa. Não
proponho que os Ministérios sejam desbandados para as “províncias”,
mas decerto poderíamos partilhar as instituições funcionais da
Administração Pública por diversos pontos do país.
O mesmo se aplica aos Museus Nacionais que agora se fala em criar ou
realojar – porque razão não poderia ser o Museu Nacional dos Coches
localizado em, por exemplo, Montemor-o-Novo? Provavelmente os custos
de construção e manutenção do Museu seriam metade do que custará
fazê-lo em Lisboa, e o impacto de um Museu Nacional poderia ter um
balanço positivo na economia local de Montemor-o-Novo. Requereria
porém um maior esforço no marketing do museu para atrair visitantes
que estivessem dispostos a viajar até Montemor-o-Novo para o visitar,
mas porque não? Os museus, enquanto Museus Nacionais, deveriam fazer
marketing para atrair visitantes de todo o país e não esperar ou
presumir que sendo localizados no maior centro populacional do país,
per si, lhes garanta a sua quota de mercado de visitantes a museus
portugueses.
No fundo, o que pretendo dizer é que o papel dos museus necessita de
ser coerentemente re-avaliado, não só onde estes são localizados, mas
também como são geridos no que diz respeito á sua “razão de ser” e no
seu desempenho para alcançar essa "razão de ser”. Um museu que não tem
percepção junto do seu público (nacional para os MN, ou regional para
os museus regionais/locais) não cumpre a sua função – funciona pouco
mais que como um depósito de colecções . O problema é que muitos
museus portugueses nem sabem qual a sua função (mission statement),
existem porque foram criados e continuam com os meios que têm/lhe são
dados, para os visitantes que têm, com um papel educativo reduzido
para as comunidades que seriam suposto servirem. O problema, esse sim
grave, é que este status quo contribui para que a classe politica, bem
exemplificado pelo Governo actual, veja os museus como uma despesa na
qual se pode cortar, porque afinal de contas, o eleitorado não se vai
queixar disso.
Prometo que numa próxima visita a Portugal, que poderá acontecer
dentro de 2 ou 3 semanas, irei visitar novamente o MNA, e que quando o
fizer, perguntarei por si e se o Dr Luís Raposo tiver disponibilidade,
terei o maior gosto em trocar impressões consigo!
Melhores cumprimentos,
Rogério Neves Domingos
2009/11/10 MNArqueologia/Director - Luis Raposo <
mnarq.director@imc-ip.pt>:
> Prezado Snr, Rogério Domingos,
> O seu e-mail abaixo contém numerosos motivos de reflexão, todos muito
> interessantes.
> A questão da boa ou má iluminação e posicionamento espacial das epigrafas
na
> exposição MNA deixa até de ter especial significado, tendo em conta a
> profundidade das outras questões de ordem mais geral que refere.
> Em todo o caso, ainda sobre esta primeira, renovo o entendimento que temos
> de que as condições de visibilidade e leitura das epígrafes estão muito
> próximas de ser as ideais.
> Quanto à contextualização, é bem verdade que esta exposição se centra
> intencionalmente nas peças, elas próprias. Textos (em português e inglês)
e
> imagens de apoio estão de propósito afastados das peças. Mas existem e são
> de diferentes tipos:
> -legendas curtas fixas
> -legendas desenvolvidas (que incluem a transcrição e tradução para
português
> e inglês de todas as epígrafes) móveis, quer dizer que o visitante pode
> levar com ele durante toda a visita
> -textos curtos sobre peças ou temas particulares
> -textos gerais sobre os sucessivos tópicos da exposição.
> Além disto, o visitante dispõe ainda de:
> -um roteiro muito breve da exposição
> -um guia um pouco mais desenvolvido
> -um catálogo extenso, uma verdadeira obra de referência
> Dispõe o visitante ainda de diversos produtos para venda em loja, tais
como:
> -réplicas de peças
> -t.shirts
> -objectos de adorno pessoal
> -postais ilustrados
> -1 jogo de educativo de sociedade ("As Pedras que Falam")
> Acrescem em termos educativos os numerosos programas, para todos os graus
de
> ensino e para públicos não escolares, que temos preparados e são
executados
> ao longo do ano e que pode consultar no nosso sítio Internet
> (
www.mnarqueologia-ipmuseus.pt)
> Dirá que tudo isto é pouco. E é, de facto.
> Mas, sendo pouco, já não é tão mau assim.
> Seja como for, o seu comentário coloca questões de outro âmbito e, estas
> sim, são muito sérias e merecem ampla reflexão.
> Interessa-nos sobremaneira ter como interlocutores pessoas com visões como
a
> sua. Precisamos em Portugal e nos museus de ideias refrescantes e até
> positivamente provocatórias. Essas ideias fazem-nos pensar; fazem-nos
talvez
> tomar consciência das limitações que nos impõem as nossas rotinas; ou
então
> e mais que não sejam, fazem-nos reforçar as nossas convicções, quando
> entendemos que estamos a fazer bem o que fazemos.
> Um fórum como o ARCHPORT não permite dialogar em profundidade sobre tudo
que
> refere no seu e-mail. E por isso desde já o convido a realizar uma
palestra
> no MNA, quando quiser, sobre os seus comentários não apenas sobre o MNA,
mas
> sobre os museus portugueses e/ou museus em geral. Como já deve ter
> percebido, faço este convite sem qualquer reserva mental ou intenção
oculta
> - muito pelo contrário.
> Entretanto, dir-lhe-ei ainda o seguinte acerca de algumas das suas
questões
> mais gerais.
> No fundo, o seu argumento sobre os museus, sobretudo os museus nacionais
(e
> não apenas o MNA português), é que eles deveriam ser extintos e as
colecções
> dispersas, para serem porventura expostos localmente, nas próprias ruínas.
> É uma ideia que tem sido ocasionalmente defendida e da qual discordo com
> veemência.
> Claro que dirá que discordo porque sou director do MNA - e eu não o posso
> negar, já que, na velha consigna de Unamuno, cada um é aquilo que é e
também
> aquilo que a sua condição o deixa ser. Mas tento ter a distância
> suficientemente para afirmar que discordo dessa ideia por razões bem mais
> fundas e de cidadania.
> Ao contrário que se possa supor, a fragmentação das colecções pela miríade
> de locais de proveniência, não é democrática e conduziria, pelo contrário,
a
> índices de elitismo social incompatíveis com o conceito de cidadania que
> prezo.
> Imagine que alguém quer saber o que foi a "cultura" castreja ou a
"cultura"
> megalítica. Só em museus que realizem este tipo de sínteses, com peças
> provenientes de muitos locais, o poderá concretizar.
> Caso contrário, terá de ter tempo e dinheiro para circular por todos esses
> outros locais e terá ainda de possuir o grau de literacia suficiente para
ir
> construindo em abstracto, na sua cabeça, a dita síntese.
> Existe muito mais, muito mais mesmo, mas este argumento é talvez já
> suficiente para se perceber porque considero que os museus, maxime os
museus
> nacionais, mantém toda a actualidade.
> O exemplo que dá de Milreu é particularmente feliz (como seria o de
> Alcalar), porque corresponde a uma visão estratégica, integrada, em que se
> articularam exemplarmente os planos local, regional e nacional e as
> valências dos sítios arqueológicos e dos museus, tendo sido opção
consciente
> não colocar colecções originais nos centros interpretativos dos sítios.
> Quanto ao resto (devem os museus ser mais activos e atractivos; devem
expor
> mais colecções, etc.)... bom, quanto a tudo isso, temos muito que caminhar
e
> nós somos os primeiros a reconhecê-lo.
> Alguma coisa temos feito (e agradeço ao Alexandre Monteiro, recordá-lo a
> partir da exposição actual da Quinta do Rouxinol), mas muito, muitíssimo,
> está ainda por fazer.
> Em todo o caso, o que temos feito tem sido compensador, a começar pelo
> aumento do número de visitantes que foi muito notável na última década,
> colocando consistentemente o MNA como o segundo museu nacional (do MC)
mais
> visitado (cerca de 120 a 130 mil visitantes / ano).
> Mas precisamos como pão para a boca da exigência construtiva de
comentários
> como o seu.
> Bem-haja, pois. E quando lhe for conveniente, diga-nos. Teremos todo o
gosto
> em divulgar uma sessão pública em que exponha os seus pontos de vista, a
nós
> equipa do MNA, a nós profissionais de museus, enfim, a nós arqueólogos que
> vivemos a arqueologia com um profundo sentido de responsabilidade social.
> Luís Raposo
>
>
>
> -----Mensagem original-----
> De: Rogerio Domingos [mailto:
rogerio.domingos@gmail.com]
> Enviada: segunda-feira, 9 de Novembro de 2009 22:38
> Para: MNArqueologia/Director - Luis Raposo
> Cc: ARCHPORT
> Assunto: Re: [Archport]Inscrições romanas pintadas. Será sério?
>
> Caro Dr. Luis Raposo,
>
> Não foi minha intenção fazer uma critica incisiva ao MNA, mas já que
> estamos de "mangas arregaçadas", deixe-me esclarecer que a última vez
> que visitei o MNA foi há dois (ou talvez três) anos atrás se bem me
> recordo, e nessa altura, a exposição de epigrafia latina estava bem
> diferente do que é apresentado na fotografia que inclui na sua
> mensagem. A sala estava bastante escura, e a iluminação consistia de
> spotlights de tons amarelados, que incidiam individualmente sobre cada
> lápide - algumas das lápides só podiam ser vista em dois lados, os
> outros dois estavam completamente no escuro. Do ponto de vista geral,
> estava muito "in", parecia o lobby de um hotel de cinco estrelas ou de
> uma galeria de arte, mas como museu cientifico e divulgação ao público
> em geral, a exposição falhava bastante, não só pela iluminação como
> também pela falta de material didáctico para uso na sala (haviam
> algumas folhas plastificadas disponiveis) assimo como para ser levado.
> O aspecto do "take away" de informação e imagens é bastante descurado
> pelos museus portugueses - e contribui muito para o divórcio que
> existe entre os Portugueses e os museus em Portugal, pois os museus,
> especialmente os Museus Nacionais, continuam a ser vistos como museus
> para as élites da capital.
>
> Eu serei o último a querer ou poder "aconselhar melhores práticas de
> conservação e fruição das colecções arqueológicas" - não sou
> arqueologo profissional ou museólogo - fiz outras escolhas
> profissionais - mas continuo apaixonado pelo tema e participo como
> posso. De qualquer forma tenho visitado muito museus de arqueologia
> pelo mundo, e permita-me que diga, que enquanto cidadão Português e
> "cliente" (isto é, visitante), penso que o MNA - como museu - não
> serve minimamente o país ou a arqueologia portuguesa. A área de
> exposição é minima, para não dizer insignificante em relação ás
> colecções que sei que o MNA guarda, e estruturada para mostrar os
> "tesouros" da arqueologia portuguesa. A ideia de se querer continuar a
> promover a "arqueologia como procura de tesouros" não serve a
> arqueologia que se faz hoje em dia. Temos que abandonar o conceito de
> museu como "gabinete de antiguidades". Eu sei também que o actual MNA
> é o sucessor de algo muito mais antigo e o espaço que ocupa nos
> Jerónimos traz problemas adicionais (não só de espaços como também de
> politiquices com os outros stakeholders nos Jerónimos), e que talvez o
> actual MNA seja o melhor que se tem podido fazer dentro dos parâmetros
> que existem.
>
> Atrevo-me contudo a dizer que, na minha óptica, o MNA deveria ser
> extinto, e as colecções redistribuidas por novos museus regionais de
> arqueologia, construídos de raiz, e com amplas áreas de exposição,
> para que as exposições sejam maioiritáriamente permanentes e
> musealizem adequadamente as colecções arqueológicas da região em
> termos cronológicas e por sitios arqueologicos. Posso citar-lhe, a
> exemplo, a villa romana de Milreu em Estoi - um conjunto adequadamente
> protegido e enquadrado para o visitante, contudo os materiais
> arqueológicos que teem vindo a ser recolhidos neste sitio desde o séc
> XIX, estão dispersos pelo MNA, Museu de Faro, Museu de Évora e penso
> também que num museu na Figueira da Foz (além do que está sómente
> armazenado algures). Quem visita Milreu, não tem no Algarve, a
> capacidade de visitar um museu que complete a "história" de Milreu
> como um dos mais importantes sitios arqueológicos do Algarve.
> Visitando o MNA também não o fará, pois só dois bustos encontrados em
> Milreu estão expostos no MNA! Quem diz Milreu, diz Torre de Palma,
> Miróbriga, Tróia, e muitos outros sitios arqueologicos em Portugal.
>
> Sou de opinião que o conceito de museus de arqueologia terá que mudar
> imenso em Portugal - temos que nos afastar de sermos um país de
> grandes museus nacionais centrados em Lisboa, assim como dos museus de
> paróquia ou de Câmara Municipal, que funcionam como sala de festas e
> para sessôes solenes! Seria preferivél termos bons museus regionais,
> "perto" dos sitios arqueologicos de onde proveem as peças, museus que
> contem uma história para a população que não é arqueológa mas que
> poderá ser educada em arqueologia, e porventura passar a ter maior
> sensibilidade para a preservação da nossa herança arqueológica.
>
> Não será á toa que temos um primeiro ministro/governo com especial
> desprezo pela arqueologia - reflecte a sociedade portuguesa em geral,
> que vê a arqueologia como uma ciência de élite para as élites. Os
> museus, como apresentadores do produto final da arqueologia não
> preservada in situ, têem que mudar a forma como exibem a arqueologia e
> terão que fazer marketing como qualquer empresa o faz em conquista do
> seu público, e também - e aqui isto é importante - saber ouvir a
> opinião dos seus "clientes" (os visitantes) e reagir de acordo - um
> museu sem visitantes (ou com números insignificantes) e pouca
> visibilidade no mercado cultural, serve sómente para perpetuar a
> imagem de que museus são a esfera privada de alguns que são pagos pelo
> Estado para fazerem as suas investigações e publicarem obras e
> enriquecerem o seu curriculo académico á conta do erário público.
>
> Como disse de inicio, não quero ser incisivo nos meus comentários -
> não os interprete dessa forma - mas sómente veicular a minha opinião,
> que porventura poderá ser partilhada por muitos dos 10 milhões de
> Portugueses que não arqueólogos ou museólogos. Penso que o propósito
> da ARCHPORT é a partilha de informação assim como a discussão de
> ideias, e dessa forma que subscrevo a lista e nela participo de quando
> em quando!
>
> Melhores cumprimentos
>
> Rogério Domingos
>
>
>
>
>
> 2009/11/9 MNArqueologia/Director - Luis Raposo <
mnarq.director@imc-ip.pt>:
>> Em anexo, aspecto da exposição "Religiões da Lusitânia", onde se expõe
>> maioritariamente epigrafia latina, com especiais cuidados de iluminação.
>> Esta iluminação das epígrafes tem sido considerada muito positivamente
> pelo
>> público em geral e pelos especialistas.
>> O mesmo se diga da secção de epigrafia egípcia.
>> Supomos portanto que não seja em relação aos espaços abertos ao público
> que
>> o snr. Rogério Domingos tem tamanhas razões de queixa.
>> Já a "reserva do MNA" (e não MNAE) não está aberta ao público, embora
seja
>> acessível aos investigadores e escolas. Aí, as condições de iluminação
são
>> efectivamente as gerais de espaços não abertos ao público.
>> Aceitamos de bom grado o contributo do prezado snr. Rogério Domingos para
>> nos aconselhar melhores práticas de conservação e fruição das colecções
>> arqueológicas, nomeadamente as que temos em reserva.
>> Trata-se de tema apaixonante, tão velho como Ruskin (da defesa da pureza
e
>> na dignidade da ruína, enquanto ruína) e Viollet-le-Doc (na defesa do
>> restauro pesado, segundo o "espírito da época").
>> Proximamente realizar-se-á em Cascais (26 a 28 de Novembro de 2009) um
>> Encontro Internacional em que estas matérias deverão certamente ser
>> abordadas: "A autenticidade e a identidade nas intervenções do património
>> construído". E mesmo sem querer fazer publicidade pessoal, direi que
> preparo
>> agora uma intervenção a fazer ai sobre "A autenticidade em arqueologia:
um
>> terreno de compromissos".
>> Falarei de estátuas pintadas e de monumentos reconstruídos e procurarei
>> reflectir em comum sobre as vantagens e desvantagens de cada uma das
> opções
>> de fundo em presença.
>> O prezado snr. Rogério Domingos será muito bem-vindo.
>> Luís Raposo
>> Director do Museu Nacional de Arqueologia (MNA)
>>
>>
>> -----Mensagem original-----
>> De:
archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:
archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome
> de
>> Rogerio Domingos
>> Enviada: segunda-feira, 9 de Novembro de 2009 15:12
>> Para: Joaquim
>> Cc:
archport@ci.uc.pt
>> Assunto: Re: [Archport]Inscrições romanas pintadas. Será sério?
>>
>> No Römisch-Germanisches Museum em Colónia, um dos museus de
>> arqueologia romana mais importantes fora de Itália, todas as
>> inscrições romanas estão "pintadas" a vermelho, e segundo me recordo
>> ler num quadro explicativo desse museu, terá existido evidência de que
>> tal seria também feito no periodo em que essas inscrições foram
>> feitas. De qualquer modo, o Doutor José d'Encarnação, mais do que
>> alguém em Portugal, será a pessoa indicada para fornecer uma opinião
>> de peso neste assunto, no que se refere a Portugal. Pessoalmente, não
>> desgosto da "pintura" pois facilita bastante a leitura e apreciação do
>> monumenos epigraficos - a experiência na visita á secção de epigrafia
>> romana do MNAE em Lisboa é péssima, a sala tem pouca luz e as
>> inscrições estão também mal iluminadas o que impossibilita a sua
>> leitura!
>>
>>
>> 2009/11/9 Joaquim <
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