DAMIÃO RODRIGUES SUSTENTA
Açores no centro das rotas atlânticas
Diário Insular, 27/01/2010
Demonstrar que os Açores desempenharam um papel na história “mais central do que aquilo que se poderia pensar” é um dos objectivos do investigador Damião Rodrigues. O investigador defende, por isso, que “as ilhas e os arquipélagos eram e são pontes naturais entre massas continentais e mundos oceânicos”.
“No mundo atlântico, as ilhas desempenharam várias funções estratégicas,
económicas, culturais e, por isso, não podem ser ignoradas”, explica.
“Integrar os Açores neste quadro, como tem vindo a ser feito, é demonstrar que
as ilhas eram mais centrais do que se poderia pensar”, continua.
ATLANTIC HISTORY
Damião Rodrigues tem, assim, explorado o conceito de “Atlantic
history”, de forma a desconstruir a ideia de que se trata, sobretudo, “de uma
história do Atlântico Norte e, em particular, do Atlântico inglês ou
britânico”.
“Quando falamos de “Atlantic history”, falamos de um modelo ou de uma tendência historiográfica que se afirmou a partir dos EUA, com Bernard Bailyn, e da Johns Hopkins, com Jack Greene”, explica.
Trata-se de uma corrente que, tomando como unidade histórica de base o espaço
atlântico, assume uma perspectiva integradora que contempla todos os povos e
regiões envolvidos nas dinâmicas de construção do «mundo atlântico».
Segundo Damião Rodrigues, “a “Atlantic history” tem, até ao momento, seguido
uma lógica historiográfica hegemónica que ignora ou secundariza o Atlântico
Sul”.
O investigador acredita ainda que “assistimos a uma internacionalização da
nossa historiografia, que passa pela ultrapassagem de mitos e de preconceitos
herdados de uma matriz nacionalista, que nos permite dialogar com outras
historiografias e criticar a hegemonia anglo-saxónica”.
No entanto, segundo o investigador, o conceito não tem ainda merecido a atenção
suficiente para gerar o debate.
Por outro lado, a “Atlantic history” enfrenta ainda desafios e críticas, entre
elas “ultrapassar a ignorância do Atlântico português ou luso-brasileiro e
abrir-se a outros espaços e histórias fora do Atlântico, mas que com ele e nele
se articulam”.
UM PROJECTO PARA A REGIÃO
O conceito de “Atlantic history” é ainda uma das bases do
projecto “Um navio ibérico para o Atlântico: construção naval, vida a bordo e a
escala de Angra nos séculos XVI e XVII”.
Trata-se de um trabalho da responsabilidade de Damião Rodrigues que vai receber
uma verba de 105.000,00 euros. O objectivo passa por valorizar o
património histórico e arqueológico da Região.
“Um navio ibérico para o Atlântico” relaciona-se com o conceito de “Atlantic
history” por “demonstrar a centralidade das ilhas nas rotas e nas vivências do
mundo atlântico, neste caso a partir dos Açores”.
O projecto, aprovado dia 23 pela Fundação para a Ciência e Tecnologia,
vem ainda aprofundar outro trabalho.“Este projecto continua e aprofunda um
outro que termina este ano e que tem permitido a realização de campanhas de
arqueologia subaquática na baía de Angra e a identificação de novos sítios
arqueológicos”, afirma.
Para o investigador, estes projectos vêm demonstrar que “afinal, a comunidade
académica e as instituições estão atentas à história e ao património
regionais”.
Damião Rodrigues é o primeiro orador no ciclo de conferências a decorrer na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo intitulado “Oceano de histórias - novos caminhos da história do Atlântico”.
“Portugal, as ilhas e a Atlantic history” é o tema do primeiro colóquio e vem
relevar os caminhos que a nova historiografia portuguesa traça no presente, em
particular nas ilhas, em resposta às exigências do resto do mundo.
Segundo Damião Rodrigues, pretende-se com este colóquio “apresentar o “estado
da arte” de uma das vertentes da actual historiografia nacional, que podemos
integrar na história da expansão portuguesa”.
Por outro lado, o investigador vai ainda “criticar a hegemonia anglo-saxónica”.
Marcolino Candeias, director da Biblioteca, afirma que a iniciativa surge de
uma “vontade antiga de abordar temáticas relacionadas com a história dos
Açores”.
“A oportunidade surge em parceria com o Centro de História de Além-Mar, sendo
que pretendemos dar continuidade às publicações relacionadas com a temática,
sendo que ainda existem lacunas e espaços a serem abordados”, explica.
A iniciativa promove conferências mensalmente, até Maio, sendo que o primeiro
colóquio acontece amanhã, pelas 18 horas.
http://www.diarioinsular.com/version/1.1/r13/?cmd=noticia&id=15863
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