[Archport] Porto Torrão - Maior povoado calcolítico em Portugal
Caros Colegas e Amigos,
Que o povoado calcolítico de Porto Torrão era o maior do país, já se
sabia desde 1981, ano em que o identifiquei, a partir de indicações do
Sr. Rui Patrício, então vereador da Cultura de Ferreira do Alentejo,
e do Dr.Clementino Amaro, confirmadas por escavações de pequena
amplitude aí realizadas em 1982 e 1985, cujos resultados foram
oportunamente publicados.
Durante vários anos tentei obter os meios necessários para organizar
uma equipa pluridisciplinar com capacidade para estudar devidamente um
sítio arqueológico que se adivinhava não só muito vasto, mas
complexo, e para o qual chegou a ser aprovado, nos anos 90, um
projecto plurianual de investigação, embora sem financiamento...
Infelizmente, a Ética arqueológica, que era um ponto de honra entre os
arqueólogos com quem me iniciei, nos anos 60, não se ensina nas
universidades, e é hoje considerada "uma coisa de velhos".
Talvez por isso, nem o IGESPAR, nem a EDIA, nem nenhuma das três
equipas que a EDIA encarregou da maior intervenção arqueológica até
hoje feita em Portugal num povoado pré-histórico tiveram a amabilidade
de me consultar ou convidar a participar nessa intervenção, apesar de
ter manifestado a minha inteira disponibilidade para o fazer, agora
que me encontro liberto, desde 2008, das funções que exerci desde 1986
no IPPC/IPPAR/IPA/IGESPAR.
Seja como for, só espero é que o Porto Torrão seja efectivamente
estudado, e também preservado, fisicamente, na medida do possível,
através da sua classificação, proposta há já bastante tempo, mas nunca
concretizada, pois poderia ser um importante foco de desenvolvimento
cultural para Ferreira do Alentejo, cuja Câmara Municipal se tem
empenhado, desde há muitos anos, na preservação e valorização do seu
património, e não continue a ser devorado, fatia após fatia, por obras
públicas e privadas, alimentando uma arqueologia preventiva que só tem
sentido e justificação se os os trabalhos forem realizados com a
qualidade que a importância excepcional deste sítio exige, e forem
devidamente publicados pelas entidades responsáveis pela sua destruição.
Com as melhores saudações,
José Morais Arnaud