[Archport] Ainda sobre as moedas romanas a peso e a propósito do post de NSV
É curioso o comentário publicado ao meu post sobre a venda de moedas romanas em lotes. Não percebo que conclusões precipitadas me atribui o subscritor anónimo que usa o pseudónimo de NOSTRAE SPES VNICA?
Limitei-me a transcrever uma informação contida em website:
?Moedas Romanas provenientes de escavação.Lote de 20 moedas provenientes de um lote maior, encontradas através de detectores de metal, ainda por limpar e restaurar?
A informação não pode ser mais clara: moedas romanas, obtidas por escavação e através de detector de metais? Qual é a conclusão precipitada???
Na realidade, suspeito (embora o não tenha escrito) que se trata de um achado em território nacional. Suspeito, mas não o escrevi?
O que faz a interpelação de NOSTRAE SPES VNICA cair no domínio que o Dr. Freud denominou como acto falhado (hoje mais conhecido pela designação de lapso freudiano): o leitor leu o que lá não estava, por razões que só ele conhecerá?
O comentário só reforça a minha convicção de que se tratará, de facto, de material encontrado em Portugal.
Quanto ao e.bay e aos certificados de exportação de materiais arqueológicos (designadamente moedas) dos países do leste europeu, estamos também bem informados. Sabemos que muitos desses certificados são simplesmente falsos e sabemos também que os verdadeiros, que também os há (e os falsos, também) são constantemente ?reciclados?, servindo para vários lotes de distintas proveniências.
Não me canso de recomendar a consulta do website do Illicit Antiquities Research Centre against the theft and traffic of archaeology. Particularmente interessante é a sua newsletter, de acesso aberto (o leitor encontra lá de tudo, incluindo o tema do e.bay e das exportações de antiguidades com supostos papéis legais):
http://www.mcdonald.cam.ac.uk/projects/iarc/culturewithoutcontext/contents.htm
Quem desejar informação suplementar para seriamente reflectir sobre o tema aconselha-se também:
http://www.mcdonald.cam.ac.uk/projects/iarc/research/illicit_trade.pdf
Para além de interessante e sugestiva bibliografia, como o livro de Colin Renfrew:
Renfrew, C. 2002. Loot, Legitimacy and Ownership: The Ethical Crisis in Archaeology (Duckworth Debates in Archaeology S.) London: Gerald Duckworth and Co.
Particularmente interessante, no caso vertente, por narrar com detalhe justamente um célebre caso ocorrido em Inglaterra, com o tesouro de objectos (que não moedas) também supostamente importado legalmente (com papéis e tudo) de um país de leste e que afinal tinha sido encontrado na Grã-Bretanha.
Recomendo ainda, até por ter conhecido uma tradução portuguesa (não sei se boa ou má), o fundamental:
Watson, P & C. Todeschini. 2006. The Medici Conspiracy: Organized Crime, Looted Antiquities, Rogue Museums. Public Affairs.
(No direito anglo-saxónico o termo conspiracy corresponde àquilo que no Direito português se chama ?associação criminosa?)
Uma obra que relata a mega investigaçãop e processo judicial que mudou radicalmente os códigos de ética dos Museus. E já agora, porque é de ética que se trata, recomendo ainda a consulta de:
http://www.mcdonald.cam.ac.uk/projects/iarc/links/ethical-codes.htm
Termino, reforçando a minha única conclusão (eventualmente precipitada) do post anterior:
"Por estas e por outras parecidas é que se torna tão difícil o diálogo entre arqueólogos e detectoristas."
Carlos Fabião