Re: [Archport] ORDEM DOS ARQUEÓLOGOS:SIM OU NÃO?

[G M <grunhosearqueologos@gmail.com>]

Caros amigos e ex-colegas

O problema da Ordem dos Arqueólogos é antes de mais um problema ideológico. Senão vejamos. A criação de um sector cooperativo, fortemente blindado é algo que sempre incomodou e continua a incomoda uma determinada esquerda do colherim, que acredita num sector tipo PREC onde o trabalho é em prol da Nação. Talvez sejam esses mesmo, que não possuem prole, mas que nos últimos tempos são os "agit-prop" do sistema procurando a não mudança do mesmo. O Status-Quo só os beneficia. Sentados em lugares confortáveis, muitos deles dentro das instituições governamentais que gostariam de controlar totalmente fazendo delas um Farol ideológico do Património.
Passados mais de 30 anos sobre o PREC, Portugal não é o mesmo! Evolui, cresceu, democratizou-se. E a nossa classe? Continuamos na cepa torta, onde os faroleiros continuam a ser alienados andantes, que vivem num mundo muito próprio de uma pseudo-intelectualidade fajuta, usando muitas vezes a Cátedra das Universidades para a propagação politica de ideias obsoletos. E nós continuamos a bajulá-los...!!
E o que é que nos trouxeram esses ideais? Nada!!  As teorias dos iluminados não ganharam a sociedade civil e fizeram do arqueólogo um ser estranho, alienado, centrado nos cacos. No fundo a imagem que passa é a de um pobre idealista, sem pão para a boca e que cultiva o look do sem abrigo e outras coisas mais!
Se ironicamente me refiro a estas coisas, a verdade é que todos nós já ouvimos tudo isto e muito mais. Todos nós fomos empata obras e são poucos os que conseguem abstrair-se da maravilha do caco!
Precisamos de afirmação, de mudança de atitude e de consciência da nossa classe profissional se nos queremos afirmar como classe profissional, séria e socialmente útil. Também se não for assim ninguém quer saber de nós!
Nos tempos das antigualhas a Associação dos Arqueólogos e dos Arquitectos era um marco de prestigio, onde pontuaram e trabalharam alguns dos mais importantes progenitores de muitas das intervenções realizadas no Património Arqueológico e Arquitectónico Português.
Depois os tempos evoluíram, as profissões especializaram-se e os arquitectos autonomizaram-se, criaram a sua associação que na década de 90 passou a Ordem. Mas o mais importante foi que a profissão de Arquitecto credibilizou-se, ganhou estatuto e rapidamente foi assumida pela sociedade como socialmente útil e fundamental para a "construção" de uma comunidade/identidade. Basta falar com algum médico, engenheiro, arquitecto, advogado, biólogo, psicólogo, etc.. para sabermos bem quais os benefícios que obtiveram.
O que os soviets do património fizeram foi precisamente o contrário. Criaram os seus Kolkozes, rumaram ao Alentejo ou para a província durante as férias de Verão enquanto bebiam uns canecos e usavam mão de obra escrava na abertura dos seus buracos. Tudo isto suportado por alguns autarcas que acreditavam num futuro equipamento turístico panaceia da sua interioridade. 
E passados tantos anos desta ideologia do Komité em que é que ficamos? Para combatermos a iniciativa, a excelência e a inovação, nivelámos por baixo. Decaiu a qualidade, aumentou a desregulação, caímos em descrédito e aumentou-se o desemprego. Mas os sovietes não se preocupam com isso e apontam os dedos às empresas, essas sim o mal da arqueologia.  A verdade é que o Mundo mudou, o Muro caiu e os arqueólogos também devem mudar. Hoje mais de 95% da Arqueologia em Portugal é suportada (bem e mal) por organizações empresariais, sendo elas responsáveis por mais de metade dos empregos e salários dos profissionais da área. Contrariamente, todos conhecemos médicos, arquitectos, engenheiros, enfermeiros, professores, etc.... que são arqueólogos sem terem qualquer formação universitária na área.
Por tudo isto a Ordem é fundamental para a regularização da profissão e para a sua corporativização também. É preciso acabarmos com alguns dos mitos e criar um conjunto de direitos e deveres para o exercício da profissão e sua fiscalização. 
Sabemos todos que ela não vai ser a panaceia para os problemas do sector, mas muitos podem ser encarados e resolvidos através da regulamentação desta profissão.
Vamos por Ordem nisto e acabar com os medos do futuro, porque o nosso passado e presente só nos enterra!
Ordem precisa-se!
GMB - Gonçalo Bettencourt