Lista archport

Mensagem

Re: [Archport] A ideia... e a falta dela...

To :   Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] A ideia... e a falta dela...
From :   Rui Boaventura <boaventura.rui@gmail.com>
Date :   Tue, 6 Apr 2010 13:32:32 +0100

Caro, Manuel
 
É angustiante e desolador concordar consigo neste caso, mas retratou de forma brutalmente real e plausível a forma ignorante e de má fé como estes governantes e as suas clientelas gerem a coisa pública.
 
Rui Boaventura
 


 
2010/4/6 Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>

Parece ter ficado clara já, a ideia aparentemente aglutinadora que subjazia à formulação do programa Museu da Viagem ou Museu da Língua, projecto milenar, no sentido escatológico, que serviria ao Estado para deixar falecer à míngua, corrosivamente, ou desmantelar, progressivamente, as unidades componentes da Rede Nacional de Museus.

No fundamental, a ideia era uma nova Exposição do Mundo Português permanente, aglutinada em velhos tópicos e arquétipos de memória, congregados agora numa nova comemoração de centenários, no caso, da República. Uma comemoração da República com reis de novo, navegantes, epopeias, poetas, tudo na mesma sede, onde se celebraria o génio da Nação e da raça.

E tudo de novo reunido na Praça do Império, polarizado nos Jerónimos. É bem possível que estivesse para breve a desinstalação do MNAA, A seguir outros. Ou, na melhor das hipóteses, como têm defendido alguns teóricos da nova ordem, tudo deslocalizado para as regiões, o MNA em Coimbra, o MNAA no Porto, etc., nos Jerónimos e em seu redor ficaria o gesto, fosse ele a palavra, as múltiplas alusões, talvez até, perdoem-me o sacrilégio, o manguito de Bordalo.

Bem, em vários passos, aqui e noutras assembleias públicas, esta questão já foi suficientemente aludida para ser compreendida.

Há vinte anos, mais propriamente, 28 de Abril de 1990, propus sem ambiguidade que havia a intenção peregrina de comemorar o meio centenário da Exposição do Mundo Português, no contexto adjacente à actividade da CCDP. SEMANÁRIO, Revista.

Ao fazê-lo penso que traçava a caricatura da ideia que agora se alega.

E digo que se alega porque estou convencido, quando olho em redor, que só permanece já a ideia. Ao contrário do que todos alegam, o programa de desmantelamento que se inicia pelo MNA, é um programa de poupança, não de esbanjamento. É um programa de estrangulamento.

Alguém espera para breve a reinstalação do MNA na Cordoaria? Visitem os museus e iniciem o itinerário por Conímbriga, ou pelo Museu de Etnologia.

É pois mais do que óbvio de que o desalojamento do MNA dos Jerónimos serviu tão somente para o decapitar. Agora fica alojado em contentores, não haverá recursos para reinstalá-lo seja onde for. Era necessário decapitá-lo primeiro.

Mas o que é realmente divertido é que o Museu da Viagem ou da Língua, ou do manguito, perdoem-me uma vez mais, não passará também de uma ideia. Não me parece haver recursos para o realizar, talvez nem o Museu dos Coches.

O programa é debandar. Porque se há coisa que o regime compreendeu e aprendeu a utilizar com a habilidade da esgrima, de golpes baixos, é o encanto da ideia. Havendo ideia pode-se prescindir de a realizar. A ideia funciona por si e ancora as medidas preliminares da poupança. As ideias custam menos do que os edifícios.

O novo regime ultrapassou António Ferro pela astúcia. As ideias não necessitam de ser realizadas, funcionam por si. E António Ferro, brilhante nas ideias, reconheça-se, não estava ainda em contexto de o compreender. O dinheiro que pouparia…

Não nos esqueçamos de que a primeira e única ideia programática do actual Primeiro Ministro foi a de criar cem mil postos de trabalho numa legislatura. E no irromper da segunda, alegando a crise, voltou à carga, será nesta.

E como a crise subsiste, não haverá mais do que as ideias para estimular o sonho dos portugueses, exaltados com o seu glorioso passado de reis e gestas de armas, suscitando a catarse.

No Mosteiro dos Jerónimos não vai haver nada. Vai haver duas celebrações, no dia 5 de Outubro. O velório da República velha e a consagração, ou coroação, da República nova, que é apenas e ainda uma ideia, encobrindo um caos de ocorrências.

Ora, eu não sou bruxo… Sou apenas um tolo.



--
Manuel de Castro Nunes

_______________________________________________
Archport mailing list
Archport@ci.uc.pt
http://ml.ci.uc.pt/mailman/listinfo/archport




--
Rui Boaventura
Pr. Augusto Cabrita, nº1 , 4º Dto.
2610-288 Amadora
Portugal
Tel. (351)962742506

Mensagem anterior por data: [Archport] MNArqueologia: A propósito do comentário de MªJosé Almeida Próxima mensagem por data: [Archport] Anúncio - Procuram-se arqueólogos
Mensagem anterior por assunto: [Archport] A ideia... e a falta dela... Próxima mensagem por assunto: [Archport] AIE International Conference Rome 2012