[Archport] MNArqueologia: A propósito do comentário de MªJosé Almeida
O comentário da Maria José Almeida é muito pertinente, pois chama a
atenção para uma importante função museológica, que tem sido tão
descurada pelo Ministério da Cultura nas últimas décadas, atingindo
proporções alarmantes, dado o recente crescimento exponencial da
actividade arqueológica, relacionada com grandes projectos, como o
Alqueva: a gestão dos espólios arqueológicos. Com efeito, os museus
actuais, quer a nível nacional, que a nível regional, não estão
preparados para receber e gerir esses espólios, cuja conservação,
estudo, publicação e divulgação são a principal razão de ser das
intervenções arqueológicas, o passo essencial para transformar "as
pedras" e os "cacos" em conhecimento histórico, socialmente útil. Por
isso importa acautelar o imenso espólio conservado no MNA, resultado
de mais de um século de actividade arqueológica.
Porém, o mais grave, é a tentativa de apagamento dessa memória
colectiva, relegando-a para um local inseguro e inacessível, onde
dificilmente poderá continuar a desempenhar com a desejável eficácia o
seu papel didático, de educação patrimonial, tanto mais que uma grande
parte dos seus visitantes são os alunos do ensino secundário.
Em todas as grandes capitais europeias os museus de arqueologia têm um
papel de grande destaque, sendo dos mais visitados por nacionais e
estrangeiros. Claro que o MNA não é o Louvre, nem o British Museum,
não só porque a cultura material do país não é assim tão rica, mas
sobretudo porque os portugueses não saquearam tanto, por esse mundo
fora, mas importa mostrar e valorizar o que temos, e não o esconder
debaixo do tapete, como se de lixo se tratasse !
E tudo isto em nome de quê ? De uma hipotética ampliação do Museu da
Marinha, cujo programa se desconhece, se é que existe ? Da
instalação de um hipotético "Museu da Viagem", que evoque a "epopeia"
dos portugueses e a sua grandeza passada, uma espécie de recriação
virtual e pós-moderna da Exposição do Mundo Português, momento alto da
propaganda do regime salazarista ?
E que diz a esta perigosa jogada de xadrez museológico o recém
constituído Conselho Nacional de Cultura, que até tem uma secção de
Museologia, em que estão representados os mais destacados museólogos
do país ? Será que concorda, ou nem sequer foi ouvido ?
Enfim, por tudo isto, importa alertar e mobilizar todos os dirigentes
e técnicos dos museus portugueses, pois o que está em causa não é só o
MNA, e os arqueólogos que o defendem, mas toda a comunidade
museológica ! É preciso dizer sim, à mudança do que está mal, e é
muito, nos museus portugueses, após uma década de penúria, mas dizer
não a decisões precipitadas, sem adequado suporte técnico e
financeiro, que podem ter consequências irreversíveis para o país e o
seu Património Cultural.