José António Pinto Ribeiro
“Não vamos
desistir de reivindicar o tesouro”
Começa agora mais um capítulo da luta pelo regresso do Tesouro
de Chão de Lamas a Portugal. Com retorno agendado desde Maio do ano passado,
para uma exposição temporária em Lisboa, sabe-se agora que o espólio já não
vai regressar, nem temporariamente.
A novidade veio de Luís Raposo, director do Museu Nacional de Arqueologia de
Lisboa, que avançou que o tesouro vai permanecer “em terras de
Espanha”, por decisão do ex-ministro da cultura, José António Pinto
Ribeiro, que recusou financiar a vinda do espólio.
Descoberto por volta de 1913, na freguesia de Lamas, em Miranda do Corvo, o
Tesouro de Chão de Lamas apresenta um acervo de grande relevância
arqueológica, na medida em que é constituído por peças do período da proto-
-história, século I ou II a.C., sendo um dos poucos vestígios do povo
Lusitano. Estando ainda por averiguar o processo pelo qual o Estado espanhol
adquiriu o acervo (algumas fontes afirmam que o tesouro foi vendido pelo
proprietário das terras onde foi descoberto, a um ourives de Coimbra, e os
espanhóis defendem que «o tesouro terá sido comprado a um ilustre português,
entusiasta hispanófilo, a quem o Estado português teria demonstrado falta de
interesse na sua aquisição»), desde Março de 2009 que a Universidade Sénior
da ADFP, com o apoio da autarquia de Miranda, se tem desdobrado em esforços
para recuperar o espólio.
A vinda da exposição, em termos temporários, fora negociada pelos directores
dos museus nacionais arqueológicos de Lisboa e Madrid, Luís Raposo e Rubi
Sanz, no âmbito das comemorações, em Maio, do tratado de adesão de Portugal e
Espanha à União Europeia, ocorrida no Mosteiro dos Jerónimos.
«A Fundação ADFP não aceita que o Governo não se empenhe nesta exigência
perante os espanhóis. É intolerável que se desista da exibição temporária do
tesouro em Lisboa, como primeiro passo para o retorno definitivo», afirma
Jaime Ramos, explicando que, no entanto, não há qualquer tipo de hostilidade
dirigida à vizinha Espanha, até porque a ideia de trazer o espólio para
Portugal foi bem acolhida pela directora do Museu Arqueológico de Madrid,
durante uma conversa entre aquela e Luís Raposo, no ano transacto, uma vez
que o tesouro não é uma exposição central no museu da capital espanhola.
ADFP quer reunir com
ministra da Cultura
«A Fundação ADFP decidiu retomar o seu processo de luta, por considerar que
apesar do país atravessar uma penúria financeira, isso não é razão para se
entrar em bancarrota moral, já que as promessas são para ser cumpridas»,
avança Jaime Ramos, acutilante, adiantando que para já, a instituição está a
«estudar a possibilidade de deslocar a Madrid, em Junho, uma delegação da
freguesia de Lamas, para relembrar às autoridades espanholas que a luta do
povo português continua. Outra das acções programadas no processo de
reivindicação, passa por reunir com a actual ministra da Cultura, Gabriela
Canavilhas, estando a fundação já a «envidar esforços» nesse sentido.
O Tesouro de Chão de Lamas é constituído por seis peças de ourivesaria (uma
pulseira, colares, peitorais e dois vasos ornamentais em prata com ouro) e
moedas romanas com enorme valor arqueológico, sendo que o espólio tem estado
em exposição, na “Sala del Tesoro”, do Museu Arqueológico de
Madrid, desde 1922.
«Desde o início que nós sabemos que estamos num processo que vai ter sucesso,
não sabemos é quando, mas não vamos desistir de reivindicar o tesouro e de
sensibilizar a classe política e o Governo para o seu retorno»; completou o
presidente da Fundação.
Este domingo, no Encontro Nacional de Coros das Universidades Seniores, a
realizar em Miranda, no Parque Biológico da Serra da Lousã, a ADFP vai
solicitar o apoio de outras universidades seniores «para a luta de defesa do
património histórico».
Portugal não pode reclamar
tesouro do ponto de vista jurídico
Em entrevista à TSF, em Abril de 2009, o director do Museu Nacional de
Arqueologia, mostrou-se confiante que o Estado português consiga recuperar o
tesouro, afirmando, no entanto, que «Portugal não pode reclamar o tesouro do
ponto de vista jurídico». Acreditando na «boa vontade espanhola», Luís
Raposo, avançou, na altura, que «faz todo o sentido, no plano político,
sensibilizar as autoridades espanholas para a importância que o dito tesouro
tem para o nosso património».
Recentemente, também Natália Correia Guedes, ex-directora do Museu do
Oriente, defendeu o «regresso a Portugal de importantes obras do património
nacional, espalhado por todos os continentes».
http://www.diariocoimbra.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=7246&Itemid=135
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