Não poderia estar mais de acordo com o título desta mensagem. Mestre, porque o Nuno me foi pacientemente introduzindo nas obscuras artes das modernas tecnologias. Mas também amigo. Estava previsto ter vindo hoje uma vez mais ao Côa. Não era arqueólogo, mas vestiu a camisola, como o vi fazer com umas t-shirts estampadas que envergámos na luta que muitos travámos contra à extinção do IPA. Não queria de deixar de partilhar uma nota, que de pouco servirá neste momento, mas que poderá fazer-nos reflectir. Sabemos o que o Nuno deu ao IPA e depois ao IGESPAR (não sem antes ter passado algum tempo em casa sem ordenado, por não ser arqueólogo). A pergunta que deixo é: o que o Estado lhe deu a ele, para além de um recibo verde ao fim do mês? Que protecção terá a sua família agora, depois de mais de 10 anos de serviço dedicado? O Nuno morre trágica e inesperadamente na véspera de se tornar um funcionário público com direitos. Um abraço para a família. Luís Luís De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de Mário Almeida
A partida de um Gigante Morreu Nuno Caldeira, trabalhador independente, pai de família, especialista em Informática. Morreu como as estrelas, de morte súbita, abatido por um meteorito, no hospital. O céu que o rodeava estava dedicado à arqueologia onde Nuno entrou como estagiário e perito de sistemas de informação geográfica (SIG) no Instituto Português de Arqueologia (IPA). Nuno viveu um momento único da vida cultural portuguesa, acompanhando durante uma década a vida do jovem Instituto onde passou a desempenhar um papel charneira, a meio caminho entre o palpitar das memórias materiais do passado humano e a pressão desumana do mercado das ferramentas digitais. Mais jovem do que muitos dos colegas, conheceu-os a todos porque todos necessitavam dele. Nuno era mais alto em estatura do que a média, mas o seu gigantismo estava dentro dele. Por mais atarefado que estivesse, correndo de Foz Côa às redes dos colegas do Algarve, Nuno ouvia, escutava, resolvia, curava, como os grandes médicos de outros tempos cavalgando de noite, entre os pacientes, cada qual à beira do próprio e pessoal abismo. Preso na corrente da evolução do universo digital, agarrado aos compromissos orçamentais do mundo real, Nuno passou dos SIG às redes digitais e das redes a todo o lado. Mudava discos, placas, trocava ecrãs, sistemas operativos, verificava passwords, de sorriso nos olhos e chave de fenda na mão. Viu passar o Windows 2000, esperou que o XP amadurecesse, e assim por diante, consciente de que, em muitos casos, outros colegas ainda estavam no” Jurássico” digital, um universo que também lhe competia gerir, solucionar. Competente e disponível, ignorou a facilidade de dizer «Não». Ensinou ArcView aos leigos, ou o desenho vectorial em Autocad, tratando na sombra das grandes batalhas internas, firewalls e o resto, de noite, se necessário, quando os colegas já tinham ido para casa. A pressão em que viveu aqueles anos históricos não abrandou nunca, culminando na escalada que um dia lhe foi pedida até aos cumes da Ajuda. Dos anos junto ao Tejo, não resta hoje nada senão o pó do IPA à espera de novo destino. Neste campo de batalha da Avenida da Índia, Nuno Caldeira merece, da parte de toda uma comunidade, uma marca duradoira, uma pedra de lua, um fragmento de astro com o nome dele lá gravado e a dupla mensagem de muitos: Obrigado, Mestre. Adeus, Amigo. Jean-Yves Blot Arqueólogo
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