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Re: [Archport] Digest Archport, volume 80, assunto 115

Subject :   Re: [Archport] Digest Archport, volume 80, assunto 115
From :   Vera M <veramoitinho@gmail.com>
Date :   Thu, 27 May 2010 20:27:51 +0200

Fomos colegas no IPA, durante apenas dois anos. Não foi muito tempo, na realidade foi pouco...

Gostaria que nos tivéssemos cruzado mais vezes, pois foi um privilégio ter-te conhecido.

Estou certa de que continuarás vivo na memória de muitos.

Um grande abraço. Adeus, Nuno.

Vera Moitinho


Vera Moitinho de Almeida, PhD student
Laboratorio de Arqueología Cuantitativa y Aplicaciones Informáticas en Arqueología
Universitat Autònoma de Barcelona (UAB) - Departament de Prehistòria
Edifici B, Campus UAB, 08193, Bellaterra
Barcelona, España




Date: Wed, 26 May 2010 14:35:24 +0100
From: mj.arqsub@gmail.com
To: archport@ci.uc.pt
Subject: [Archport] Mestre e Amigo

A partida de um Gigante 

Morreu Nuno Caldeira, trabalhador independente, pai de família, especialista em Informática.

Morreu como as estrelas, de morte súbita, abatido por um meteorito, no hospital. 

O céu que o rodeava estava dedicado à arqueologia onde Nuno entrou como estagiário e perito de sistemas de informação geográfica (SIG) no Instituto Português de Arqueologia (IPA).

Nuno viveu um momento único da vida cultural portuguesa, acompanhando durante uma década a vida do jovem Instituto onde passou a desempenhar um papel charneira, a meio caminho entre o palpitar das memórias materiais do passado humano e a pressão desumana do mercado das ferramentas digitais.

Mais jovem do que muitos dos colegas, conheceu-os a todos porque todos necessitavam dele.

Nuno era mais alto em estatura do que a média, mas o seu gigantismo estava dentro dele.

Por mais atarefado que estivesse, correndo de Foz Côa às redes dos colegas do Algarve, Nuno ouvia, escutava, resolvia, curava, como os grandes médicos de outros tempos cavalgando de noite, entre os pacientes, cada qual à beira do próprio e pessoal abismo.

Preso na corrente da evolução do universo digital, agarrado aos compromissos orçamentais do mundo real, Nuno passou dos SIG às redes digitais e das redes a todo o lado. Mudava discos, placas, trocava ecrãs, sistemas operativos, verificava passwords, de sorriso nos olhos e chave de fenda na mão. Viu passar o Windows 2000, esperou que o XP amadurecesse, e assim por diante, consciente de que, em muitos casos, outros colegas ainda estavam no” Jurássico” digital, um universo que também lhe competia gerir, solucionar.  

Competente e disponível, ignorou a facilidade de dizer «Não».

Ensinou ArcView aos leigos, ou o desenho vectorial em Autocad, tratando na sombra das grandes batalhas internas, firewalls e o resto, de noite, se necessário, quando os colegas já tinham ido para casa.

A pressão em que viveu aqueles anos históricos não abrandou nunca, culminando na escalada que um dia lhe foi pedida até aos cumes da Ajuda.

Dos anos junto ao Tejo, não resta hoje nada senão o pó do IPA à espera de novo destino. Neste campo de batalha da Avenida da Índia, Nuno Caldeira merece, da parte de toda uma comunidade, uma marca duradoira, uma pedra de lua, um fragmento de astro com o nome dele lá gravado e a dupla mensagem de muitos: 

Obrigado, Mestre.

Adeus, Amigo.

Jean-Yves Blot

Arqueólogo


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