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Re: [Archport] "Porque é que me pergunta pelos visitantes?"

Subject :   Re: [Archport] "Porque é que me pergunta pelos visitantes?"
From :   Maria José de Almeida <mariajosedealmeida@gmail.com>
Date :   Thu, 5 Aug 2010 13:10:37 +0100

Por muito que nos custe, Helena Matos tem (parcialmente) razão.

 

A pergunta deve ser feita, tem que ser feita, mas não aos arqueólogos. Porque se for, a resposta arrisca-se a ser sempre a mesma que a foi dada por António Martinho Baptista.

 

A pergunta deve ser feita aos responsáveis políticos, e muito particularmente aos que estão ou estiveram envolvidos nas sucessivas gestões do Ministério da Cultura, depois desse extraordinário momento político que foi a decisão da suspensão da construção da barragem.

 

O principal problema do Côa não é a falta de valor cultural das gravuras – que é inquestionável e incalculável – nem de qualidade da investigação que sobre elas tem sido realizada – que é reconhecida e de qualidade. Os principais problemas do Côa são de ordem económica e social e, consequentemente, política.

 

As estatísticas disponíveis sobre a caracterização demográfica e socioeconómica do vale do Côa são assustadoras: falamos de uma região que está a perder população, onde há cada vez menos emprego, o índice de atractividade empresarial é miserável, o nível médio de escolaridade baixíssimo. Não é um retrato muito diferente de outras regiões do país, é certo, mas nesta há um valor cultural de relevância mundial que podia ajudar a inverter essa tendência. Contudo, a existência do património arqueológico, considerada isoladamente, consegue fazer pouco pelo desenvolvimento regional. O que consegue fazer foi o que já fez no Côa e isso não chega.

 

Os 280 mil turistas que faltam no Côa, faltam porque “as contas que nos deram para Foz Côa” não foram cálculos, mas afirmações políticas irresponsáveis. Que esqueceram também que esses turistas tinham que ter mais motivos para visitar o Côa para além das gravuras, e um desenvolvimento regional sustentável que garantisse as infra-estruturas e meios para os receber.

 

Pegando nas palavras escritas há uns dias nesta lista, nem o Côa pode fazer esquecer o estado actual do exercício da actividade arqueológica em Portugal, nem a inauguração do Museu do Côa e "as contas dos visitantes" devem fazer esquecer o que falta no Côa.
 
Falta uma definição clara do que se pretende para aquela região e um estratégia para o conseguir. Na qual o património arqueológico é uma parte, sem dúvida, mas que não deve ser confundida com o todo. Na qual os arqueólogos devem participar, sem dúvida, mas que é - essencialmente - uma responsabilidade política.
 
A nós, como arqueólogos, cabe-nos fazer o nosso trabalho todos dos dias da forma mais socialmente útil possível. Para não perdermos autoridade quando pedimos responsabilidades aos políticos ou respondemos aos jornalistas.

 

Maria José de Almeida

2010/8/5 Ricardo Charters d'Azevedo ricardo.charters@gmail.com

 

Interessante este artigo da Helena Matos, no “Espaço Público” de o Público de hoje 5.8.2010, pag 33 , subordinado a um título “Podemos perguntar à Rainha de Inglaterra”

 

“SÓ FALTAM 280 MIL -  •Já que estamos em matéria de História e Arqueologia vale a pena reler a resposta-pergunta formulada pelo chefe da equipa de investigadores do parque de Foz Côa, António Martinho Baptista, à jornalista do PÚBLICO aquando duma reportagem deste jornal a propósito da inauguração do museu do Côa: "Porque é que me pergunta pelos visitantes?" Não só a jornalista tem o direito de perguntar como tem o dever. Em 1998 foram-nos garantidos 300 mil visitantes por ano. Actualmente estima-se que esse número seja de 20 mil. O investimento feito na barragem perdeu-se. Tiveram de se construir barragens noutros rios cujo património natural urgia preservar. Noutros locais, como o Alqueva, outras gravuras foram submersas. Faltam 280 mil turistas nas contas que nos deram para Foz Côa e sobram-nos inúmeras perguntas sem resposta.”

 

 

 


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