Cara Maria José Almeida (e demais archportianos) Pois a mim nada me custa dizê-lo, mas Helena Matos não tem (nem parcialmente) razão. Porque a uma inimiga de estimação do Côa não se lhe poder dar qualquer pingo de razão. Porque todos os argumentos que lhe vamos ouvindo e lendo por aí, são sempre contra o facto político e económico e cultural e honroso para o país que foi o cancelamento da barragem em finais de 1995. Nunca uma opinião ou argumento lhe ouvi em defesa do excepcional património rupestre do Côa. Que os terá! Ou pensa-se que os políticos de 95 iam tomar tais decisões apenas pressionados por um imaginário bando de maltrapilhos paleolíticos, como verrinosamente nos classifica um tal de Mira Amaral? Por isso, como é usual no debate político (pois também é disso que se trata), nunca se pode dar razão (ainda que meia) ao adversário. Mas tu tens razão no teu argumentário, porque a minha resposta à 155ª vez (!!!) que me fizeram essa pergunta, não podia deixar de ser outra. Mas deixa-me acrescentar algo ao que foi publicado. Estava eu a tentar encetar o ataque a uma taça de arroz doce (confesso-me um indígena que se tornou guloso com a idade) quando me aparece (sem prévia combinata) a simpática jornalista do Público. Nunca por nunca deixei um jornalista sem resposta e enquanto terminava o repasto lá fomos falando. E a minha resposta-pergunta teve um pouco do espírito que o jornal transmitiu. Mas tinha mais. Perguntava-lhe também quem teria sido o autor desse número imaginário que durante anos foi de 200.000 e agora é de 300.000 e sei que números assim não podem ser atirados ao ar sem termos estudos de mercado que os suportem e eu sinceramente não conheço nenhum com credibilidade científica (nem de antes nem de agora). Digo-te só que esse número não é sequer atingido pela mais famosa (réplica) das grutas pintadas paleolíticas europeias, que é Lascaux. Mas dizia eu mais ainda à jornalista. Se ela alguma vez se tinha interrogado sobre quantos portugueses visitaram já a mais notável pintura primitiva portuguesa que é o políptico de S. Vicente de Fora, há mais de 100 anos exposto no Museu Nacional de Arte Antiga? Eu sei que não foi preciso parar uma barragem para o meter no MNAA (foi apenas retirado de sob os pés de um grupo de operários que o utilizavam como prateleira), nem a fraca afluência de portugueses (tudo isto é relativo) seria razão para o vender a patacos. E também sei que uma entrevista (gravada em dia quente e no remanso de um final de repasto) não pode transmitir tudo o que se diz, até porque a linguagem é coloquial e o espaço do jornal é sempre limitado. Mas, tendo em atenção o burburinho que se levantou com tal resposta, reafirmo aqui o seguinte: sempre pensei ser inútil responder a esse tipo de perguntas, que no entanto é normalmente a primeira que me fazem quando me pedem entrevistas sobre Foz Côa. Claro que é aos decisores políticos que ela deverá ser endereçada, ou então ao autor da dita afirmação, que parece nos amarrou ad infinitum a essa resposta certamente dada com a melhor das intenções, mas com pouco tacto político (convenhamos). E mais direi, pois durante anos conseguiu vender-se a ideia de que o projecto de Foz Côa era um projecto fracassado porque os números de visitantes não subiam... qual é o número mágico, qual é? E lá voltamos ao mesmo. E o resto? Desde logo a salvaguarda, estudo e divulgação da Arte do Côa. Mas também o museu que agora inaugurámos e que (parece-me) honra a arqueologia portuguesa e o país! E que hoje pela manhã, ao início do 5º dia de abertura (já que na 2ª feira esteve fechado) ultrapassou o visitante-pagante nº 1.000, a que se devem juntar as centenas que o visitaram gratuitamente no dia da sua inauguração política. Ou seja, falando de números, em menos de uma semana, por aqui passaram c. de 10% dos tais 20.000 que visitam (pagando) as gravuras anualmente! Mas se queres saber, como investigador, isto pouco me interessaria. Mas interessa-me hoje (e muito), porque o mundo é o que é: um jogo de interesses. E já agora, só mais uma precisão, para que conste. Não sou o "chefe da equipa de investigadores do parque de Foz Côa". Até porque há muito a investigação oficial estagnou no Vale do Côa. Pelo menos desde que se resolveu liquidar o Centro Nacional de Arte Rupestre... Mas respondo pelos conteúdos científicos do Museu do Côa e isso, posso assegurar, é inatacável, à luz do conhecimento actual. Saudações cordiais. A 2010/08/05, às 13:10, Maria José de Almeida escreveu:
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