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[Archport] Gravuras do Côa: Porque é que me pergunta pelos visitantes?

Subject :   [Archport] Gravuras do Côa: Porque é que me pergunta pelos visitantes?
From :   VICTOR MANUEL DOS SANTOS GONCALVES <vsg@campus.ul.pt>
Date :   Thu, 5 Aug 2010 13:42:01 +0100

Aquando da Grande Polémica sobre a Barragem, os argumentos foram, por vezes, próximo da demência. Lembro-me de ouvir alguém falar... num milhão de visitantes. Ora não estamos em França, nem sequer em Espanha. Estamos num dos países mais atrasados da Europa, com níveis culturais baixíssimos, uma política de subsídios estatais preversa e uma desordem administrativa total no campo da cultura. E, à míngua de um Marquês de Pombal, tremam se houver a insensatez de, neste contexto, recomeçar com a regionalização, não porque ela seja necessária num País tão pequeno, mas para se ganharem mais uns milhares de votos (à direita ou à esquerda).
Já com as antas de Elvas a catástrofe de visitantes respondeu à inadequação da oferta. Com outros circuitos acontecerá o mesmo...e com o Côa será igual ou pior, pela dimensão da coisa.
Na verdade, e por mais que me desagrade dizê-lo, o António Martinho Baptista tinha razão. Os números de visitantes não são com os arqueólogos, a não ser que eles se identifiquem preferencialmente como cidadãos. E aí é então legítimo dizer: «Pagámos para isto?»
Na verdade, o vale do Côa não é apenas nosso, é património da Humanidade, signifique isso o que significar, se é que significa alguma coisa. A intervenção era necessária e devido a um contexto muito específico foi possível concretizá-.la. Anos antes, ou anos depois, seria mesmo impossível. Ainda bem. Aparentemente o conjunto está preservado e vai ser muito difícil recuar. Óptimo. Mas, sendo arqueólogo, não me falem de visitantes, isso é com o IGESPAR e outros organismos das tutelas. Que criem esquemas publicitários, que animem o Museu com boa e inteligente publicidade, se for necessário com top models (bem escolhidas), que promovam eventos, que levem o Côs às rotas do Turismo cultural internacional. E sobretudo que eduquem os indígenas, em vez de os fazerem passar de ano sem reprovações, para ficarmos bem nas estatísticas.
Como? não sabem o que é? ou como? chamem profissionais, com arqueólogos como assessores ou conselheiros, mas, por favor, tirem-nos a eles, e às empresas de arqueologia, da gestão de projectos como o Côa deveria ser. Ou tudo acabará mais depressa que começou. Como em Elvas e em tantos outros monumentos e sítios, hoje ao abandono, sem uma estratégia nacional ou regional para eles.
Cornos para cima e fora de água, como diriam, se pudessem, as vacas do Côa, que além do mais pertencem a uma espécie que nada razoavelmente bem...
Victor S. Gonçalves

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