Lista archport

Mensagem

Re: [Archport] não desvirtuem o contexto da discussão.

To :   archport@ci.uc.pt, Ricardo Charters d'Azevedo <ricardo.charters@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] não desvirtuem o contexto da discussão.
From :   Pilar Reis <mariaferrerdosreis@gmail.com>
Date :   Wed, 1 Sep 2010 14:41:13 +0100

Boa tarde:

Peço-lhe desculpa por me dirigir pessoalmente ao seu e-mail, mas creio que a sua argumentação não é razoável pelo seguinte:

1º Porque a construção de barragens tem um conjunto importante de pontos negativos e positivos que devem ser avaliados e devidamente ponderados. Esta não é uma discussão nova, aliás aconselho a quem se interessar pelo assunto a ler, por exemplo, os resultados das reuniões da Comissão Mundial de Barragens. Infelizmente a imprensa portuguesa não aprofunda a questão nem investiga convenientemente os factos, uma pena sem dúvida e incompreensível, entre outras razões, porque a existência de grandes barragens nos principais rios portugueses provoca importantes alterações na costa portuguesa, já que estas obras retêm um volume importante da areia que "alimenta" a nossa faixa costeira. Por outro lado, nunca são dados os bons exemplos de desenvolvimento local originados pela construção de barragens portuguesas. 

2º A defesa do património existente no vale do Côa, que não se limita às gravuras mas a uma visão integrada da região envolvente, inaugurou uma revolução importante na arqueologia nacional, seja do ponto de vista legislativo, seja no âmbito profissional. Sabe quantas empresas de arqueologia existiam em Agosto de 1994? Quantos dos alunos de História Variante Arqueologia trabalhavam como arqueólogos em Agosto de 1994? Note-se, refiro-me à década de 90 não à de 70.

3º Conhece bem o concelho de Foz Côa? Consegue fazer uma leitura comparativa entre o que era antes e depois da descoberta e preservação das gravuras? Sabe quais são as dinâmicas económicas dessa região e quais as perspectivas de futuro? Quais são as necessidades reais deste concelho do interior português?

 4º O exemplo de Conimbriga, que lhe pareceu descabido, é interessante neste contexto. Sabe porquê não existe uma urbanização sobre o planalto de Conimbriga? Talvez desconheça, mas a construção do Museu Monográfico em 1962 foi e é o garante da protecção das ruínas. Sem ele e não tenhamos ilusões, toda Conimbriga estaria envolvida por lindas vivendas e prédios de quatro andares e um hotel com SPA sobre as Termas Sul. Acompanhou os destaques na imprensa nacional sobre o recente processo de aquisição de terrenos a serem integrados na área arqueológica e o que pensa sobre isso? Quer por em causa o impacte económico, social e obviamente científico de Conimbriga? Não julgue que Conimbriga se construiu em 15 anos e que não foi polémico para a comunidade local a aquisição dos terrenos (ainda é !), eram terrenos de grande importância agrícola para a comunidade.

 5º O Museu do Côa enche-nos a todos de orgulho, para mim como portuguesa o Côa é a nossa "jóia da coroa", é um património único que merece um investimento importante. Tem consciência da projecção internacional que o Côa nos trouxe? Certamente não. Sabe que um museu não é apenas o número de visitantes, que a sua existência abre as portas a outro tipo de parcerias que viabilizam a sua existência, que os valores implicados na sua construção e retorno é respectivamente muito inferior e muito superior que o da malfadada barragem? Que a sua duração não é comparável à de uma barragem, já que esta última, e como certamente sabe, tem um prazo de validade? Conhece profundamente o património que está em causa, a sua diversidade e o seu valor?

 6º Por fim e sem querer trazer à liça outras questões: quantas vezes ouviu os arqueólogos discutirem, por exemplo, os problemas profissionais dos engenheiros electrotécnicos? Ou dos advogados? É evidente que todos temos direito à nossa opinião, que os exemplos de outras comunidades profissionais são importantes, mas é preciso entender e conhecer o contexto em que se desenvolve a arqueologia profissional em Portugal e para isso não basta com ler a archport. 

 A sua opinião é importante, porque nos demonstra que existe um longo caminho a percorrer, que é necessário informar o cidadão português e investir na construção de uma sociedade mais esclarecida e menos amedrontada, mas compreenda também que referir o Museu do Côa como um vício, numa lista de arqueologia onde muitos dos que recebemos os e-mails se debateram pela preservação do Côa e conhecem os contornos que em 1995 envolveram essa opção, suscita, pelo menos, algum desânimo. Mas como lhe dizia, é muito importante a sua opinião, pelo que diz do nosso pais real e, se me permitir um conselho, um destes fins-de-semana aproveite e vá visitar o Museu do Côa, conte-nos depois a sua experiência.   


Pilar Reis

On 2010/08/31, at 22:58, Ricardo Charters d'Azevedo wrote:

 

Ora, ora, meu caro Castro Nunes… olhe que conhece, bem como aquele que nunca se engana e não tem dúvidas.

Mas coloquemos o tema em debate no seu verdadeiro contexto, que era simplesmente reagir à resposta dada pelo Presidente da Direcção da APA quando ele se insurgiu de um debate na TV onde afirmava “ninguém perguntou ao senhor Engenheiro quantos empregos é que a barragem traria, depois de concluída a obra? Sempre se poderia comparar, objectivamente, esse factor de desenvolvimento com o gerado pelo Parque e Museu do Côa”

Portanto não fui eu que introduzi neste debate o “economês”. Ainda por cima, o Sr Presidente das Direcção da APA escreveu (ai vai mais de economês”) que o Museu e Parque do Coa traz mais valias por [provocar]:

1.  “profissionalização da Arqueologia nacional”;

2.  “mudança de paradigma sobre a avaliação do património arqueológico”;

3.  “potencialidades do que esta estrutura abre ao nível da comunicação com o público e na investigação científica”

Aí reagi, pois para estes três pontos (validos, é certo) fica mais barato ao “Zé pagante” (esse todos o conhecemos) desenvolvê-los sem necessitar do Museu do Coa.

Não terei razão? Mas não desvirtuem o contexto da discussão…

 

-----------------------------------------------------------------------------

Em nome de Manuel Castro Nunes

Enviada: terça-feira, 31 de Agosto de 2010 20:06

Para: archport@ci.uc.pt

Assunto: [Archport] O cidadão.

 Pois... passando por cima do resto, que não faz qualquer sentido, será que Charters de Azevedo me poderá indicar onde posso encontrar esse rapaz, o cidadão, aquele, em nome do qual todos falam, que nunca está confuso?

Se o vir por aí, dê-lhe um recado meu. Pergunte-lhe se está convencido de que as mais valias da EDP ou outros benefícios que revertessem da construção de uma barragem se cifrariam em mais bem estar ele. Ficaremos logo a saber que é esse rapaz, o cidadão.

Eu nunca o vi. Não posso falar por ele.

Manuel de Castro Nunes

 

----------------------------------------------------------------------------

From: "Ricardo Charters d'Azevedo" <ricardo.charters@gmail.com>

Subject: [Archport] Presidente da APA

To: <archport@ci.uc.pt>

Claro que a questão colocada por Castro Nunes tem premissas erradas pois ninguém pensou em urbanizar Conímbriga. No Coa, o que se fez foi substituir um objectivo de investimento (a barragem) pour outro (um museu e conquemitantemente  uma formação de arqueólogos ). E nessa dicotomia  a cultura perde quase sempre. O problema é saber se o cidadão quer pagar mais impostos para ter cultura (claro que se dirá que ele o deve fazer SEMPRE), ou prefere pagar menos impostos e ter mais mordomias.

 

Mas atenção, o cidadão nunca esta confuso quando faz estas escolhas

 

 

_______________________________________________
Archport mailing list


Mensagem anterior por data: [Archport] Publicações disponíveis da Earth Surface Processes and Landforms Próxima mensagem por data: [Archport] The Prehistory of Iberia. Debating Early Social Stratification and the State
Mensagem anterior por assunto: Re: [Archport] não desvirtuem o contexto da discussão. Próxima mensagem por assunto: Re: [Archport] não desvirtuem o contexto da discussão.