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Re: [Archport] inadmissível

Subject :   Re: [Archport] inadmissível
Date :   Wed, 13 Oct 2010 23:12:22 +0100

Olá Luís!

O teu alerta é legítimo, e como te conheço, sei que te é díficil aceitar que alguém falhe em algo que se tenha comprometido. Faz parte da honra de cada um não falhar á palavra dada, mas por vezes as coisas não são assim tão lineares.

Em qualquer área de trabalho, um determinado trabalhador, caso receba uma proposta que ele considere melhor, pode rescindir o seu contrato, e passar a trabalhar para outra empresa, abandonando todos os seus projectos anteriores. Se isto é possível a um trabalhador com um contrato de trabalho, terá obrigatoriamente de ser também possível a um trabalhador independente (vulgo, recibos verdes).

Abordas a questão da penalização para um arqueólogo que abandone o trabalho a meio, sem elaborar os respectivos relatórios, e deixando as "tropas" entregues a si mesmas. Mas deixa-me partilhar contigo outras situações que também ocorrem, e das quais não decorrem qualquer tipo de penalização para com algumas empresas que desrespeitam os arqueólogos: dou-te como exemplo promessas de trabalho para vários meses, que afinal são apenas semanas; dispensar os arqueólogos sem um único dia de antecedência; exigir tratamento de materiais e relatórios finais sem que esse trabalho seja devidamente ressarcido; ter inúmeras frentes de trabalho e a empresa recusar-se a contratar alguém para dar assistência a esse arqueólogo. Como podes ver, todas as moedas têem duas faces, e não se pode exigir compromissos e palavras a quem é constantemente vítima dessas faltas de compromisso por parte das empresas.

E já que abordaste a questão de te tererm abandonado o trabalho nas mãos, e teres de andar a "tapar" as brechas que ficaram abertas nesses trabalhos, se queres a minha opinião sincera, tu próprio estarás possivelmente a contribuir para o agravar das condições que nos são oferecidas, e passo-te a explicar: é que se calhar o colega que te abandonou o trabalho terá pedido um aumento á empresa, ou simplesmente que lhe arranjassem um trabalho mais próximo da área de residência, ou uma casa com melhores condições (sei lá), e a empresa ter-lhe-á negado esse pedido, por uma simples razão: sabiam que se ele fosse embora, alguém haveria de "tapar" o buraco (foste tu!), e entretanto surgiria sempre alguém "desempregado" que não se importa de pegar num trabalho a meio.

A meu ver esta é uma situação ingrata para todos, e que não tem solução possível enquanto não houver um verdadeiro contrato de trabalho entre a entidade empregadora, e (pelo menos) o arqueólogo que dirige os trabalhos.

A meu ver, nem IGESPAR, nem Ordem, nem Sindicato podem resolver nada, porque não é nas instituições que reside a mudança, mas sim nas pessoas, sejam elas os donos das empresas , ou os trabalhadores.

Quanto a esta questão que colocaste, "Onde está o gosto pela protecção do património?", não a coloques a quem passa os dias ao sol e á chuva, a comer pó e lama, a troco de um mísero recibo verde que nem dá direito a baixa ou subsidio de desemprego, pois as condições em que trabalhamos são a maior prova desse nosso gosto.

É verdade que existem muitos colegas que falham redondamente, e que pelo menos aparentemente, não têm gosto por aquilo que fazem. Mas pelas experiências que já passei, recuso-me a conceber a ideia de penalizar alguém que trabalha nas más condições em que a maioria de nós trabalhamos, só porque trocou um projecto por outro que lhe pareceu mais interessante ou benéfico. 

 

Um abraço

André Freitas

----- Mensagem de lnobre1980@gmail.com ---------
Data: Tue, 12 Oct 2010 13:50:53 +0100
De: luis nobre <lnobre1980@gmail.com>
Assunto: [Archport] inadmissível
Para: archport@ci.uc.pt

Caros arqueólogos
 
Quero alertar para uma situação que verifico, cada vez mais, ocorrer nos trabalhos de arqueologia e que é inadmissível.
Coloca em risco a defesa do património e dá uma péssima imagem dos arqueólogos.
Creio que este ponto deverá ser discutido nas próximas reuniões do Sindicato.
 
Como pode um arqueólogo dizer-se de arqueólogo, aceitar um trabalho e abandoná-lo a meio, deixando a obra, a empresa que o contratou e toda a equipa com problemas, só porque outra empresa lhe ofereceu mais ou simplesmente não quer estar longe da namorado(a). Será que não têm consciência que abandonar um trabalho, que aceitou, que está dependente de uns tantos trabalhadores implica custos para todos e atrasos.
 
Todos gostam muito de apelar à defesa dos nossos direitos e salários justos, o que acho muito bem, mas que penalização poderá existir para estes trabalhadores. Não deveriam eles ter também consciência dos seus deveres.
 
Ainda este Verão tive de assegurar mais de duas frentes de trabalho até que a empresa, para a qual estava a trabalhar, encontrasse um novo arqueólogo, porque um Sr. Dr., da nova geração, se lembrou de se ir embora, sem dar cavaco às tropas e sem sequer ter feito os seus relatórios.
Ainda no ano passado tive de trabalhar ao fim-de-semama para cumprir prazos de entrega, só porque outra alminha fez o mesmo.
E, ainda o mês passado, para cumulo, numas sondagens, uns colegas me pediram para mentir ao dono da empresa, porque tinham ficado em casa durante a manhã a curar a ressaca do dia anterior, numa situação em que os trabalhos já estavam muito atrasados.
 
Ora, por favor, é preciso paciência.
 
Admiram-se do país estar em crise e ainda resmungam por falta de trabalho e bons salários.
Também comecei por baixo, em 2006, a fazer estágios e a receber o salário minimo. E já tinha várias campanhas de escavação como voluntário no corpo. O que é preciso é querer trabalhar!
 
Onde está a maturidade e a ética?
Onde está o gosto pela protecção do património?
 
Cumprimentos
Um arqueólogo que às vezes tem vergonha dos seus pares
L. Nobre
 


----- Fim da mensagem de lnobre1980@gmail.com -----


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