Curta referência bibliográfica,
reflexão, e menção de um curso que começa (3ª edição) no próximo mês de Abril:
Giorgio Agamben: como podem tantos
historiadores (no sentido mais lato) e tantos filósofos ainda passar-lhe ao
lado?...
Veja-se a correlação estrutural entre jogo e rito, entre diacronia e
sincronia; nascimento e morte, crianças e larvas, e o problema da história.
Uma reflexão fundamental do filósofo italiano Giorgio Agamben a partir de (e em
homenagem a) Claude Lévi-Strauss
no:
Capítulo “O país dos brinquedos. Reflexões sobre a história e sobre o
jogo”, do livro “Enfance et Histoire. Destruction
de l’Expérience et Origine de l’Histoire”, Paris, 1989, 2ª
ed. Paris, Poche et Rivages, 2002, pp. 121-158 [edição original
italiana de 1978].
ESTE TEXTO E TODO ESTE LIVRO SÃO A MEU VER ABSOLUTAMENTE FULCRAIS.
Como pode continuar tanta gente a pensar que para se poder pensar
(filosoficamente) é preciso rever a
história da filosofia do início para o fim, como normalmente
se faz nos cursos de filosofia, isto é, começando nos pré-socráticos e
terminando na actualidade?
Como pode alguém não ter percebido ainda que o presente, os autores actuais,
REFAZEM os autores passados, que se pode ir às arrecudas, que por exemplo
Agamben é indispensável para se entender (e reformular) Benjamin, que Lacan é
indispensável para se perceber retrospectivamente toda a importância de Freud,
que sem Miller e Zizek não se entende facilmente Lacan, e por aí adiante? Que o
pensamento grego, latino, medieval num certo sentido (não erudito) só têm
interesse se vistos à luz do presente, das nossas questões mais comezinhas que
infiltram, impregnam, determinam cada uma das nossas opções, usos, hábitos,
pensamentos, sentimentos diários, actos irreflectidos, comandados pelo
inconsciente?
Todos pensamos. Todos sentimos. Todos agimos tanto quanto possível de acordo
com o que pensamos.
Mas muitos não sabem o que sabem.
E quase todos não sabemos como começar a tentar saber o que já sabemos.
Sem a consideração do inconsciente, tal como ele continua a ser problematizado,
é IMPOSSÍVEL contemporaneamente perceber seja o que for.
Sem a linha que vem de Warburg,
Benjamin, Agamben, e outros, a
história não permite alternativas (a meu ver interessantes)
ao ensinamento universitário
que vem ainda na (meritoríssima) tradição da Escola francesa de Bloch, Braudel
e outros. Sim, mas não chega.
Porto, 12.2.2012
Vítor Oliveira Jorge
FLUP/DCTP
http://sigarra.up.pt/flup/cursos_geral.FormView?P_CUR_SIGLA=FCPCC