Caros membros deste Fórum
Gostaria de aqui deixar algumas considerações e críticas, para que deixemos de ser tão fundamentalistas. Para que a Arqueologia (com letra maíscula) seja respeitada e para quando um proprietário encontrar qualquer coisa o anuncie e não destrua pois ele sabe que hoje uma descoberta arqueológica só lhe terá problemas
Ainda não é perceptível, a nível nacional, pela população em geral, a vantagem para o cidadão de muitas das investigações e trabalhos arqueológicos. Sabe-se que a única vantagem é do arqueólogo (mesmo como sabemos quando ganha tão mal).
Diz-se que qualquer pesquiza demora muito tempo e é muito cara pois a recolha arqueológica é feita por técnicos superiores, como deve ser. Mas que também muita escavação poderia ser realizada por trabalhadores menos qualificados e consequentemente, toda a operação teria um custo menor para o dono da obra. E não há tempo par realizar a investigação… não se sabendo quanto custará
Muitas Câmaras registam, na chamada carta arqueológica do concelho, qualquer sitio que tenha sofrido trabalhos de pesquiza/sondagem arqueológica, não se preocupando na maioria das vezes em verificar se os resultados permitem garantir que o sitio tem interesse.
Conto-vos um caso muito interessante e paradigmático, que me pediram (um jovem arqueólogo) que o apresentasse aqui. Assim o faço:
Num pequeno morro arenoso, que faz de cumeada entre dois rios/ribeiros, resolve-se fazer uma prospecção arqueológica, pois uma obra importante será lá localizada.
Por ser um morro conclui-se que deverá ter tido no local acampamentos populacionais (conclusão muito realista), mas esquece-se que o terreno é arenoso e que deverão ter sido depositados areias por ventos, dado que o mar não está longe. Esquece-se igualmente a história local: arqueólogo gosta de começar a escavar imediatamente e “detesta” estudar, e ter em atenção o que fontes e estudos fidedignos poderão indicar. Ou simplesmente pedir a opinião (que terá de pagar) a um historiador
Escavam-se, neste caso, 200 m2 (com um a profundidade de cerca de 1,5 m) e conclui-se que há varias camadas de sedimentos estratificados (claro, deveria haver). Durante 20 dias tria-se, côa-se e pesquiza-se e encontram-se, naturalmente, cerca de 10.000 peças líticas de quartzo e de sílex de muito pequena dimensão: isto pedrinhas na linguagem da população que com curiosidade assistia. Não se consegue, a olho nú, verificar se seriam lascas de um instrumento usado por um nosso antepassado… Em laboratório (o que custará mais uma “notas” sera continuada a investigação.
Encontram-se vestígios de terem sido realizadas fogueiras (o que é natural). Encontra-se uma moeda contemporânea de bronze (dizia-se no local que era um tostão) e fragmentos de cerâmica vidrada e não vidrada contemporânea (o local foi caminho de gentes pois ligava duas quintas do mesmo proprietário) e o local foi depósito de materiais (nomeadamente a cerca de 100 metros há velhos materiais ferrosos depositados)
Elaborado um relatório preliminar pela empresa que foi sub-contratada para fazer este trabalho, nele não são mencionadas as covas das fogueiras (afinal não tem importância). Não eram dos “túrdulos” que Jorge Alarcão fixa naquela região…
O proprietário da obra pagou/pagará uma “nota” por este resultado que se poderia ter obtido por mera observação visual.
Mas o problema é o que vem daqui para o futuro. Os serviços de arqueologia da Câmara colocam uma bolinha no mapa do concelho e faz uma ficha com o mesmo numero que aparece na bolinha. E agora quem queira mover terras para construção, ou para agriculturar, tem que pagar a um arqueológo para acompanhar os seus trabalhos pois poderão ser encontrados mais covas de fogueiras e mais moedas “contemporâneas”.
Assim ninguém vai querer fazer nada no local e a arqueologia fica muito mal vista.
Cumprimentos
Ricardo Charters d’Azevedo
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