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[Archport] "O mercado das peças de arte arqueológicas é um regabofe"

To :   <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] "O mercado das peças de arte arqueológicas é um regabofe"
From :   "Paulo Monteiro" <pmonteiro@ntasa.pt>
Date :   Fri, 13 May 2011 02:43:58 +0100

Um pouco desfigurado pelo online mas cá está, vale a pena ler.. e se são fantásticas, não só a história da percentagem das peças genuinamente falsas, como também a nóvel definição de “peças arqueológicas”.

 

 

Arte falsa chega à Câmara de Abrantes

Diário de Notícias, 13/05/2011

 

A Câmara de Abrantes vai investir 13 milhões de euros num museu para acolher a colecção de arte da Fundação Ernesto Lourenço Estrada, Filhos. O projecto, com impacto arquitectónico na cidade, arrancou em 2007, depois de celebrado um protocolo entre a Fundação e a autarquia. Mas o director do Museu Nacional de Arqueologia (MNA), Luís Raposo, garante que a colecção contém peças falsas, algumas delas adquiridas a Joaquim Pessoa.

Tal como a colecção de Pessoa, também a colecção da Fundação Estrada se estende pelos períodos pré e proto-históricos. Ambos garantem que as suas peças foram encontradas em território nacional e espelham a riqueza arqueológica do Sudoeste peninsular.

Contudo, as dúvidas apontadas à colecção vendida ao BPN por Joaquim Pessoa são as mesmas que Luís Raposo levanta relativamente às peças da fundação: "Algumas devem ser verdadeiras, embora tenha dúvidas quanto à legalidade da proveniência. Outras são falsas ou de autenticidade muito duvidosa", disse ao DN, sublinhando: "Admito que na colecção Estrada haja uma maior percentagem de peças autênticas do que na colecção do BPN."

Contactada pelo DN, a vereadora da Câmara de Abrantes Isilda Jana admite que o protocolo com a fundação foi o que impulsionou o projecto do novo Museu Ibérico de Arqueologia (MAAI). Quanto à existência de peças falsas na colecção Estrada, admite: "É evidente que existem peças falsas. São cerca de 5000, adquiridas de diversos modos, e existem de certeza falsas. Todos o sabemos. Mas as verdadeiras são muito mais."

O projecto, avaliado em 13 milhões de euros, em parte financiado por fundos públicos, está em marcha. "Contamos lançar o concurso na 2.ª quinzena de Junho", adiantou Isilda Jana.

E justifica-se? Para Luís Raposo, não. "Eu diria que não se gastasse dinheiros públicos nesse tipo de museus, com essas colecções." E explicou: "Como foram solicitados financiamentos públicos para o projecto, foi-nos pedido um parecer. Dissemos que uma parte das peças não era verdadeira, outra era duvidosa e uma terceira parte poderia ser verdadeira, mas púnhamos reservas quanto à legalidade da origem."

Isilda Jana contesta: "Não tenho conhecimento de parecer nenhum do MNA sobre a construção do MIAA. O director do MNA efectivamente não conhece a colecção." João Estrada, presidente da fundação, contactado pelo DN, recusou comentar, frisando que considerações sobre a genuinidade da arte são para especialistas.

 

O conjunto de artefactos arqueológicos vendido por Joaquim Pessoa ao BPN, segundo apurou o DN, é constituído por 176 peças de arte pré-histórica, alegadamente proveniente de diversos achados arqueológicos em território português, com origens entre os 4.º milénio e o 2.º milénio antes de Cristo. As peças integram uma colecção única denominada "O Culto da Deusa". Esse espólio é constituído, designadamente, por 107 deusas-mãe, 18 peças de ourivesaria e joalharia e ainda uma cabeça de Zeus de bronze, 1 xorca de bronze, 1 vaso canopo egípcio de alabastro, entre outras. Segundo o arqueólogo António Cavaleiro Paixão, a maior parte das peças foi encontrada em território alentejano, nas décadas de 1950 e de 1980.

 

http://www.dn.pt/bolsa/interior.aspx?content_id=1850880&page=-1

 

 

Poeta e coleccionador de arte
Denúncia Joaquim Pessoa

"O mercado das peças de arte arqueológicas é um regabofe"

por LICÍNIO LIMA

P: Para o director do Museu Nacional de Arqueologia (MNA), a colecção que vendeu ao BPN tem um valor arqueológico nulo...

As afirmações infelizes que o dr. Luís Raposo fez em relação à colecção demonstram que ele não é um arqueólogo, mas um funcionário público da arqueologia. E daí o MNA estar no marasmo em que está há vários anos, sobretudo desde que é director.

P: Desvaloriza a apreciação do director do MNA?

Ele nunca se interessou por ver as peças, ao contrário de outros directores de museus. Só Luís Raposo achou que não valia a pena, que não tinha tempo.

P: Mas viu imagens da colecção...

A única coisa que viu foram fotografias que lhe mostrei. Quando as viu ficou tão entusiasmado que me convidou para fazer uma palestra no MNA. Convidar-me-ia se considerasse as peças falsas?

P: O director diz que baseia a sua opinião no relatório de uma conservadora do MNA...

A conservadora é outra funcionária pública da arqueologia. Tem medo até da própria sombra. Se querem dizer coisas nos jornais, que digam, por exemplo, como aconteceu com essa conservadora, que o MNA comprou peças de ouro a uma senhora, pretensamente achadas numa herdade do Alentejo, e depois veio a saber-se que foram roubadas em Espanha.

P: Mas porque não confia no parecer de uma conservadora?

Quis oferecer ao MNA seis peças de ourivesaria, das quais não constam paralelo na sala do tesouro. Essas peças representavam quase três quilos de ouro. Falei com a conservadora dizendo que queria fazer a doação. Não obtive resposta até hoje. Resolveu, por ela, não aceitar... e não acontece nada a esta funcionária pública que prejudicou o MNA em pelo menos 10 milhões de euros?

P: O MNA tem peças que não foram achadas?

Se pegar nos catálogos de ourivesaria, verifica que na sala do tesouro há três ou quatro, das mais insignificantes, que foram achadas. As outras foram compradas a ourives e a coleccionadores particulares. E algumas não são mais do que fragmentos. A pergunta é pertinente: então, onde estão as coisas achadas pelos arqueólogos? Onde estão? Ou só os particulares acham peças de ouro? Não me parece credível. Mas quero ressalvar que há arqueólogos muito sérios.

P: Há quanto tempo não se acha nada em Portugal?

A primeira compra de ourivesaria no MNA foi feita pelo director Leite de Vasconcelos, em finais do século XIX, e depois nada mais se achou. Ou seja, em mais de 110 de anos, os arqueólogos portugueses não acham peças de ouro?

P: Não acham mesmo?

Se calhar acham, mas onde estão? Quando se usavam mulas e arados para remover as terras, achavam-se peças de ouro. E agora, nas escavações dos arqueólogos, não se acham peças de ouro? Toda a gente sabe do regabofe que houve de venda de peças a particulares durante muitos anos.

P: O País tem sido muito escavado...

O País foi retalhado desde os tempos de Cavaco Silva - são milhares de quilómetros de estradas. Não se acharam peças? Acharam-se? Onde foram entregues? As obras têm de ser acompanhadas por empresas de impacto arqueológico. Mas não se sabe se foram encontradas algumas peças.

P: Há relatórios das escavações?

Escolha uma entre as várias escavações realizadas em Portugal nos últimos anos e veja se consegue um relatório do que foi achado. É tudo muito abafado. Houve algum achado durante as obras do Chiado, em Lisboa, depois do incêndio em 1988? Ficou a saber-se que no local existiu uma igreja bizantina e não acredito que nada tivesse sido encontrado. Se foi encontrado, onde está? Porque é que nos museus há sobretudo cacos e nos coleccionadores particulares vêem-se peças completas?

P: Há um mercado negro na arqueologia?

Há muitas peças que são achadas cá, vão para Espanha e depois voltam... Ando há 36 anos nisto e tenho autoridade para contar histórias de peças encontradas por arqueólogos e postas no mercado. Eu sei bem o que se passa...

P: Os autores que contactou para emitir pareceres sobre a sua colecção vendida ao BPN aceitam a opinião do director do MNA?

Um deles, Castro Nunes, confrontou o dr. Raposo, que lhe disse taxativamente: "Eu não tinha opinião. Eu disse o que tinha de dizer."

P: Está a falar de pressões?

Mas pressionado por quem? Por aqueles que têm medo de ser atingidos por esta coisa? Eventual- mente até já conheciam as peças, porque foram eles que as introduziram no mercado? Há aqui um medo terrível, não só da minha colecção, mas de todos os coleccionadores particulares.

P: A sua colecção é toda autêntica?

É toda autêntica. Não são peças arqueológicas, é preciso que isto seja dito. São peças antigas de arte móvel e foram todas encontradas em contexto português. O que se passa com a minha colecção é o mesmo que se passa com as peças da sala do tesouro do MNA. Eles também andam a comprar a populares e a feirantes. Portanto, não venham com a história do contexto arqueológico, senão acabem já, mas já, com a sala do tesouro. Tudo aquilo está descontextualizado.

P: Considera justo o negócio que fez com o BPN?

Só não foi justo porque as peças valem muito mais. Mas já manifestei a minha intenção de readquirir a colecção.”

 

http://www.dn.pt/bolsa/interior.aspx?content_id=1850924&page=-1

 

 

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