Re: [Archport] Crestuma 2011, Arqueologia

[António Manuel Silva <amspsilva@hotmail.com>]

 
Muito agradecemos ao Doutor Carlos Fabião pela magistral lição com que esclareceu, e cabalmente encerrou, aparentemente, a dúvida de um dos assinantes da nossa lista.
É por estas e outras assim que a Archport vale também a pena.
 
De facto o "castelo de Crestuma", cuja escavação se iniciou em 2010, tem vestígios de uma ocupação que, pelos dados preliminares - decorrentes sobretudo dos vidros e das sigillatas, mas também das cerâmicas cinzentas tardias - se estenderá desde os séculos IV-V até ao VII, estando ainda em aberto a possibilidade de uma reocupação (ou prolongamento da sua utilização) pelos séculos IX-X. É um sítio arqueológico muito interessante, que propomos possa ter sido, numa primeira interpretação, uma zona de atracagem de embarcações defendida por um posto de vigia/fortificação no topo da elevação.
 
Os resultados da 1ª campanha de trabalhos arqueológicos (2010) serão proximamente apresentados no Colóquio Terra de Santa Maria: espaços de cultura em debate no 10º aniversário da  Revista Villa da Feira (17 e 18 de Junho), como pode ver-se em notícia de há poucos dias na Archport; e também num outro evento que terá lugar em Vila Nova de Gaia algumas semanas depois, e que brevemente será anunciado.

António Manuel S. P. Silva
J. A. Gonçalves Guimarães
 
 
 
> From: cfabiao@fl.ul.pt
> To: trainzeiro@gmail.com; ricardo.charters@gmail.com
> Date: Tue, 17 May 2011 22:25:02 +0100
> CC: archport@ci.uc.pt
> Subject: Re: [Archport] Crestuma 2011, Arqueologia
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> Na Archport há por vezes uns posts bizarros…
> Alguns, nem merecem comentários, outros, por aquilo que revelam, merecem.
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> Dizer-se de um determinado lugar que tem uma ocupação “tardo-antiga” ou da Antiguidade Tardia significa que o local terá sido ocupado / utilizado num amplo lapso de tempo que se estende desde o séc. III ao VII d.C., ou seja, é como dizer que um determinado sítio arqueológico tem uma ocupação do Neolítico ou do Calcolítico ou da Idade do Bronze.
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> O conceito de Antiguidade Tardia (ou Late Antiquity) fez o seu percurso, por vezes controverso, desde a publicação do livro fundamental de Peter Brown The World of Late Antiquity, Londres: Thames & Hudson, 1971. O conceito destinava-se a substituir, com vantagens, um conjunto de vários outros de mais complexos e conotados contornos, “decadência romana”, “Baixo-império romano”, “época bárbara”, etc., e tem sido criticado desde então por alegadamente introduzir uma noção de relativismo que varria o conceito neo-Humanista de “Decadência de Roma”, ou seja, de decadência da “Civilização”, reabilitando as “Dark Ages”. O conceito faz afinal um percurso análogo ao que a historiografia francesa na mesma época fez relativamente ao conceito tradicional de Idade Média, também ele um conceito do Humanismo. No caso francês manteve-se o conceito, a designação, mudou a perspectiva sobre a época.
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> No Caso concreto da Península Ibérica o conceito de Antiguidade Tardia faz todo o sentido quando aplicado a realidades do séc. V ao VII. Como se chamariam os sítios arqueológicos ou as ocupações registadas nesses sítios?... Suevos (nos sécs. V e VI) se fossem no Noroeste?... Tardo-romano-hispanos nas outras áreas, para a mesma época?... Visigodos a partir dos meados do séc. VI? Bizantinos se estivessem na área levantina no séc. VI?...
> Seria uma bela confusão. E o que se diria de um local, como provavelmente será o caso deste de Gaia, com uma ocupação que se estendesse do séc. IV ao VII? Um sítio com ocupação tardo-romana-suévico-visigótica???... E seria visível no registo material estas tão interessantes “nuances”?... E seria pertinente aplicar uma tal terminologia?
> É justamente por vícios de raciocínio deste tipo que temos tantos sítios arqueológicos em Portugal que terminam no séc. V, seguindo-se um longo período em que o território e suas gentes, não existem pura e simplesmente.
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> No meu modesto entender, andou bem quem optou por designar como ocupação tardo-antiga uma realidade arqueológica que, para qualquer estudioso interessado nestes períodos, imediatamente reconhece e identifica.Aliás já existem dados bem interessantes para a zona de Gaia, publicados desde 1995 por J. A. Gonçalves Guimarães, contextos arqueológicos com as séries tardias de Clara D, Sigillata foceense e ânforas orientais, por exemplo.
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> Como estamos em época de Feira do Livro (pelo menos em Lisboa) aconselho a que na secção de livros usados se procure o de Peter Brown. Foi traduzido por António Gonçalves Mattoso (que os mais velhos costumam associar aos maçudos compêndios obrigatórios do ensino liceal do Estado Novo, mas que traduziu notavelmente algumas notáveis obras da historiografia contemporânea, entre as quais, esta) e publicado pela Verbo, em 1972 (notem bem, no ano seguinte à publicação original) com o título O fim do mundo clássico de Marco Aurélio a Maomé. No âmbito desses mesmos livros usados poderá o leitor curioso encontrar o interessante livrinho de H.-I. Marrou Decadência romana ou Antiguidade Tardia?, editado pela Aster, em 1979, ou seja, somente dois anos depois da edição original da Seuil, Paris (que é de 1977), em igualmente muito recomendável tradução de Henrique Barrilaro Ruas.
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> Carlos Fabião
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> De: archport-bounces@ci.uc.pt [archport-bounces@ci.uc.pt] Em Nome De joão pereira [trainzeiro@gmail.com]
> Enviado: terça-feira, 17 de Maio de 2011 9:50
> Para: Ricardo Charters d'Azevedo
> Cc: archport@ci.uc.pt
> Assunto: Re: [Archport] Crestuma 2011, Arqueologia
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> Interessante, mas o que é uma ocupação tardo-antiga? Obrigado, JP
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> No dia 16 de Maio de 2011 20:34, Ricardo Charters d'Azevedo <ricardo.charters@gmail.com<mailto:ricardo.charters@gmail.com>> escreveu:
> Recebi esta mensagem que me parece interessante para este Forum:
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> 2ª Campanha de Escavações Arqueológicas no Castelo de Crestuma (Vila Nova de Gaia).
> Admissão de colaboradores (estudantes)
>
>
> Na sequência da campanha de trabalhos arqueológicos realizada no Castelo de Crestuma em 2010, que confirmou a importante ocupação tardo-antiga e da Alta Idade Média deste sítio arqueológico, terá lugar este ano nova fase de escavações, para a qual se convidam estudantes de Arqueologia e áreas afins, estando as candidaturas abertas até ao final de Junho.
>
> Os trabalhos vão decorrer, no que se refere à participação de estudantes, entre os dias 8 e 26 de Agosto, apenas da parte da manhã (8:30-13:00 horas) podendo os interessados candidatar-se a um período mínimo de 10 dias.
>
> Os colaboradores estudantes receberão um pequeno subsídio diário e terão direito a seguro de acidentes pessoais, para além do habitual certificado de participação. O campo arqueológico não inclui alojamento, pelo que os participantes com residência noutros pontos do País terão de assegurar a sua estadia.
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> Mais informações e bibliografia sobre o sítio arqueológico e os trabalhos em curso podem ser obtidas em http://confrariaqueirosiana.blogspot.com<http://confrariaqueirosiana.blogspot.com/>. A ficha de candidatura e outras informações poderão ser pedidas pelo endereço queirosiana@gmail.com<mailto:queirosiana@gmail.com> ou pelo telefone 968 193 238.
>
> O projecto é desenvolvido pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR/Confraria Queirosiana) e tem o apoio da empresa Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM.
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> J. A. Gonçalves Guimarães
> António Manuel S. P. Silva
> Coordenadores
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> Cumprimentos
> Ricardo Charters d’Azevedo
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