[Archport] Destruição do património em Castelo Branco
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Domingo, Junho 26, 2011
A "CASA DE CHÁ" DO JARDIM E A ARQUEOLOGIA DA CIDADE
Começaram as obras na casa que está ligada ao Jardim do Paço. O
edifício albergou desde a década de oitenta do século passado o Museu
Académico interessantíssima colecção da vida académica da cidade que
entretanto desapareceu da vista. Ao que sabemos, ainda agora, quando
alguém da Romagem de Saudade perguntou pelo seu espólio teve como
resposta um cúmplice silêncio. A casa estava em estado de completo
abandono desde as últimas obras e intervenções realizadas em em 2002
no jardim quando este hino à Natureza deixou de ser verde natural para
se transformar numa nave de reboco e de cimento pintado de branco.
Nessa ocasião desobstruíram-se alguns dos arcos do passadiço dando
outra leitura a esta zona do complexo monumental. Na casa agora em
obras vai surgir a nova bilheteira, o centro de interpretação do
jardim e uma casa de chá.
«A casa de chá é uma invenção do século XX. Não há nenhum documento
histórico que aluda a essa função. E mesmo as parcas referências ao
assunto revelam mais uma intenção de quem as proferiu do que uma
realidade histórica».
Realmente mais um café, para quê? Para fazer concorrência directa aos
da zona histórica? Aí realmente a palavra chá assume outros
significados. O produto não tem lá muita saída a não ser o chá de
limão e o de camomila às vezes. Quando se vai tomar um chazinho
geralmente isso diz respeito à reunião e à camaradagem duma bucha com
queijo e chouriço cá da terra, acompanhada de "chá" tinto ou branco.
Mas isso são coisas populares, de cá, nossas, pouco interessam para
quem pensa isto do turismo e do desenvolvimento económico das zona
antiga da cidade... Os turistas o que querem é chá. Em duas visitas
que recentemente fizemos ao jardim deu para constatar que as obras,
que não estão identificadas quanto ao seu promotor, não estavam a ter
nenhum acompanhamento ou monitorização, nomeadamente arqueológico. A
não ser que os trabalhadores que estavam com a picareta a remexer a
terra e com o camartelo a destruir os muros sejam os técnicos do
património presentes. Não me parece. O muro histórico que ligava a
casa ao jardim alagado e do qual há fotografias antigas está a ser
demolido sem se recolherem, como nos disseram quaisquer informações
dos seus rebocos ou estuques e tentar perceber o seu desenvolvimento
face à arquitectura do local . A casa tem vãos chanfrados o que,
parece-nos, denota poder ser uma construção muito mais antiga que o
jardim setecentista. Já há cantarias trabalhadas pelo chão sem
qualquer contextualização.
Apenas uma pergunta não é obrigatório, segundo a Lei, o acompanhamento
arqueológico desta empreitada?
Então onde é que ele está? Não esqueçam que sempre se podem vir a
encontrar vestígios das folhas dos chazinhos bebidos pelos senhores
bispos em amenos finais de tarde. Enfim. Uma pergunta, o Jardim de
Castelo Branco é monumento Nacional não é?
PS- Face ao observado, em companhia de um amigo, dirigi-me à Delegação
de Cultura do Centro de Castelo Branco. Aí fomos prontamente recebidos
por um diligente funcionário que nos informou, depois de nos mostrar o
despacho, que, efectivamente, estas obras têm de ter acompanhamento
arqueológico. Subentende-se que esses acompanhamento é efectuado desde
o começo das mesmas ou não será assim?
O Albicastrense