De:
francisco jose paixao [mailto:fjagp@hotmail.com] Carta
aberta ao Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Beja Exmo.
Sr. Dr. Jorge Pulido Valente, As
notícias recentes que deram conta da vontade da Câmara Municipal de Beja de
reduzir o seu contributo financeiro para o orçamento do Museu Regional de Beja
(ou Museu Rainha Dona Leonor) – e que, na prática, o inviabilizam – entristecem
quem conhece aquele espaço museológico e com ele cooperou na última década. Numa
pesquisa rápida, verifico que o espólio ali guardado já foi útil à revista que
dirijo em quase um dezena de ocasiões. Em Beja, concentram-se importantes
núcleos romanos e islâmicos que testemunham o papel importante da cidade ao
longo dos séculos. Ali está exposto também o único núcleo visigótico do país,
tema de uma reportagem em Abril de 2008. Vagueando pelas colecções, detemo-nos
facilmente no resultado de trabalhos prolíferos de pioneiros como Leite
Vasconcelos, Abel Viana ou Estácio da Veiga. Cada um dos 15 mil visitantes
anuais do Museu tem aliás dois roteiros possíveis: o dos artefactos, que conta
um pouco da história da ocupação humana em Portugal; e o dos pioneiros da
arqueologia, que testemunha a evolução da prática desta disciplina no último
século. Tratando-se
de um museu regional e não municipal, o seu orçamento é, como sabe,
comparticipado pelas autarquias distritais, cabendo a Beja a maior fatia. Não
deixa de ser irónico que o Exmo. Sr. presidente da autarquia de Beja, à data em
que era presidente da Câmara Municipal de Mértola, tenha congelado as
comparticipações de Mértola para o Museu, alegando que o mesmo não era regional
mas sim municipal; eleito em 2009 para a autarquia bejense, admitiu
recentemente que lhe parecia mais adequado que fosse a Comunidade
Intermunicipal do Baixo Alentejo a gerir o espaço. E entretanto a autarquia que
V. Ex.ª superiormente dirige votou contra o orçamento distrital de 2012,
alegando incapacidade de o cumprir. O Exmo.
Sr. Presidente da Câmara Municipal de Beja tem dito regularmente que a
comparticipação da autarquia para o Museu é impossível de suportar, pois não
existem verbas que permitam custear esse valor. Permita-me V. Ex.ª que o
auxilie nesse ponto. Consultando
o portal de contratos públicos online (www.base.gov.pt/default.htm),
verifica-se que o município de Beja realizou, de Ora, os
cerca de 50 mil euros anuais que a autarquia não consegue comparticipar para o
Museu poderão porventura ser comparados com os 29.900 euros consagrados aos
serviços técnicos para a produção dos eventos da BejaBrava e Beja Kids
(Setembro de 2011) ou, pelo menos, poder-se-á repensar a oportunidades de
investir 15.500 para animações infantis no mesmo evento (Outubro de 2011), aos
quais se juntam mais 18.800 para o mesmo fim (Outubro de 2011). Bem sei que o
melhor do mundo são as crianças, mas haverá limites para a abrangência da
puericultura. Estou
igualmente certo que V. Ex.ª, criativo no seu quotidiano, poderá igualmente
dispensar os 6.500 euros investidos em Criatividade de Eventos (Agosto de 2011)
ou os 7.300 gastos na impressão da revista do município (Junho de 2011). Em
alternativa, deixando as festas infantis e a criatividade de parte, poderá V.
Ex.ª. porventura apontar baterias ao vinho. Segundo o mesmo portal, o Beja Wine
Night de 2011 consumiu 42.000 euros (Junho 2011), um pouco menos do que os 74.950
do Beja Wine Night de 2010 (Julho 2010). Em alternativa, temos sempre os 55.800
euros do evento Vinipax (Outubro 2010), um valor surpreendentemente parecido
com o que não pode ser dedicado ao Museu. Se nem
no vinho pudermos cortar, podemos eventualmente reduzir o orçamento para o
afecto. Penso concretamente nos 74.900 euros dedicados ao importante Festival
do Amor (Maio de 2011) que, a serem alocados para uma área menos apaixonada,
resolveriam o problema do Museu para o próximo ano e meio. Beja sofreria
bastante – estou certo – com a redução do impacte do seu festival amoroso, mas,
em alternativa, manteria expostos durante todo o ano os artefactos que conduzem
a maioria dos visitantes à cidade. Creia-me
desejoso de continuar a explorar a lista de ajustes directos do município em
busca de soluções que possam poupar o Museu Regional de Beja. Custar-me-ia
muito que o Museu fosse encerrado mais de um século depois da sua fundação...
Sobretudo quando o actual presidente da autarquia é licenciado em História. Com os
melhores cumprimentos, Gonçalo
Pereira Director da National Geographic - Portugal In Diário do Alentejo de 2 de Março de 2012 |
Mensagem anterior por data: [Archport] Consulta integral da Tese de doutoramento em dois volumes: Ilhas de Arqueologia.O quotidiano e a civilização material na Madeira e Açores (séculos XV-XVIII | Próxima mensagem por data: [Archport] Estudos Arqueológicos de Oeiras 18 (2010/2011) |
Mensagem anterior por assunto: [Archport] A Sistemas do Futuro arrecadou o "Bronze Web'Art Special Prize" atribuído no FIAMP 2012 com o Projeto "Ludi Saeculares" | Próxima mensagem por assunto: [Archport] A situação dos colegas, do Museu e do Parque Arqueológico do Vale do Côa... |